Joshua 22/12/2014
Viciante e cruel, conheça Battle Royale!
Publicado originalmente em 1999 no Japão, Batoru Rowairu, que aqui recebe o nome de Battle Royale - ou Batalha Real - já foi adaptado tanto para o cinema em 2000, quanto para uma versão mangá no mesmo ano, até 2006 em 15 volumes. Em torno de 650 páginas, o livro é um relato cru e forte de uma competição pela sobrevivência entre os estudantes de uma turma de ensino fundamental, onde apenas um poderá restar pelas regras do jogo.
A realidade que Koushun Takami estabelece em seu único livro lançado, é de um país totalitário, um governo opressor que impõe sua autoridade aos seus cidadãos, e a prova mais extremista disso é o Programa, um jogo anual onde uma turma de ensino fundamental é escolhida, e seus estudantes são levados para um local isolado, e tudo o que lhes é dito é que apenas um deles sairá vivo dali. E o pior: para isso terão que matar uns aos outros. Shuya Nanahara se vê no meio de uma competição cruel e desumana, e mesmo abominando o jogo, ele fará de tudo para proteger a amiga Noriko Nakagawa, mesmo que isso signifique custar sua vida.
Vou ser sincero: Battle Royale é um tijolo! O leitor pode até correr o risco de duvidar do ritmo da história, porém afirmo que em nenhum momento a leitura se torna maçante ou monótona. Já pra deixar claro: Takami tem uma escrita ágil, mesmo que extensa, fazendo com que o leitor se grude as páginas e não solte até terminar. Para ter uma ideia, a leitura transcorreu em menos de uma semana, e enquanto eu pausava para respirar, o desejo de voltar e descobrir como o jogo se encerraria era maior. Em outras palavras, Battle Royale é viciante e cheio de reviravoltas.
Eu já possuía certas expectativas quanto a obra, já que eu já havia lido o volume 1 da versão em mangá, e não me frustrei. Como eu disse, Battle Royale é ágil e fluído, e desde a primeira página, Koushun cria uma atmosfera e prepara o terreno para o que está por vir. Com capítulos contando desde o número "0", já no capítulo "1" o jogo está se iniciando, então é um curto espaço de tempo para que o leitor se situe, o que gera uma sensação semelhante ao que os personagens estão vivendo. Você não sabe de nada, do mesmo modo que eles. A agonia já começa ai - principalmente quando o maldito do Sakamochi aparece - e daí em diante é um verdadeiro trem bala, e você não tem noção de onde vai parar.
Com a premissa de que só um dos 42 estudantes saíra vivo dali, já é esperado um verdadeiro massacre muito tiro, porrada e bomba e matança ao decorrer da obra, e nisso, adianto que o leitor tem que estar consciente do que tem em mãos. Acho bobo recomendações como "só para aqueles com estômago forte", mas Battle Royale é bastante real, forte e impactante, então, para aqueles que não são muito conhecidos desse estilo, leia já preparado.
Um ponto mais do que positivo na obra, e que merece aplausos, é o modo como o autor explora e "disseca" seus personagens. São jovens isolados em uma ilha, em um verdadeiro campo de batalha, e a qualquer momento poderá ser seu fim, então há bastante espaço para reflexão e vislumbres do passado. Cada estudante carrega consigo uma história individual, o que define seus caráteres e atitudes, o que é de extrema importância para o jogo, já que o Programa em si e seu objetivo deixa todos os envolvidos a flor da pele. O modo como agem é fruto da vida deles pré-Programa, e o autor acertou em cheio nisso. Há tantas personalidades e índoles, que enriquece o jogo e o relacionamento entre os participantes.
Battle Royale é um livro agoniante. Ao final de cada capítulo, existe uma contagem de quantos estudantes ainda restam, e é assustador em como esse número cai. E Takami nos dá a visão de cada assassinato, mesmo trabalhando em cima do personagem para apenas depois silenciá-lo. A medida que acontecem as baixas, um desespero maior surge: quem vai sobreviver?
Shuya e Noriko são os personagens mais próximos do protagonismo na obra, o que automaticamente nos faz simpatizar com eles e torcer por eles. Porém, rules are rules. Jovens inexperientes e com chances reduzidas de sobreviver diante dos outros competidores, eles passam por más situações, correndo perigo a todo instante, já que o Programa obriga os jogadores se movimentar, pois a cada aviso dos quatro diários, quadrantes da ilha são proibidos, e quem entrar, kaboom!. A eles se junta o misterioso Shogo Kawada, calado e que carrega segredos, um aliado ou algo pior.
O livro e o jogo apresentam muitas surpresas, o que deixo vocês descobrirem com a leitura. Porém, ele não é só entretenimento. O livro carrega consigo uma grande e dura crítica social em um tema tão polêmico para a época em que foi lançado - que tanto foi desclassificado da premiação Japan Grand Prix Horror Novel. Koushun critica temas como liberdade de expressão e escolha, onde na República da Grande Ásia Oriental o gênero musical rock é proibido e tido como ato de rebeldia. Os habitantes de tal governo são reprimidos e controlados, e nem mesmo existe um julgamento para eles, apenas execução. O próprio Programa tem finalidade para exterminar qualquer ânimo ou vontade da população de se agrupar e criar um motim, já que se cria a desconfiança ao próximo e o sentimento de ódio. Um modelo ditatorial e ferrenho, o que não é muito diferente do que se vê em certos lugares, se pesquisarmos a fundo.
Antes de mais nada, a edição da Editora Globo está excelente, linda e demais! Desde a textura do papel, aos detalhes em relevo da capa, ao mapa da ilha de Okishima e seus quadrantes, e a arte interior da diagramação e etc. Melhor do que isso, só se fosse capa dura!
Battle Royale é incrível, tanto em sua narrativa, enredo, trama, personagens, desenvolvimento e argumento. Ao terminar, me faltou palavras para tamanha obra e para tal desfecho - que é bem agridoce, apesar de satisfazer. Uma leitura madura e inteligente, recomendo para quem deseja se prender a um livro realmente bom. Eu queria dizer mais, mas acho que termino agradecendo a Deus por termos ainda algo que podemos chamar de liberdade, e que a realidade deste livro não é nossa realidade, e que aqui sigamos para não permitir que nunca venha se tornar.
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