Lina DC 23/02/2015Sutil e impactante!Conforme a sinopse explica, o livro tem foco em dois personagens completamente diferentes: a juíza Fiona Maye, uma mulher de quase 60 anos de idade que está passando por um momento difícil em sua vida pessoal e Adam Henry, um jovem de 17 anos que encontra-se muito doente e irá falecer se não receber uma transfusão sanguínea.
Fiona recebe uma notícia inesperada de seu marido: ele está atraído por outra mulher e quer ter um caso com ela, mas ao mesmo tempo quer permanecer casado. Segundo Jack (seu marido há mais de três décadas), ele quer explorar a paixão, inexistente a anos no casamento. Chocada com a proposta, Fiona apresenta seus pensamentos divididos entre o bem-estar das crianças que aparecem em seu tribunal e seus sentimentos sobre o seu marido e casamento.
O autor mescla muito bem esses dois polos da vida de Fiona. Narrado em terceira pessoa, os parágrafos intercalam os pensamentos pessoais e os relatos de casos terríveis e tristes que ela enfrenta diariamente. A composição de Fiona é tocante e ao mesmo tempo muito real. Ela representa diversas mulheres que possuem um casamento duradouro, mas não necessariamente feliz. Sim, existem bons momentos, companheirismo e até mesmo afeição entre eles, mas isso é suficiente?
Um dos casos acaba se destacando: Adam, um jovem criativo, sensível, carismático e extremamente inteligente. Por questões religiosas, seus pais recusam a transfusão de sangue que pode salvar a vida de Adam.
Fiona decide conhecê-lo no hospital para decidir o seu destino. E um único encontro é capaz de marcar os dois.
A interação é singela e ao mesmo tempo impactante. Adam consegue trazer um pouco de luz na vida de Fiona e os dois começam a influenciar a vida um do outro sem ao mesmo perceber.
Uma das qualidades do livro é a sutileza para discutir assuntos tão polêmicos como religião e casamento. São assuntos cotidianos que permitem a todos uma identificação imediata e até mesmo uma conexão com os personagens.
Adam é jovem e de certa forma inocente, pois não conhece muito além do que foi apresentado a ele. Fiona é uma mulher mais madura, mas ao mesmo tempo inocente. Acredita de coração nas escolhas decentes, que visam o melhor para as crianças. Sua preocupação é o bem-estar dos jovens que passam por seu tribunal. Sua inocência transfere-se também para a vida pessoal, a confiança plena no marido até o momento de sua revelação. É a partir desse momento que ocorre o questionamento do seu casamento.
Não há um ataque as escolhas religiosas ou pessoais. São fornecidas informações para que o leitor tenha capacidade de realizar suas próprias conclusões.
A escrita é dinâmica e fluida, mas seu conteúdo é arrebatador.
"Ergui minha cruz de madeira e a arrastei junto ao rio.
Eu era jovem e tolo, e perturbado pela ideia
De que a penitência era uma asneira e os encargos coisa de idiota.
Mas aos domingos me diziam para seguir todas as regras..." (p. 164)
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