Tamirez | @resenhandosonhos 23/08/2018Não Pare!Eu queria ler Não Pare! já faz um tempo. Como vocês sabem sempre curto ler autores nacionais e adoro fantasia, portanto, depois de muito me recomendarem a obra da FML Pepper, resolvi ter a experiência. O livro foi uma leitura rápida e a proposta de plot e o mundo desenvolvido pela autora é super interessante e realmente compreendo o porque de todo mundo considerar essa história inovadora. Não é todo dia que temos mortes vagando por ai e mundo paralelos onde elas habitam, bem como todo o universo diferente que se cria aqui. Porém, algumas coisas me incomodaram, como a construção da personalidade dos personagens e as motivações de cada um.
A relação da Nina com a mãe só parece ficar tensa quando ela propõe para a filha se mudar mais uma vez, como se nunca em 16 anos a garota tivesse questionado ou ficado com raiva da situação. Ambas tem uma boa relação e mesmo a mãe não respondendo as respostas da menina, está tudo bem entre elas. A protagonista é apática frente às respostas que não recebe e isso só se acentua ao longo do livro.
Isso é algo que sempre me incomoda bastante nos livros. Como que os personagens vivem em situações diferentes, mas só se questionam sobre isso na hora que o leitor vira a página 10 do livro? O que esses personagens pensavam durante todos os anos anteriores, pré-livro? É como se eles não existissem, verdadeiramente. Parece que não havia questionamento ou conflito e isso não condiz nem um pouco com a realidade. Se a garota tivesse uma relação mega tumultuada com a mãe, fosse mais rebelde ou mais impositiva em sua postura, eu provavelmente teria encarado a história melhor. Porém, o problema de personalidade se amplia a outros personagens também. É tudo muito flutuante e eles mudam de posição de uma hora pra outra sem nenhuma quebra aparente, e vamos do ódio ao amor em apenas um suspiro.
“Como a morte poderia ser tão bela?”
Com a proposta que o livro apresenta que essas mortes não tem sentimentos e que Nina talvez possa despertar algo neles, toda essa descoberta deveria ser gradativa, para dar credibilidade à relação que estava se construindo. Mas, o que parece é que ouve uma aceleração na história e isso passou um pouco por cima da lógica também, levando os personagens do zero aos extremos muito rapidamente, e não sendo totalmente coerente com o contexto da trama. Juntado a isso o fato de Nina aceitar toda vez que alguém se nega a dar-lhe explicações baixando a cabeça e batendo continência, foi impossível ignorar que haviam problemas na hora de desenvolver essa história.
Outro ponto que posso levantar aqui é que ela é o centro das atenções e é assediada por muitos homens. Dada a explicação pra isso, torna-se compreensível. Porém, no momento em que estamos, com todas as lutas feministas, acredito que muitas jovens podem encontrar na posição oprimida e assediada de Nina um grande problema. Eu tentei realmente ignorar isso e não entrar no mérito, pois se tratando de fantasia, o autor pode criar o mundo que quiser, não necessariamente se preocupando com o politicamente correto.
Richard, que é o personagem masculino com mais destaque na trama, também é bem instável e extremamente mal educado e grosseiro, sempre oprimindo a personagem que, como mencionado, costuma baixar a cabeça e aceitar as respostas que recebe, mesmo que elas sejam ditas e desditas em questão de páginas. Portanto, pra mim, o que não funcionou foi a falta de uma construção de personalidade mais sólida e a postura completamente suscetível da protagonista. E, infelizmente, esses dois aspectos foram suficientes para enfraquecer a trama pra mim.
O mundo por outro lado parece ter sido bem pensado, com outras dimensões, formas de governo e divisões. Pena que a maioria das infos que recebemos também está fragmentada e fica por vezes difícil absorver toda a informação, já que estamos constantemente tentando lembrar do que veio antes. E o final vem pra fazer o que todo final de primeiro livro deveria fazer: deixar o leitor em um ponto crucial da história para que a curiosidade o faça buscar o segundo volume.
Apesar das coisas mencionadas, a história tem seus aspectos divertidos e se você a encarar como uma fantasia contemporânea de romance e não ficar pensando muito sobre os aspectos técnicos da história, acredito que pode sim aproveitar um monte essa narrativa como forma de entretenimento.
Com toda a certeza valeu a experiência de ter lido Não Pare! e de ter conhecido a escrita da FML Pepper, autora que mesmo sem ter lido até então já acompanhava nas redes por ela ter como marca ser super carismática e alto astral. Várias pessoas já me alertaram que a escrita evolui ainda mais no segundo volume da série e que a história também tem um crescimento exponencial. Então vou tentar continuar essa série e descobrir em quantas encrencas mais Nina Scott vai se meter.
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