Luchenriques 02/12/2014
Nós vamos matar uns aos outros
Battle Royale, como o genial Stephen King definiu muitíssimo bem, é uma trama insana, divertida e, esta última por minha conta, impossível de não ler em doses cavalares. 42 estudantes isolados numa ilha com a obrigação de matar uns aos outros, no qual o último sobrevivente será o vencedor do jogo, desenvolvido para mostrar que é impossível confiar nas pessoas, seja seu colega, ou o melhor amigo de infância. Simples, seco, direto e bem estruturado, a obra, além de ser o filme que Tarantino sempre quis filmar, inspirou a saga Jogos Vorazes, febre que não me pegou e não me despertou o mesmo interesse deste livro.
Primeiro, cabe explicar que o termo que dá nome à história se refere a uma luta entre diversos oponentes, em um mesmo cenário, todos contra todos, no qual só um sairá vencedor, deixando várias possibilidades de táticas a serem utilizadas. E é esse o espírito. Um cenário, todos equipados, de forma não igualitária, com o objetivo de eliminar os demais oponentes.
Escrito por Koushun Takami em 1999, Battle Royale começa sem rodeios, com a turma B do nono ano da Escola de Ensino Fundamental de Shiroiwa se dirigindo a uma excursão, que os levará ao fatídico destino. Após terem seu ônibus interceptado pelos responsáveis de colocar o “Programa” em prática, os alunos começam a acordar dentro de uma escola localizada na ilha de Okishima, onde descobrem do que realmente se trata tudo aquilo.
Bem articulado no desenrolar dos acontecimentos, o autor é competente em contar as histórias de 90% dos participantes, construindo uma identidade fácil de ser identificada. As interações, perfil dos personagens e formas de organização entre os mesmos é construída de maneira simples e clara. A preocupação de decorar os nomes em japonês acaba conforme a leitura flui, tudo graças à rica e precisa descrição dos jogadores.
Uma atitude acertada de minha parte foi anotar cada vez que alguém morria e quem era seu assassino, o que ajudou ainda mais a fixar a história. Verificando esta lista enquanto faço a resenha, consigo lembrar cada cena com exatidão, o que auxilia na memorização.
A riqueza e precisão cirúrgica de Takami no detalhamento dá carisma, raiva, ansiedade ou qualquer outro sentimento aos personagens, que não serão simplesmente descartados e utilizados como meros fantoches, não causando indiferença por parte do leitor quando alguém é assassinado, o que confere ainda mais emoção à narrativa.
Um dos problemas, a meu ver, é o fato de muitas alunas serem apaixonadas por Shuya Nanahara, um dos protagonistas. Determinados personagens amarem um colega ao ponto de dar a vida também incomoda, pois nenhuma destas conversas foi muito além de um cumprimento ou meia dúzia de palavras, ainda mais por se tratar de adolescentes entre 15 e 16 anos em sua maioria. Porém, quem já assistiu/leu Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco ou outro desenho/mangá sabe que isso é algo recorrente neste tipo de produção.
Por fim, Battle Royale cumpre e vai além de todas as propagandas, elogios, número de vendas e recomendações. Organizado e bem criado, o livro não deixa pontas soltas e familiariza o leitor com a ilha e as histórias de todos os envolvidos, com um projeto gráfico que valoriza e ambientaliza visualmente graças ao mapa da ilha e os horários em que cada quadrante é proibido.