Guilherme.Boiago 18/04/2024
Nas últimas semanas fui atravessado por essa história profundamente triste e forte, sobre uma mulher negra chamada Kehinde, do reino de Daomé, África, que foi escravizada e trazida ao Brasil no séc. XIX. Aqui, sua família, seu nome e sua religião foram as primeiras coisas que lhe roubaram - mas não seriam as últimas. Sua narrativa, contada em primeira pessoa, se confunde com a própria história do Brasil, marcada por brutal violência, sadismo e por uma perversão que, em alguns momentos, dificulta a continuidade da leitura e causa um nó na garganta. E justamente por isso ela é tão fundamental: para romper com os mitos e as mentiras que disfarçam o gosto amargo da história real que o Brasil continua a ignorar e que, quando contada, sempre foi propositalmente suavizada. É preciso ler a sua história, se envergonhar e se constranger com este passado. Mas também compreender, reconhecer e respeitar toda a resistência, a articulação e o poder criativo dos povos escravizados no movimento de libertação, sem romantizá-lo. É bastante significativo que, na mesma semana em que leio um capítulo em que Kehinde expressa sua preocupação com a educação de seus filhos, saibamos que, 2 sécs. depois, o ENEM de 2021 será o mais branco e elitista da última década. Ainda há quem não consiga (ou insista em não) ver a relação entre essas histórias. Desejo que a história de Kehinde possa chegar a todas as pessoas do meu perfil.