MiCandeloro 25/06/2015
Insanamente surpreendente!
Um homem acorda, sozinho, desorientado, machucado, cheio de dores e no meio do mato. Sem saber onde estava e qual era o seu nome, sai a esmo pela cidade, em busca de informações, já que nos bolsos de sua roupa não há carteira, celular ou chaves para ajudá-lo a decifrar este mistério. As pessoas que perambulam pelas ruas parecem olhá-lo de um jeito esquisito. Será que o conhecem? Será que ele cometeu um crime ou foi assaltado? Ele espera, desesperadamente, que suas lembranças retornem para deixar de se sentir tão vulnerável e indefeso, mas nada disso acontece. A única coisa que passa pela sua mente é que gosta de café (que irônico), então se dirige à cafeteria local.
Lá, confirma não ser um cliente assíduo, e recusa a sugestão de ir para o hospital. Por que isso o amedronta? Decide, então, continuar investigando, ansiando para que reconheça algum dos nomes pintados nas caixinhas de correio das casas vitorianas da região. Realmente a palavra Mackenzie lhe chama atenção, e o incomoda. Por via das dúvidas, decide ir até a casa do proprietário e confrontá-lo, quando perde os sentidos e desmaia.
Cinco dias se passaram desde que Ethan Burke, agente do Serviço Secreto, chegou à Wayward Pines, uma pequena cidade de Idaho, rodeada de montanhas e lindos pinheiros, para sondar o sumiço de outros dois colegas de trabalho.
Wayward Pines era uma cidade sinistra, que parecia ter parado no tempo. As ruas estavam sempre vazias, os moradores eram forçadamente cordiais, os computadores e telefones dos estabelecimentos comerciais pareciam ser do século passado, assim como os penteados dos cabelos das mulheres. Ethan sentia-se transportado para a década de 50.
Ainda sem um local para dormir, com fome, com frio, fedido e sem identificação ou dinheiro, sendo tratado como louco pelos médicos locais e não recebendo ajuda alguma do xerife para contatar a família, e tendo a certeza de que não encontraria os agentes federais desaparecidos, Ethan decidiu que havia chegado a hora de ir embora do vilarejo, por bem ou por mal. Porém, antes disso, contrariando todas as possibilidades lógicas, Ethan avistou Kate ao longe, em meio a uma reunião ao ar livre na vizinhança, de braço dados com um homem mais velho.
Kate era justamente uma das agentes que ele procurava. Ambos haviam sido parceiros de trabalho em Seattle, e Kate estava desaparecida fazia 15 dias, desde que havia sido designada para uma missão em Wayward Pines. Mas como era possível que Kate tivesse envelhecido anos, casado com outro homem, e seus cabelos e o seu rosto sustentassem a marca do tempo, se há menos de duas semanas ela tinha 36 anos?
Será que Ethan estava mesmo ficando louco? Que segredos aquela cidadezinha estranha escondia por trás dos sorrisos alegres dos seus habitantes?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
O meu interesse por Pines surgiu quando assisti ao primeiro episódio do seriado, baseado na obra de Blake Crouch e intitulado como Wayward Pines, nome do pequeno vilarejo onde Ethan vai parar depois de sofrer um acidente de trânsito. A série prometia ser uma mistura tensa de Lost com os filmes de Stephen King, e o episódio piloto cumpriu o seu papel me deixando completamente envolvida na trama, criando milhares de caraminholas na cabeça, na tentativa de matar as charadas que nos foram apresentadas.
Quando comecei a ler o livro, foi impossível não traçar comparativos entre as diferentes mídias. Apesar de o seriado aparentar estar se mantendo relativamente fiel à obra, é natural que tenha feito pequenas alterações, principalmente relacionadas às características dos personagens, algo que, particularmente, me deixa doida.
É óbvio que por ter visto a série antes, captei o aspecto visual que ela nos transmitiu, fazendo com que eu lesse o livro imaginando exatamente o cenário que "já conheço" e visualizando os personagens da forma com a qual os "conheci primeiramente". De certo modo, isso me atrapalhou um pouco, já que Pope não é negro, mas sim, um homem forte, alto e loiro bem claro e, ao contrário do que a TV nos mostra, Kate é velha e tem cabelos brancos, ao invés de ser um belíssima jovem ruiva.
Apesar desses detalhes que me incomodaram, porque eu não entendo por qual motivo os produtores têm a necessidade de alterar características básicas do enredo original, gostei bastante da escrita de Blake, em terceira pessoa, alternando o tempo verbal de acordo com o tempo da narrativa, ora no passado, ora no presente. Seu texto é bem direto, sem meandros, e a história escrita nos possibilitou conhecer mais a fundo a personalidade e os dramas pelos quais passam cada um dos personagens, em especial o nosso protagonista.
Ethan é um homem que por fora se mostra duro e valente, mas que carrega inúmeras cicatrizes no corpo e é assombrado por fantasmas do passado, da época em que teve que lutar na guerra e quase foi abatido. Casado e com um filho pequeno, mal tinha tempo de curtir a família, de tanto que trabalhava. Isso, naturalmente, criou um atrito no seu casamento. Entretanto, a perspectiva de que nunca mais os veria novamente se tornou a motivação de Burke para fugir de Pines. Porém, mal sabia ele que, uma vez em Wayward, se tornava impossível de escapar.
Penso que se eu não tivesse visto a série, detectando as pistas que quiseram nos dar, talvez pudesse ter certa dificuldade de me ambientar no contexto da trama, já que ela é cheia de lacunas de propósito, ou, quem sabe, teria acreditado que Ethan é mesmo maluco e caísse mais facilmente nas armadilhas do autor. Seria interessante. Mas, isso nunca vou saber, já que tive uma primeira experiência com o roteiro antes.
Falando na trama de Pines, tenho um fascínio particular por todas as histórias que abordam as cidades de "mentira", com seus habitantes que mais se parecem com fantoches, que aparentam conspirar para aprisionar os novos visitantes ou deixá-los completamente malucos. Gosto dessa crítica que costuma existir por trás a respeito das "cidades de papel", das vidas alienadas que vivemos e do quanto a sociedade nos encarcera. Pines muito me lembrou do filme Mulheres Perfeitas, com Nicole Kidman, mas com uma dose extra de emoção, suspense e muita tensão.
Entretanto, a história vai muito além deste panorama. Enquanto lia, naturalmente, muitas dúvidas foram formuladas e, quanto mais me aproximava do final, com mais receio eu ficava de que nada me fosse respondido. Se vocês são curiosos feito eu, se controlem, porque a elucidação das questões se dá apenas nas últimas páginas.
Eu estava pronta para dar quatro corações ao livro. Apesar de ter gostado da proposta, lá pelas tantas, me incomodei com as incansáveis cenas de perseguição e de ação contidas no texto, da metade para o final da obra. Não são ruins, ao contrário, Blake as descreveu fabulosamente. O problema sou eu, que prefiro histórias muito mais mentais do que operacionais. Porém, confesso que o autor conseguiu me dar uma bela rasteira, que me fez cair com a bunda no chão quando, finalmente, descobri o que havia por trás do mistério de Pines.
Comecei a ler a obra jurando se tratar de um suspense policial, quando me deparo com uma elaborada distopia de ficção científica com todos os elementos que tanto amo. Por essa eu realmente não esperava! E é óbvio, por se tratar de uma trilogia, concluí a leitura desesperada para saber o que vai acontecer em seguida. Espero que lancem a continuação em breve, só digo isso.
E para quem ficou com vontade de assistir a Wayward Pines, confiram o trailer abaixo e embarquem nessa viagem que os levará ao limite da insanidade.
site: http://www.recantodami.com/