vitorconatus 06/12/2023
Samuel Hayakawa disse que uma das grandes funções da literatura é «habilitar-nos a sentir a vida como outros a sentiram, mesmo que tenham vivido muito distantes de nós, no tempo e no espaço». Não sei se todo autor tem isso na consciência enquanto escreve um romance, mas chutaria que Ian McEwan tem.
«A balada de Adam Henry» foi escrito com muita sensibilidade e cuidado com a construção dos personagens, especialmente Fiona. Uma leitura desatenta talvez interprete diversos trechos do texto como desnecessários, descartáveis, mas com um pouco de atenção vemos que estão ali para que possamos entender de onde vem a moralidade da Fiona, por que ela é tão rígida com relação a regras e por que ela funciona como juíza mesmo em contextos que lhe pediam para ser apenas esposa, filha ou simplesmente pessoa mesmo.
Adam também foi muito bem desenvolvido. Ele é o oposto da Fiona, jovem, cheio de vitalidade, curiosidade, inocência e, por tudo isso junto, bastante vulnerável. Não é difícil entender o motivo pelo qual a relação deles teve o desfecho que teve. Pode ser difícil aceitar esse desfecho, mas entender, não.
E o fim do livro, bom, entendo que foi mais um artifício do autor para nos sentirmos como Fiona. A sensação de interrupção de algo que mal tinha começado, os pensamentos «mas o que acontece agora?», «não devia terminar assim!» não são justamente os que ela poderia ter naquele momento? Eu senti o desconforto, mas me permiti ficar com ele. Assim é a vida, bonita, intensa, dolorosa e efêmera. Imprevisivelmente efêmera. Ou previsivelmente, em alguns casos? Acho que nunca teremos certeza.
Fica a avaliação:
Impacto subjetivo: 1,0/1,5 ??
Escrita: 1,0/1,5 ??
Narrativa: 1,0/1,0 ??
Personagens: 1,0/1,0 ??