Belle 17/07/2013Err… Bem… Hmm… (suspira e tenta de novo…).
Então… É que… (toma coragem e se prepara para a polêmica).
Eu não sou a pessoa mais indicada para resenhar um livro da Rice. Muito menos esse que é cercado e recheado por tanta polêmica. Pensei até em não resenhar, porque eu não sabia nem por onde começar… Mas, resolvi tentar. Através dos mais entendidos na autora (Kel, você pode me ajudar?), eu fiquei sabendo que ela é acima de tudo, uma grande crítica da sociedade, do puritanismo e suas hipocrisias; assim, essa trilogia seria uma afronta aos conservadores. Posso estar totalmente equivocada, mas, minha impressão da leitura foi mais subjetiva. Para mim, o livro todo é um ensaio sobre a sexualidade humana, pura e simplesmente.
Cada personagem é um tabu. Meu. Seu. Nosso. A Bela seria cada um de nós em nossos caminhos para descobrir nossa sexualidade e enfrentar nossos medos. Mas, a verdade é que eu sei que isso não faz muito sentido porque, o tempo todo, ela é bombardeada com praticamente dois únicos tabus: dor e humilhação. Ainda assim, essa ideia, que deve lhes parecer muito vaga, graças à minha ótima explicação, não me saiu da cabeça em nenhum momento. E, em algumas passagens, ela se solidificou.
Essa trilogia é uma releitura de A Bela Adormecida, mas, as semelhanças começam com o tal feitiço que faz todos no reino de Bela dormirem assim que ela fura o dedo na roca e terminam com o tal beijo de um príncipe corajoso. Já as diferenças, começam no fato de que primeiro ela é estuprada e depois é beijada, é exigida como tributo pelo Príncipe, por sua coragem ao libertar todos do reino da maldição e levada para uma corte onde será submetida às piores perversões que a mente de Rice foi capaz de imaginar e, então, não há mais fim para essas diferenças.
"Ele estava irritado, ameaçadoramente irritado e, apesar de Bela suportar qualquer dor em nome do prazer do Príncipe, vê-lo assim era insuportável para ela. Ela deveria agradá-lo, deveria fazer com que ele se tornasse dócil novamente e, então, nenhuma dor seria demais."
Por mais chocante que fosse a história, eu me vi incapaz de abandonar a leitura. Buscava desesperadamente algo que fizesse sentido a cada página virada, mas, acabei totalmente perdida. Lembro que antes de começar a leitura, peguei o livro, estudei meticulosamente a capa, a senti, dei uma folheada, li os títulos dos capítulos e, relutando em começar, larguei o livro em cima da escrivaninha. Eu já havia lido coisas sobre o livro, nenhuma resenha, mas, sabia o tema e, mais importante do que tudo, sabia que a leitura seria difícil. Ao finalmente começar, achei que estava preparada psicologicamente, mas, a verdade é que não sei se algum dia estarei. Tudo nesse livro é confuso, incômodo e perverso. Não há um único momento que seja confortável. Nenhum personagem pelo qual se tenha empatia.
Mas, o que mais me irritou foi o enredo fraco. As coisas que são feitas aos escravos não tem nenhum porque além da vontade daqueles que são seus senhores. E uma perversão se junta à outra sem que nós consigamos entender exatamente que lição está por trás delas; afinal, a grande desculpa para todos daquela corte sádica é a de que os escravos (todos príncipes e princesas de outros reinos dados como tributo, assim como a Bela) aprenderiam lições importantes de humildade e desprendimento, que os tornariam monarcas melhores. O que até teria algum sentido, se não fosse tão ridiculamente cruel. Eu me perguntava a toda hora quem foi que ensinou ao Príncipe, a Rainha e ao resto da corte a serem tão bons governantes assim… Quer dizer, eles detêm total poder sobre todos no reino e inclusive em reinos alheios (afinal, os príncipes e princesas são dados em tributo por seus próprios pais! Que também foram escravos nesse mesmo reino), mas, e a corte soberana? Eles aprovam o “curso intensivo” por que também foram submetidos a ele?
Porque, se há alguém necessitando urgentemente de lições de humildade, desprendimento e, pra ser justa, de umas boas porradas com a palmatória mais pesada do universo, é o Príncipe e o resto da corja, quero dizer, corte.
Há muitas outras questões que eu gostaria de citar, como a Bela ser a submissa mais contraditória da História dos romances BDSM (ora ela está tranquila e resignada como um cãozinho após receber uns tapas de seu dono, ora está revoltada com toda a situação, mas, sem exteriorizar nenhuma reação), mas, vou parar por aqui… Porque, a verdade é que eu continuo tão confusa quanto ao iniciar a leitura. Eu não sei qual é o sentido desse livro, eu mal entendi a narrativa dele… Mas, há uma dúvida que está me perturbando: é humanamente possível que alguém sobreviva a tudo o que o Príncipe Alexi passou? Quero dizer, fisicamente possível?
"- Você queria agradar a ela. Ela é sua senhora. Você é uma escrava. A coisa mais digna que pode fazer é agradar, por isso você fez isso e não apenas como resposta aos golpes da palmatória de Lady Juliana ou às ordens dela, mas, naquele momento, você agiu de acordo com sua própria vontade."
Ainda não decidi se vou ler o segundo volume… Não acho que meu estado de confusão se findará com ele, aliás, não acredito que isso aconteça nem mesmo com o terceiro. Mas, como me conheço, devo ler por pura curiosidade e uma espécie de tortura pessoal.
Eu pensei muito antes de classificar esse livro, não estou brincando ao dizer que me senti muito confusa. Não achei justo dar uma péssima nota, porque, bem ou mal, A. N. Roquelaure continua sendo um pseudônimo de Anne Rice e isso não é pouca coisa. Também não seria justo, porque eu devorei o livro, por mais incomodada e chocada que estivesse. Apesar disso, não posso relevar meu estado de confusão ao terminar a leitura. Portanto, dei duas corujinhas e meia.
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