jota 18/09/2011Como dois e dois são cincoFoi inicialmente o título deste livro que me motivou a lê-lo (depois que me informei melhor a respeito, claro). Mattia, o menino, e Alice, a garota, os personagens principais, são crianças "diferentes", que se sentem um tanto estranhas no mundo em que vivem: são, por vezes, hostilizadas pelas famílias e colegas de escola. Usando da analogia: são diferentes como são "especiais" ou "fechados em si mesmos" os números primos, daí o título do livro.
Os capítulos iniciais do livro de Paolo Giordano se passam entre os anos de 1983 e 1995, depois a ação salta para para 2003 e finalmente o livro termina no ano de 2007 (foi publicado em 2008).
Alice, quando garotinha, era obrigada pelo pai a aprender a esquiar, não gostava; sofreu um acidente (em parte causado por ela mesma) e tem uma perna defeituosa e uma enorme cicatriz na coxa. Mattia não apreciava acompanhar a irmã Michela a toda parte, exigência da mãe. Michela apresenta retardamento mental e uma noite ele a deixa sozinha num parque, por algum tempo, para ir a uma festa de crianças; ele sente vergonha da irmã, ainda que a ame. Michela desaparece para sempre - Mattia se sentirá eternamente culpado então. E tem uma forma terrível de expiar sua culpa, que demonstra ao colega Dennis durante uma aula no laboratório do colégio. Tanto, que é expulso. Vai para outra escola e lá conhece Alice – melhor, Alice é que mostra interesse por ele.
Alice e Mattia se tornam unidos, mas de um modo especial, como Giordano escreve à página 113: eles "tinham construido uma amizade defeituosa e assimétrica, feita de longas ausências e muito silêncio, um espaço vazio e limpo em que ambos podiam voltar a respirar, quando as paredes da escola ficavam muito próximas, para ignorar o sentimento de sufocamento." História pontuada de muito sofrimento e dor, mas sempre interessante e nunca piegas.
O tempo passa mais um pouco e Alice busca na fotografia sua salvação; não que ame fotografar, mas sim preparar as máquinas, os filmes, revelá-los, etc., tudo o que precede e se segue a uma foto propriamente. Mattia se volta para a matemática e no futuro sua tese versará sobre a zeta de Riemann (veja sua função na Wikipedia, se interessar). E os números primos do título o acompanham para sempre.
Sabemos que eles são aqueles números divisíveis apenas por um e por si mesmos. Mas existem alguns números primos especiais - os “primos gêmeos”. Números raros como o 11 e o 13, o 17 e o 19, o 41 e o 43, etc. - são casais de números primos muito próximos, separados apenas por um número par, que os impede de tocar-se verdadeiramente. Se agora (em 2003) o matemático Mattia é o número primo gêmeo 11 (ou 17 ou 41...) e a fotógrafa Alice é o 13 (ou 19 ou 43...), o jovem médico Fabio (que cuida da mãe doente de Alice) é o número 12 (ou 18 ou 42...), e se coloca entre eles.
Mattia vai embora da Itália (nunca se diz a cidade deles, seria Turim?), dar aulas e continuar seus estudos matemáticos na terra do sol da meia-noite (também nunca se diz que é a Noruega), Alice se aproxima mais de Fabio, até que um dia, no hospital ela vê... (Aqui não dá para contar mais nada). Mas isso ainda está longe do final. Faltam três ou quatro capítulos para atingirmos a última página, saber como tudo ficará
A resenha foi refeita (com poucas alterações) pois acabei vendo o filme homônimo (produção de 2010), que infelizmente perde muito quando comparado ao livro (como quase sempre acontece). Daí que recebeu uma nota regular no IMDb (em 18.09.2011 é 6,5/10; quando comecei a ler o livro era 6,8/10). Mudaram o final, talvez para agradar aos cinespectadores, os flashbacks são muitos que podem acabar confundindo as pessoas (especialmente quando se trata do acidente de Alice ), os atores não se parecem tanto assim entre si para interpretar os personagens principais durante as diferentes fases da história, aquilo que era sugerido como a Noruega cede lugar à Alemanha, deram sumiço à personagem Nadia, etc.
De volta a Paolo Giordano: A Solidão dos Números Primos prende nossa atenção o tempo todo, é emocionante e comovente na medida certa, sem exageros. Mas não é um daqueles livros para se colocar ao lado das obras dos mestres da literatura universal, ainda que seja bastante superior a muita coisa que se lê por aqui. Então, na minha avaliação mereceria uma nota entre 4,5 e 4,7. Como isso não existe no Skoob, então vou de 5 estrelas mesmo.