Coruja 02/10/2012Não me lembro agora exatamente onde ouvi pela primeira vez falar de Daytripper - acho que foi a Tayla ou a Angélica que fizeram algum comentário e o nome terminou por ficar em minha cabeça. E aí, quando estive no SANA em Fortaleza, no começo do ano, e dei de cara com ele em promoção, meti-o debaixo do braço com outros dois volumes sem pensar muito no que estava fazendo.
Foi uma decisão precipitada, especialmente se considerar que eu tinha virado o ano fazendo a promessa de que não compraria mais livros até terminar o que tinha à espera nas minhas estantes. Aliás, foram esses volumes que comprei na viagem que me fizeram primeiro quebrar a promessa e me justifiquei dizendo com meus botões que estava viajando e por isso podia comprar livros.
É, eu sei, é uma desculpa ridícula. Por que raios e cargas d’água eu fiquei tentando me justificar para mim mesma, é algo que não posso explicar. E ao longo de todo o ano, continuei não cumprindo a promessa...
Mas tudo bem, porque quando afinal me sentei para ler Daytripper, eu não me arrependi de minha impulsividade. Muito pelo contrário: descobri que tinha uma pequena obra-prima em mãos.
Às primeiras páginas do livro, você talvez se perca entre as idas e vindas, sem entender o que raios está acontecendo. Afinal, não se trata de uma narrativa linear, não existe uma encadeação lógica de fatos (e confesso que quando terminei o segundo capítulo, fiquei me perguntando se estava lendo uma ficção científica com algum tipo de plot sobre viagens no tempo ou dimensões paralelas. Foi só quando terminei a terceira parte que me toquei do que estava acontecendo...).
Cada capítulo de Daytripper é uma possibilidade, um caminho diferente que teria percorrido Brás – nosso protagonista – a depender das escolhas que fizesse. Escritor que começa num jornal como redator de mortuários, em cada parte do livro nós temos a visão de como seria a vida de Brás em tais e tais situações, com as conseqüências em resposta a cada um de seus atos. Cada história – porque os episódios da vida de Brás que nos são apresentados são histórias e vidas quase que completamente independentes – começa com um ponto-chave, decisões pequenas, que vemos então serem capazes de determinar uma inteira existência.
Vivemos com Brás múltiplas encarnações. Somos ora crianças, ora anciãos, lidamos com os anseios sobre qual carreira seguir, o temor de viver à sombra do pai, o encanto e a certeza de um futuro ao cruzar os olhos com uma estranha na faixa de pedestres.
A vida é algo tênue – somos lembrados a cada virar de página – que num único instante pode mudar irremediavelmente e você deve estar consciente que toda e qualquer escolha tem suas conseqüências. Toda ação tem uma reação, por menor que seja. E não há realmente tempo para arrependimentos e somos logo impelidos para novas outras tantas escolhas. Nem sempre é belo, não, mas é necessário.
É a vida, o cotidiano, o hábito. Nada menos que isso. E por isso mesmo, tão importante, tão intrigante e inspirador. “Essa é a história da minha vida. Respire fundo, abra os olhos e feche o livro”.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)