Carla.Parreira 07/05/2024
Sonho grande (Cristiane Correa). Melhores trechos: "...Para eles, acumular dinheiro é mais uma consequência que umobjetivo. 'Não se trata de pensar se eu ganhar um milhão de dólares ou um bilhão de dólares o jogo acabou. Até porque, a partir de certo ponto, o dinheiro
não tem mais utilidade', diz o investidor... O entrevistador queria apenas ver qual seria a reação do candidato. Reza a lenda que um dos jovens chegou a arremessar uma
cadeira para quebrar o vidro, de tão desesperado que estava para conseguir o
emprego. Outra estratégia dos entrevistadores do Salomon Brothers era ficar em silêncio. O candidato entrava na sala e o entrevistador não falava nada. O
candidato o cumprimentava, ele não falava nada. O candidato discorria sobre
suas experiências ou contava uma piada – e nada. Nem um sorriso, nem uma
palavra. O entrevistador apenas olhava fixamente nos olhos do coitado à sua
frente. Quanto tempo alguém resiste a uma situação dessas? Como reage? Era
isso que o entrevistador queria saber... Sam Walton tinha 44 anos e um bocado de experiência em varejo quando abriu a primeira loja Walmart em Rogers, uma cidadezinha no Meio
Oeste americano à época com menos de 6 mil habitantes. Desde o começo ele
decidiu que preço baixo seria o motor de sua empresa. Num setor de margens
espremidas como o varejo, isso implicava um controle quase doentio sobre os
custos. Em sua autobiografia, Made in America, Walton escreveu que as primeiras lojas – espaços amplos e extremamente simples, com produtos empilhados por todos os lados – eram tão precárias que numa delas as roupas à venda eram penduradas em canos de conduíte em vez de expostas nas araras tradicionais. Espremer os fornecedores para conseguir os menores preços era também uma prática recorrente. O fundador fazia de tudo nas lojas: controlava estoques, orientava funcionários, conversava com clientes, buscava pessoalmente novos
fornecedores e sempre visitava pontos de venda de concorrentes. Jamais fez o
estilo do sujeito encastelado em seu escritório. Boa parte de seu tempo era gasta procurando gente capaz de ajudá-lo a tocar a empresa. Com o crescimento do
Walmart, começou a distribuir planos de ações entre seus melhores funcionários... Na Lojas Americanas, Beto Sicupira sempre foi paranoico com controle de
despesas. Costumava dizer que 'custo é como unha, tem que cortar
sempre'. Sua outra obsessão era identificar novas oportunidades de ganhos que
poderiam surgir no negócio – de preferência, que exigissem baixos
investimentos. Foi assim, por exemplo, que nasceu a São Carlos
Empreendimentos Imobiliários, em 1989... A Lojas Americanas era então a líder do varejo brasileiro. Nada melhor que trazer para o Brasil a maior rede do mundo e acelerar ainda mais sua expansão. O acordo entre as duas partes previa que o Walmart teria 60% da nova empresa
criada no Brasil e que à Americanas caberia o restante. Quando o negócio foi
anunciado, a concorrência tremeu. Contra todas as expectativas, deu tudo errado. Como o Walmart nada sabia sobre os hábitos de consumo dos brasileiros, simplesmente reproduziu aqui o que fazia nos Estados Unidos – o que significava, por exemplo, vender bolsas
para tacos de golfe, tilápias vivas e coletes salva-vidas em suas lojas. A Lojas
Americanas, minoritária, pouco conseguia apitar sobre o destino da operação.
'O pessoal do Walmart falava que a receita deles funcionava nos Estados Unidos
e que funcionaria aqui também', lembra José Paulo Amaral. 'Na inauguração do
Supercenter de Osasco (na Grande São Paulo), avisamos que era preciso colocar
etiqueta eletrônica para evitar furtos, mas eles não ouviram. Foi uma festa para
os bandidos. Roubaram barbeador, roupa, camisa, tudo'... Três anos depois da
assinatura do acordo, a varejista brasileira vendeu sua participação ao Walmart.
Beto Sicupira e seus sócios foram forçados a abrir mão do sonho de se associar à maior varejista do mundo para preservar o caixa da Americanas – uma decisão da qual jamais se arrependeram. Sem os sócios locais, a operação brasileira do Walmart levou quase uma década para finalmente entrar nos eixos... A Brahma era um celeiro de burocracia, desperdício e ineficiência. Suas despesas administrativas saltaram de 12% para 17% da receita operacional líquida de 1988 para 1989, num caso raro de custos supostamente fixos que se mostraram
variáveis. As fábricas da companhia estavam envelhecidas, com máquinas cuja
idade média era de 40 anos... Um dia eu ousei abrir um livro em pleno
horário de expediente, os mercados a toda, para estudar um pouco. As pessoas em
volta me olharam espantadas, como se eu fosse um ET. Tive vontade de sumir dali.
Naquele exato momento percebi que o banco não era para mim... Você não tem ideia das coisas que a gente consegue na vida sem fazer conta. Aliás, se fizer muita conta você não sai nem da casa dos pais...”