gleicepcouto 17/02/2013Lição de amizade com um amigo imagináriohttp://murmuriospessoais.com/?p=6105
***
Memórias de um Amigo Imaginário (Editora iD) é o terceiro livro do escritor norte-americano Matthew Dicks, que também é professor e, inclusive, já foi finalista do prêmio de Professor do Ano, em Connecticut. Além de escrever romances, colabora com artigos para jornais e revistas sobre educação. Seus outros livros são: Something Missing (2009) e Unexpectedly, Milo (2010).
Nesse livro, somos apresentados a Budo, amigo imaginário de Max, um menino de oito anos. Budo já existe faz cinco anos e tem uma aparência quase normal, pois Max o imaginou daquela forma. Isso não limita Budo, que tem seus próprios pensamentos e vontades e até mesmo outros colegas também imaginários.
Sua vida está bem tranquila com Max, eles se dão bem. Budo, porém, descobre algumas coisas. Max corre perigo e ninguém mais sabe disso. Como Budo poderá ajudá-lo? Nenhum humano o enxerga, nem consegue interagir com ele! E agora?
Esse livro foi uma bela surpresa. Dicks construiu uma trama original, com personagens inusitados. Acho que a melhor palavra que descreve é: fofo. A história é uma fofura do início ao fim, gente!
O livro é narrado em primeira pessoa pelo Budo – o que confere um estilo simples de escrita. Mas nada ingênuo ou infantil. Budo é bem esperto, mas tem como característica principal sua lealdade à Max. Além disso, é um amigo imaginário muito sensível, que tem receio de sumir (o que pode acontecer quando Max deixar de imaginá-lo). O fato de não saber se existe um Céu para amigos imaginários o deixa aflito, mas não o paralisa.
Max é um garoto diferente. Possui muita imaginação e não é muito bom em lidar com pessoas e, por isso, muitas vezes é incompreendido – principalmente no colégio. Seus pais, porém, amam o filho e fazem todo o possível para que se adapte.
A história levanta questões interessantes sobre morte e vida; sobre lealdade e amizade; sobre amor incondicional; sobre aprender a deixar ir… Ah, gente. Algumas cenas são de cortar o coração. Sentimos a angústia e impotência de Budo em querer ajudar Max e não conseguir, seja por limitações físicas ou por emocionais. E não é assim que muitas vezes no sentimos na vida, completamente de mãos atadas?
O modo como Budo se entrega a Max é muito bonito também. Claro que ele entra em conflito, se pergunta por vezes se realmente tem que ser assim, se tem que se anular por “seu humano”, e as consequências que isso pode trazer para sua existência. Mas quando chega a hora de tomar decisões, ele não hesita em pôr seu amigo em primeiro lugar.
A única ressalva que tenho em relação ao livro é que poderia ter sido editado. Algumas situações são um pouco repetitivas, com várias idas e vindas. Mas nada que comprometa a obra, basta ter um pouquinho de paciência.
Dicks conseguiu fazer um livro emocionante, sem soar piegas; transmitir mensagens pertinentes, sem soar didático. Por fim, ele soube definir com muita propriedade o verdadeiro valor da amizade e mostrar que, com amigos, imaginários ou não, nunca estamos sozinhos.