gleicepcouto 20/06/2011A Sociedade decide por você - Um futuro não muito diferente do presente Destino, da autora norte-americana Ally Condie, foi lançado nos EUA em Novembro de 2010, e rapidamente chegou ao Brasil pela editora Suma de Letras, em Abril deste ano. Isso porque o livro, o primeiro de uma trilogia, caminha rumo ao sucesso, chegando a 3ª posição da lista dos mais vendidos do New York Times e se mantendo por 13 semanas no ranking. Os direitos da obra já foram vendidos para mais de trinta países e a Disney ganhou a briga com a Paramount Pictures para adaptar a obra para o cinema.
Eu já sabia disso tudo quando o livro caiu em minhas mãos. Então, imaginem a minha desconfiança. "Óh, céus. Lá vem mais adolescentes com hormônios a flor da pele vivendo em um mundo fantástico, em uma trilogia que podia ser contada em apenas um livro. Desperdício de tempo, dinheiro e neurônios."
Como eu estava enganada. Felizmente.
Destino, narrado em 1ª pessoa pela protagonista Cassia, nos apresenta uma Sociedade futurista, tranquila, saudável e organizada, onde escolhas não estão no menu do dia. A Sociedade decide onde você deve morar, o que comer, onde trabalhar, como se divertir, com quem se casar e quando se deve morrer. Livros, filmes e músicas ficaram reduzidos a uma lista autorizada e escolhida pela Sociedade - todo restante é considerado ilegal, por estar fora dos padrões ditados pelo governo.
A adolescente acredita cegamente nesse modelo de vida que afirma ser justo e livre de falhas. Essa certeza toda, porém, será colocada em xeque após ver um rosto que não é o do seu Par escolhido pela Sociedade – seu melhor amigo Xander – em um microchip que somente deveria conter informações sobre ele. O rosto intruso é de Ky Markham, um vizinho, com quem não mantém muito contato.
Com esse 'incidente' uma sementinha de desejo de escolher é plantada em Cassia, que começa a questionar as imposições da Sociedade e ver que nem tudo é tão perfeito quanto parece. E mais: será que o seu destino é realmente a segurança de ficar com Xander ou o risco de conhecer Ky? Se a Sociedade nunca erra, como e porque apareceu o rosto de Ky no microchip?
Se você levar em consideração o pano de fundo da Sociedade e toda a estrutura de controle das massas, percebemos que Destino não é uma ideia super original e que já vimos isso em outro lugar. É difícil não se lembrar do clássico 1984, de George Orwell, ou do filme Equilibrium, estrelado por Christian Bale.
A diferença aqui é no modo como isso é abordado na história. Não fique preso ao triângulo amoroso. Apesar de ser o grande atrativo do livro, há mais em Destino, muito mais. É uma sutil crítica a certas ditaduras impostas pela sociedade atual e até por nós mesmos.
O romance é jovem, é doce, é pueril... Quase lúdico. Impossível não se render ao relacionamento alegre e de uma vida de Cassia e Xander, ou então aos pequenos e simples (mas perigosos) segredos que ela e Ky compartilham.
A autora consegue fazer você mudar de ideia junto com a protagonista. No início, você realmente acredita que aquele modelo de vida é o ideal, você torce por Cassia e Xander, mas depois torce por ela e Ky. Você sente a angustia da adolescente em meio a tantas descobertas misturadas ao sentimento de culpa que ela tem por começar a pensar diferente.
Cassia não é uma mocinha chata em crise existencial por qualquer assunto banal. Não está somente em dúvida se deve ficar com um garoto ou outro; a grande questão é que ela está em dúvida de deve “viver ou deixar morrer”. Vemos o seu amadurecimento de modo cadenciado e não forçado, no ritmo certo. Tudo faz tanto sentido que, mesmo com o coração na mão e do tamanho de um grão de arroz, você sequer imagina as situações tomando um rumo diferente do escolhido por Ally.
A Suma de Letras está de parabéns por dois motivos: primeiro ao manter a capa original, que é linda (arte de Theresa Evangelista e foto de Samantha Aide), e segundo por ter reduzido o tamanho da fonte utilizada na edição americana, o deixando leve e de fácil manuseio. Nos EUA, o livro parece uma Bíblia de tão grande e pesado – culpa de uma fonte que deve ter sido escolhida a dedo para míopes de cinco graus que perderam seus óculos. A tradução de Lívia de Almeida se manteve fiel ao original e o trio responsável pela revisão (Ana Kronemberger, Lilia Zanetti e Bruna Fiuza) também se saiu bem.
A continuação do livro, Crossed, será lançada em Novembro deste ano nos EUA, mas ainda está sem data de lançamento por aqui. O último livro da série, ainda sem título divulgado, está previsto para sair lá fora em Novembro de 2012.
A minha ansiedade em saber como a história continua faz as datas parecerem distantes, mas sei que a espera vai valer a pena. Ally Condie conseguiu dar vida e cor a uma Sociedade monótona e cinza.