Bella Andrade 31/01/2014
Uma leitura cansativa, porém razoável.
“[...] Acontece todo outono. Quanto mais perto estamos de novembro, mais cavalos saem do mar. Os nativos da ilha que desejam participar das futuras Corridas de Escorpião frequentemente saem em grupos de caçadores para capturar os capaill uisce [...]”
Autora – Maggie Stiefvater /378 páginas/2012/Volume Único!
A Corrida do Escorpião, livro o qual foi o primeiro que li da autora Maggie Stiefvater, me surpreendeu. Quando escolhi lê-lo, levei em conta não só a mitologia dos capaill uisce contidas na história, mas também as críticas que se apresentavam muito boas (Kirkus, New York Times, etc...), garantindo muito romance e muita ação, que por acaso são elementos que penso eu, um dos fundamentais em uma leitura cativante. Apesar de não ter encontrado muita motivação à primeira vista, em ler o livro, resolvi dar uma chance ao trabalho. Acho que fui uma das poucas que acabei por amar poucos aspectos e me decepcionar com todo o resto.
“[...] Não me parece, mas Thisby é um lugar minúsculo: quatro mil pessoas numa ilha rochosa no meio do mar, a horas do continente. Só há penhascos, cavalos, ovelhas e estradas estreitas que atravessam descampados até Skarmouth, a maior cidade da ilha. A verdade é que, até que você descubra que existe algo diferente, a ilha é suficiente. [...]”
Ambientada em uma ilha – chamada Thisby – a que todas as descrições levam a indicar que fica no Reino Unido, a história aborda paralelamente a vida de dois personagens principais – Puck Connolly e Sean Kendrick – e é justamente escrita pelo ponto de vista de cada um em alternância. Puck, que na verdade é um apelido para Kate, possui dois irmãos – Gabe e Finn, o mais velho e o mais novo –. Juntos, eles lutam para sobreviver na casa dos pais que acabaram sendo assassinados pelas criaturas mágicas e imprevisíveis da ilha: os capaill uisce. Essas criaturas que só aparecem na ilha em novembro são cavalos originários do mar, e se diferenciam de cavalos normais por serem carnívoros e selvagens, pela cor de pelagem variada e pela sua magia e ligação com o mar. Logo no início da história, como um abalo não esperado, Gabe avisa aos irmãos que irá embora da ilha para buscar novas oportunidades de vida no continente e, juntando com o descobrimento de que a casa de seus pais poderá ser tomada em razão dos pagamentos atrasados e a falta de dinheiro, Kate toma uma decisão drástica: ela opta por participar da famosa e perigosa Corrida do Escorpião, com o objetivo de salvar sua casa e atrasar a partida do irmão que apresenta pouco caso à situação da família.
A corrida, que dá o nome ao livro, e que aparentemente demonstra ser o foco da história, é o evento mais importante e tradicional da ilha. É o momento em que os cavaleiros mais corajosos se desafiam a correr em seus capaill uisce, em uma corrida totalmente letal, cuja vitória é conquistada pela sorte de sobrevivência e a derrota, na maioria das vezes, a morte. Sean Kendrick, o segundo personagem principal, por sua vez, passou a vida inteira estando presente nas corridas, aprendendo tudo sobre cavalos com seu pai que era um competidor experiente e juntos trabalhavam para o reconhecido haras Malvern. Após a drástica morte de seu pai em uma das corridas, Sean não abandonou o legado deixado por seu pai, ele se tornou o mais famoso cavaleiro da ilha, ganhando quatro vezes consecutivas, além de se tornar o treinador principal do haras, sendo respeitado por todos devido ao seu amplo conhecimento e experiência com capaill uisce. Entretanto, seu maior sonho era comprar Corr, o capall uisce mais veloz e o mais próximo de uma família para Kendrick.
“[...] Os capaill uisce mergulharam na areia, lutando e brigando, sacudindo a espuma do mar de sua crina e o Atlântico de seus cascos. Gritaram para os que ainda estavam na água, gemidos altos que arrepiaram os pelos de meus braços. Eles eram rápidos e mortais, selvagens e lindos. Eram gigantes, oceano e ilha ao mesmo tempo, e foi aí que os amei. [...].”
É quando se iniciam os treinamentos que Puck começa a enfrentar dificuldades: era a primeira mulher a competir e o seu cavalo não era um capall uisce. Desta forma, ela sofre diversos preconceitos e muitos não a querem ver na corrida. Simultaneamente, Sean se sente encurralado pelo chefe, Malvern, e Mutt, filho e herdeiro dos negócios de Malvern, que o odiava e invejava. Tudo que ele queria era sua liberdade e seu amado cavalo, Corr. Nesse contexto, Sean e Puck acabam se conhecendo e se tornando amigos – até um pouco mais – .
“[...] Ela descruza os braços o bastante para manter o equilíbrio conforme se inclina em minha direção, e, quando nos beijamos, ela fecha os olhos [...] Eu fecho os olhos. Minha mente está cheia de
Corr, do oceano, dos lábios de Puck Connolly nos meus.”
Analisando os aspectos da obra, posso dizer que infelizmente me decepcionei muito e demorei muito para terminar o livro. A leitura, desde o começo se torna extremamente cansativa, não exatamente pela escrita, mas pelo enredo, o que é muito triste, pois as ideias da história são ótimas e deveriam ser melhor desenvolvidas, de forma a prender o leitor. Todo o desenrolar dos acontecimentos se torna muito devagar, por conta do foco dado à ilha e ao psicológico dos personagens, quando deveria ser dado ao romance e à mitologia dos capaill uisce – destacando a corrida de uma forma mais importante –. A história só começa a ficar realmente interessante no final, quando as corridas estão prestes a começar, onde encontra-se ação, e Sean começa a se aproximar de verdade de Puck, pois até então, a relação deles seria muito mais de amizade do que amorosa. E mesmo assim, a relação entre eles continua muito “murcha”. O livro chegou a demonstrar um caráter muito fechado e demasiadamente monótono, em minha opinião, pois esperava ação e romance de verdade. Entretanto, existiram muitos aspectos de que gostei, que fizeram valer a pena chegar até o final, como a escrita da autora que é excelente e o modo como desenvolve suas ideias, distribuindo e explicando de forma consistente e bem feita, o que não é fácil de se constatar em muitos livros, e o final efetivamente, que admito que foi muito emocionante, mostrando que a amizade supera todas as adversidades.
Eu indico o livro àqueles que forem pacientes e preferirem uma leitura mais filosófica e interpretativa que se baseia principalmente nos personagens. E ao mesmo tempo, preferirem um livro único que não chega a formar uma série.
!3 ESTRELAS!