Marcus Lemos 08/09/2011
O livro bíblico de Apocalipse, no qual o livro se baseia, causa uma certa polêmica porque é capaz de gerar visões completamente diferentes. Fato é que haverá um arrebatamento, Cristo voltará e se instaurará um novo reino. Agora, o processo e desdobramentos no qual isso ocorrerá diverge completamente de uma visão para a outra (chamadas de milenismo, amilenismo pré-milenismo, pós-milenismo, preterismo e dispensacionalismo). Sou fraco em Teologia, mas o livro é visivelmente mais fraco do que eu teologicamente e biblicamente. Mas, se o que te interessa é a ficção, pode valer a pena a leitura - apesar de também ser um tanto quanto "água com açúcar".
Para alguns que creem na bíblia o livro faz sentido, pois acredita que o Apocalipse ocorrerá exatamente como LaHaye e Jenkins narram. Outros - onde eu me enquadro - acreditam que Deixados para Trás não passa de uma boa ficção no que tange aos acontecimentos dos últimos dias.
Bem, entendido isso e partindo para a resenha, o livro trabalha com dois núcleos que, visivelmente desde o início, em algum momento se encontrarão na narrativa. De um lado, um Capitão aviador, sua filha, uma chefe de serviços de bordo da Pan-Continental e o pastor de uma igreja local; do outro, um jornalista e seu editor-executivo que acabam por se envolverem com Nicolae Carpathia - um proeminente político que assume de maneira inusitada a presidência de um país europeu.
O livro é capaz de envolver o leitor pela sua capacidade de inseri-lo no drama vivido por cada um dos personagens, principalmente dado o sofrimento pela perda de amigos e familiares no arrebatamento narrado nas primeiras páginas. Após determinado momento, o arrebatamento deixa de ser o ponto central e o foco passa a ser a instalação de uma nova ordem mundial, sempre em tons conspiratórios. (Honestamente, o núcleo do jornalista Cameron Williams é o que mais me atraiu. Conspiração atrás de conspiração e pitadas de jornalismo investigativo).
Do ponto de vista da narrativa, é um tanto quanto fraca. Os autores exploram poucas detalhes e se dispõem pouco a explicarem os acontecimentos que narram. Por se tratar de uma ficção, vejo que seria importante inteirarem melhor o leitor sobre os acontecimentos que narram de modo a torná-los mais convincentes e não tão rasos, como estão no livro. Assim, os acontecimentos ficam atropelados e extremamente superficiais. É como se faltasse conhecimento ou argumentos dos próprios autores a respeito daquilo que eles contam - o que, na minha opinião, deixa a leitura um pouco pobre, pois são tratadas de maneira muito simplistas. Ex.: o livro trata de desarmamento mundial e que todos os paises devem destruir 90% de seus arsenais bélicos e doarem os 10% restantes a ONU de modo a manter a paz mundial. E é isso. Rápido e direto... talvez eu tenha aprofundado mais no assunto nessa frase do que os próprios autores. Ora, um assunto tão complexo e central na narrativa merecia um tratamento mais argumentado - como isso ocorrerá, o processo disso, as discussões e polêmicas geradas, etc etc.
Um mérito que gostaria de destacar dos autores é a capacidade de tratarem um assunto bíblico de modo que mesmo os não cristãos se interessarão pela leitura. Isso é bacana, pois conseguem expor um assunto cristão e falar do cristianismo sem serem enfadonhos e,ainda, contarem uma estória envolvente.
Enfim, se por um lado o livro é simplório teologicamente, na narrativa e descrição de detalhes, por outro, é de certo modo envolvente. Como fizeram isso eu não sei, mas creio que é pelo fascínio que existe em conhecer melhor sobre o Apocalipse; pelo envolvimento fácil com os personagens e porque, apesar das críticas que mencionei, os autores tem seus méritos. Ele deixa um gostinho na boca e te leva a correr para a leitura do segundo livro da série, mas eu não vou com tanta pressa assim.