Ghuyer 14/01/2021
Meu Livro Favorito do Stephen King (talvez)
Stephen King poupa apresentações. “Insônia”, porém, me parece se tratar de um dos trabalhos menos conhecidos, ou menos citados do “Rei do Terror”. Através da republicação das obras do autor pela Editora Suma no Brasil, “Insônia” ganhou novo fôlego, nova edição, e novo público (eu incluído). A reedição do livro se focou quase exclusivamente no fato de a trama deste se entrelaçar com a de “A Torre Negra”, ainda que essa ligação seja passageira — a sinopse da contracapa aposta todas as suas fichas na fama das aventuras do pistoleiro Roland Deschain, protagonista de “A Torre Negra”. Reconheço que eu mesmo só fui atrás de “Insônia” após terminar “A Torre Negra”, e apenas ao ficar sabendo que “Insônia” se relacionava de alguma forma com a épica jornada de Roland e sua turma. De fato, como fã da série, é muito gratificante e recompensador captar as referências e aprender um pouco mais sobre a mitologia daquele universo peculiar e fascinante. Mas a narrativa protagonizada pelo insone septuagenário Ralph Roberts vai muito além de complementar “A Torre Negra”. É uma história que se sustenta perfeitamente bem sozinha, e faz isso com talento. Tanto que esse pode ser o meu livro preferido de Stephen King. O autor abusa um pouco de alguns conceitos vagos que podem ser interpretados como saídas fáceis para situações complexas, ao estilo deus ex machina, mas faz isso de forma tão elegante e coerente com o miolo temático da trama, que eu não consigo ver tal escolha como uma falha criativa. Pelo contrário, essas liberdades tomadas pelo autor para se esquivar de uma suposta responsabilidade em criar regras bem estabelecidas pelas quais sua trama e suas personagens trilharão apenas enriquecem a leitura. “Insônia” versa sobre ideias complicadas e supõe um universo complexo que os próprios personagens não compreendem direito. Qual melhor maneira de suscitar essa sensação no leitor do que deliberadamente não explicando exatamente como tudo aquilo funciona? Lovecraft é endeusado até hoje pelo seu terror cósmico em que mais da metade das coisas não fica clara. King pega carona nessa escola, mas faz a seu próprio modo. São 700 páginas, é um livro bastante longo, mas muito recompensador. Todo o tempo que o autor investe detalhando a rotina mundana, a vida e o luto de Ralph Roberts tem um propósito. Eu raramente me emociono com livros, e ao final de “Insônia” eu estava quase chorando. E isso foi graças a todo longo e cauteloso desenvolvimento trabalhado por King na primeira metade do livro. Toda aquela base tem um valor sem tamanho quando a narrativa se encerra. É muito bom mesmo.