Jonathan Pina 15/09/2018
Os lados de Os sete
No ano de 2000, André Vianco, escritor brasileiro que nasceu em 1975, lançou de forma independente a sua primeira obra: “Os sete”, que o consagraria como um dos principais nomes da literatura brasileira de horror e suspense.
N’Os sete, Vianco nos conta a história de sete vampiros-demonios-x-mans portugueses que são encontrados jazidos há quase 500 anos no fundo do mar gaúcho e que, acidentalmente, são despertados. Com sede de vingança a seus algozes de outros tempos, os malditos pretendem voltar, a todo custo, a Portugal para vingar-se, levando consigo a mulher que os despertou acidentalmente.
Neste romance minha atenção foi chamada pelo fato de as criaturas redescobrirem o mundo contemporâneo nosso; pela consciência e personalidade de algumas delas; pelo grau de empatia por mim sentida aos malditos e aos mocinhos; e, por último, mas não menos importante, pelas referências e a ambientação no Brasil que só um autor tupiniquim nos poderia presentear. O encantamento dos noturnos a cada descoberta de coisas simples do nosso dia a dia - às quais normalmente não prestamos atenção - é descrito de modo instigante. Os vampiros são conscientes do quão amaldiçoados são e não se sentem lá os seres mais privilegiados do mundo. Eles têm sua personalidade e dom único, dom, esse extravampirescos que pode ser positivo quando não se é conservador em relação aos aspectos mais tradicionais dos chupadores-de-sangue. Contudo, o mocinho e a mocinha compõe um casal pé-no-saco. Tiago é o típico personagem-herói cujo amor pela amiga, em quem às vezes dá uns pegas, o torna destemido, imparável. Além disso, o modo como é chamado pela amiga-com-direitos é demasiado nauseante: Titi. Eliana, por sua vez, é um personagem sem atitude, sem voz, que é só arrastado pelo braço para todos os lados, o que não condiz em nada com a sua inteligência, com seu futuro acadêmico promissor, inicialmente descrito ou subentendido. Em contra partida, os vampiros Guilherme, Manuel e, sobretudo Miguel, que também é chamado de Gentil e que é importantíssimo ao desfecho da história, apesar do talvez pouco espaço na trama, equilibram a história com o enfadonho casal. Não podendo deixar de comentar, as referências nos deixadas pelo autor são maravilhosas, vide o telejornal Bom Dia Brasil entre outras tantas. É um horror passado aqui no Brasil, com nomes, cidades e diálogos comuns a nós brasileiros.
Por fim, a narrativa, que começa muito envolvente, perde-se e arrasta-se em alguns pontos até o começo do fim, onde se reencontra, fechando com um bom gancho para sua continuação.
Sua proposta pode ser excelente àqueles que temem vampiros, lobisomens, mortos-vivos etc. Não é o meu caso. Aliás, cheguei até a dar algumas boas risadas com os vampiros, dos quais um se chama Manuel além de ser português, e a revirar os olhos com o fastidioso casal. Não deixa, no entanto, de agradar aos que têm uma preferência maior a outros tipos de terror e de entreter este público.