spoiler visualizarNathália 31/03/2013
Resenha do livro "A Travessia", de William P. Young
Contém spoilers, mas nada que estrague as emoções do livro.
O livro conta a história de Anthony Spencer, um empresário quarentão bem-sucedido na vida (teoricamente). Próspero no mundo dos negócios, o mesmo não ocorre em sua vida pessoal. Divorciado duas vezes – da mesma mulher, Loree –, ele possui um relacionamento complicado com a mesma e a filha do casal, Angela. Além desta, teve outro filho com Loree, Gabriel, que morreu ainda pequeno devido a um tipo raro de câncer no fígado.
Por volta das primeiras 40 páginas, praticamente não há falas ou diálogos, mas uma apresentação densa da personagem principal. Não deixe que esse começo mais “morno” te desanime a seguir com a leitura, pois as coisas só tendem a melhorar com o passar das folhas! Além do mais, essa caracterização pesada de Anthony é necessária para que entendamos sua complexidade. Em alguns momentos, ele é capaz de nos despertar raiva; em outros, ele é digno de pena e compaixão.
Tony – como é conhecido – leva uma vida solitária e amargurada, e isso só muda, ironicamente, depois que ele tem um derrame cerebral. Depois que entra em coma, o espírito de Anthony viaja para um mundo intermediário, onde conhece diferentes localidades e pessoas. É lá onde ele encontra Jesus e o Espírito Santo, que lhe dão a seguinte missão: voltar ao nosso mundo para curar uma pessoa.
'A Travessia' não defende uma religião específica, mas certamente é de cunho espiritualista. Não tenho religião e tenho meus momentos de falta de esperança e fé, digamos assim, mas definitivamente acredito em algo maior para nossa existência neste mundo. O que quero dizer com tudo isso? Que William P. Young colocou sua espiritualidade de forma correta para mim, assim como na medida certa! Jesus, o Espírito Santo e Deus (que, eventualmente, também aparece personificado na história) são construídos de modo brilhante! Não são “seres tão grandiosos que se apresentam, assim, inalcançáveis” (como deve estar no imaginário de muita gente, inclusive no meu), pelo contrário: eles são humanamente acessíveis e divinamente amigáveis e bem-humorados, sempre ao lado de Anthony, dispostos a ajudá-lo com seus problemas e conflitos.
Não vou entrar em muitos detalhes para não estragar as surpresas do livro. Enquanto está em coma, o espírito de Tony se divide entre estar no seu mundo intermediário e no nosso. Para isso, ele entra na cabeça de algumas pessoas: Cabby, um adolescente portador de síndrome de Down; Maggie, amiga da mãe de Cabby; Clarence, pastor-policial de quem Maggie gosta... Dessa maneira, ele tem a oportunidade de ver a vida de outro jeito, além de escolher quem irá curar através dos poderes de Jesus.
'A Travessia' é uma ótima pedida para quem se sente confortável com o gênero – e até para alguns daqueles que acham que não se sentem, mas que nunca leram algo parecido. William P. Young é ótimo ao conduzir o enredo e as personagens!
*SPOILERS*
Dois momentos que me tocaram (entre tantos outros):
• quando Tony entra na cabeça de Amelia, mãe de Clarence e portadora de mal de Alzheimer, e proporciona o encontro dos dois (para saber direitinho, só lendo!);
• e quando...
*Página 106*
– Tõ-ni ama Cnabby?
[...]
– Sim, eu amo você, Cabby – ele mentiu. Na mesma hora, Tony sentiu a decepção do menino.
[...]
– Uhn-ia – ele disse.
Uhn-ia?, perguntou-se Tony. O que queria dizer aquilo...? Mas então Tony entendeu. Cabby estava tentando dize “um dia”... Um dia Tony iria amá-lo.
*Página 227*
– Cabby, Tony está dizendo que um dia é o dia de hoje, entendeu?
Os lindos olhos amendoados do menino se encheram de lágrimas, e ele assentiu.
[...]
– Ti amo! – Então, virou-se e saiu correndo para os braços de Jake (irmão de Tony), enterrando o rosto em seu peito.
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