Ivan 24/01/2022
A indiferença da morte
O escritor russo Lev Nikolaevitch Tolstoi, mais conhecido como Leon Tolstoi, foi um dos grandes mestres da literatura russa e mundial. Escreveu vários contos, novelas e romances e ficou mundialmente conhecido principalmente pelas obras Guerra e Paz e Anna Karenina. "A Morte de Ivan Ilitch", escrito em 1886, é um livro intrigante por tratar de um assunto tão tabu: a morte. Muitas vezes, quando ela se apresenta diante de nossos olhos, parece algo inaceitável e injusto, como se a morte necessitasse de algum tipo de justificativa.
Neste livro Tolstói narra a história do burocrata Ivan Ilitch Golovin, um juiz da alta corte da Rússia czarista que, depois de alcançar uma vida confortável, descobre que tem uma grave doença. A partir daí, este passa a refletir sobre o sentido de sua existência, tentando encontrar respostas para a morte durante o longo processo de agonia que enfrentou.
Ivan Ilitch já está morto no primeiro capítulo do livro e o leitor é levado até o seu velório. Para seus colegas de trabalho, a morte de Ivan era apenas um detalhe: ao invés de condolências sinceras, eles discutem as vagas e promoções que seriam abertas em razão do seu falecimento. E é com essa elegância e sutileza que Tolstói percorre o mundo mesquinho de homens e mulheres desprovidos de consciência e movidos a interesses ou posições. Pessoas para quem a morte é prerrogativa do vizinho, constituindo-se em realidade distante de si próprios.
Nosso protagonista era um homem medíocre que acreditava viver uma vida digna porque reproduzia leis e atendia aos padrões da elite, um indivíduo sem pensamentos próprios, formado pelas ideias dos outros. Casou-se por status com uma bela mulher, a superficial e exigente Prascóvia Fiodoróvna. Um relacionamento que só trouxe amarguras, reclamações e cobranças, de ambos os lados. Seu trabalho se torna o refúgio para evitar sua família. Percebe-se a crítica de Tolstói contra a hipocrisia dos casamentos sem amor, desejo ou respeito, prática comum à época.
Tornou-se juiz respeitável, com prestígio e alcançando assim uma boa posição social. Enquanto organiza o novo apartamento para impressionar sua família e amigos, ele se machuca. Então desenvolve uma doença terminal. Assim inicia-se todo o sofrimento que o acompanhará até o fim de sua triste e miserável vida. Ivan Ilitch, no ápice de sua dor ainda inexplicável, chega à triste conclusão que viveu uma vida de aparências, sem sentido e vazia.
Os detalhes são tão precisos, pois mesmo sendo narrada em terceira pessoa, a história tem muito aprofundamento na mente de Ivan, que é possível conseguir sentir toda a agonia e tristeza que o personagem vai aos poucos sentindo devido à doença, é um verdadeiro mergulho no personagem e em suas aflições.
O livro é curto, simples e direto: você pode ler em um dia tranquilamente. Mas é capaz de causar as mais diversas sensações em quem se dispõe a lê-lo. Além da morte, Tolstói aborda outros temas em sua obra, fala sobre aspectos sociais, carreira na vida pública, ambição, orgulho, poder e prazer. Ele nos convida a uma profunda e dolorosa reflexão sobre as futilidades da vida e do peso da morte iminente. A clareza e a elegância do estilo de Tolstói são incomparáveis.
Em suma, esse livro é maravilhoso e recomendo para todos que querem explorar a literatura russa.