João 13/11/2016
Desafio cumprido
"Sonho grande" retrata a ascensão de uma gigante da indústria cervejeira e não é o tipo de livro que vejo em uma livraria e imediatamente quero levar para casa. Relutei dedicar meu tempo à história de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles e encarei-o com certo preconceito no início (o saldo não foi muito positivo depois, porém também não foi de todo ruim). Por que ler um livro assim? Bom, de início foi para conseguir debater sobre ele no Grupo de Leitura. Mas também serviu para me fazer ter um outro olhar sobre questões econômicas e de mercado. E é como dizem: ler/ouvir somente o que a gente gosta não é o caminho mais rápido para construir conhecimento.
O prefácio e o primeiro capítulo do livro são extremamente maçantes. Passado esse desafio, a leitura fica um pouco melhor - um pouco. Particularmente, não gostei da exposição cronológica confusa da autora e nem do abuso de algumas expressões clichês ao longo do livro, como "sangue no olho e faca nos dentes". Fora isso, é interessante notar algumas curiosidades que circundam a vida de Jorge Paulo Lemann, considerado o homem mais rico do Brasil.
Sem dúvidas, o livro mostra um lado empreendedor interessante e com ensinamentos de como ser melhor no que se faz para superar dificuldades, por mais que elas envolvam a perda de bilhões de dólares (transações ridiculamente fora da realidade de muitos) do dia para a noite. Saber analisar o ambiente antes de entrar de cabeça em um projeto, cercar-se de pessoas boas para consolidar um objetivo em comum, adaptar-se às mudanças tecnológicas e sociais são exemplos de como os empresários retratados no livro conseguiram consolidar suas carreiras.
Há passagens que retratam abusos ocorridos dentro das empresas ("brincadeiras" entre colegas), os quais podem facilmente ser enquadrados como assédio moral. É decepcionante ver a contradição presente nisso, já que as políticas de sucesso pregam justamente o contrário de atitudes pueris.
"Sonho grande", assim como qualquer obra, deve ser lido com crítica bem fundamentada. Cristiane Correa traçou os principais pontos que ligam o início da carreira de Lemann ao que ele se tornou hoje. É claro que muitos pontos negativos da vida dos empresários não foram mencionados, o que é comum em biografias. Uma análise mais minuciosa dos nomes envolvidos na construção do império cervejeiro mostra que o mercado de trabalho não é tão "limpo", por mais que pregue ideologias "justas" (meritocráticas).
Vale a pena conferir o conteúdo desta obra(?), nem que seja para vencer uma meta de leitura.