Tami 24/07/2014Resenha publicada no blog Gaveta Abandonada.
Escrever um livro com 13 anos não é uma tarefa para qualquer um. Ser autista com sérias dificuldades de comunicação verbal e escrever um livro aos 13 anos é praticamente impossível. Só por isso esse livro já deveria ser lido. Mas ele é mais.
"... sinto uma tremenda inveja de pessoas que conseguem identificar o que seu cérebro está dizendo e ter a capacidade de agir da forma adequada. Minha mente está sempre me mandando para pequenas missões, não importa se quero realizá-las ou não. E, se não obedeço, preciso enfrentar a sensação de horror que me invade. É como se eu estivesse sendo empurrado da beira de um precipício para cair num tipo de inferno." (pág. 150)
Basicamente dividido em três partes, o livro tem seu grande foco em perguntas feitas ao autor. Coisas muitas vezes que parecem simples ou banais, mas que temos dificuldade em entender ("Por que você gosta de girar?"). Além disso, temos um belo prefácio escrito por David Mitchell e pequenos contos de Naoki.
Lindamente escrito por um pai que sempre tentou entender o filho, David Mitchell tenta nos mostrar o que é ser autista e o porque desse livro ser tão importante. Ali conseguimos sentir um pouco como é ser pai ou mãe de uma criança que parece nunca entender o que é dito. E que vai permanecer assim por um bom tempo.
A maturidade com que Naoki responde pergunta a pergunta é incrível. Não creio que com 13 anos eu poderia responder dessa forma. Inclusive, pela forma das respostas, muitos leitores duvidam que sejam realmente palavras do menino - mas eu prefiro acreditar que sejam. Para uma pessoa que - supostamente, pela doença - tem dificuldade em entender o sentimentos alheios, ele dá uma lição em muita gente. Não tenho contato com pessoas autistas, apenas do que vemos em meios de comunicação e de pessoas próximas, mas lendo conseguimos perceber todos os problemas que eles "causam" e como se sentem terríveis por isso. Conseguem imaginar a dor de uma criança que sabe que está incomodando e mesmo assim não consegue fazer nada para parar porque o seu corpo e cérebro não obedecem? Eu não consigo.
Seus contos são outro caso a parte. Eles tem uma simplicidade incrível e sempre trazem grandes lições, do tipo que vemos em O pequeno príncipe. Histórias que tem uma ou duas páginas no máximo e trazem consigo uma carga emocional que poucos conseguem colocar no papel. Não é exagero dizer que um livro apenas com contos do Naoki seria um excelente presente.
"Veja bem, para nós o autismo é normal, então não temos como saber o que os outros chamam de "normal". Porém, a partir do momento em que aprendemos a nos amar, não sei bem se faz diferença termos autismo ou não." (pág. 84)
É um livro simples e que traz muito conhecimento. Um ótimo exercício de empatia e uma grande leitura, em especial para quem tenha algum conhecido com a doença. Sem dúvida recomendo. Finalizamos a leitura com a dedução mais simples possível: amor, carinho e compreensão é tudo o que qualquer pessoa precisa, independente de como ela tenha nascido.
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