Wendell 12/06/2011
Dragões de Éter – Caçadores de Bruxas / Raphael Draccon
Desde sempre eu tento colaborar com a literatura fantástica brasileira, sempre que posso eu apóio novos escritores comprando ou indicando suas obras. Raphael foi um deles. Em 2006 (eu acho) eu entrei na comunidade do livro, acompanhei o desenvolvimento e tal, até que enfim, chegou a tão esperada publicação no ano de 2007. Era meu aniversário, e todos os anos eu peço livros. Eu fui então na livraria para escolher algum livro e iria levar outro (nem lembro mais qual era) daí vi o livro lá escondido num pilha de outros livros, e resolvi dar uma forçinha. Não me arrependi (pelo menos não na primeira leitura). Acho que eu tinha uns 14 anos na época e lembro que devorei no primeiro dia 80 págs., enfim terminei o livro rapidinho e sabem porque ? Vou lhes contar.
Dragões de Éter é um livro que se propõe a desconstruir e reconstruir os contos de fadas, as releituras dessas histórias fofinhas são baseadas nas histórias originais – que por si só já são bastante sinistras, e em inúmeras outras influencias como a mente brilhantemente doentia do Kurt Cobain, as loucuras do Limp Bizkit e a beleza de Final Fantasy. Um pouco ambicioso de mais né não ? Pois é sim. O número de quotes e homenagens é bem grande principalmente as musicais. Por exemplo: Axl é o nome do príncipe, não lembra nem um Axel Rose não ? João e Maria Hanson, Hanson é uma banda bastante conhecida pela sua musica ‘Save Me’ e por ai vai.
Porém o romance não se limita a ser um prato cheio de referencias, na verdade Raphael se apodera dos contos de fadas e os reconta à sua maneira de uma forma bastante surpreendente, e foi justamente essa releitura que me enfeitiçou - um mistério logo no começo do livro também contribuiu bastante.
A história se passa em Nova Ether, mundo criado especialmente para comportar tais histórias, e envolve piratas, reis, príncipes, boxe e fantasia muita fantasia. Esse mundo é protegido pelas fadas poderosos avatares que ‘trabalham’ para os semi-deuses. Isso é uma clara alusão a Deus e seus anjos. Então nos é informado que algumas delas se rebelaram com as atitudes dos humanos e pararam de protegê-los. A magia que era branca tornou-se negra. A precursora dessa revolta foi uma fada chamada Bruja, por isso todas as suas futuras discípulas receberam a alcunha de Bruxa. Bruja, obviamente, é o nosso querido Lulu(cifer). Brincadeirinha. Dá-se inicio então a Era Antiga que foi marcada pelo sangue que provocou seu fim. Primo Branford, o filho de um moleiro, juntou-se com outros homens - que hoje são os mais reconhecidos heróis de Nova Ether, e iniciaram a Caça as Bruxas. Eles deram cabo de todas as feiticeiras, pelo menos achavam eles, até que certo dia, após Primo ter-se tornado Rei por mais de 20 anos sem incidentes, acontece algo muito macabro.
E a partir daí a história se desenrola.
A primeira vez que li, amei, recomendei a muitas gente, emprestei bastante, e hoje vejo muitas pessoas comentando o livro. Porém anos atrás eu não havia adquirido um olhar critico, por isso achei o livro muito bom, mas após a minha releitura, com um olhar mais maduro, percebo erros e incongruências. Mas também tive a oportunidade de realçar as qualidades. Confira abaixo os pontos que achei positivos e negativos.
Primeiro vamos aos pontos fortes do livro:
- Suas releituras: a forma como o Raphael recriou os contos de fadas foi fantástica, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, o Príncipe Encantado, Peter Pan, tudo isso teve uma nova roupagem mais sombria, mais sangrenta e interessante.
- A filosofia que o autor tenta passar, pra mim isso foi muito importante, afinal ele nos mostra a moral de um conto de fadas, mas de uma forma bem mais poética e isso deixa a história mais rica.
- Capítulos curtos, isso contribuiu muito na fluidez do texto. Por serem capítulos muito curtos dava muita vontade de ler pois a empolgação de passar páginas rapidamente só faz atiçar mais a sua vontade. A fonte grande também ajudou.
- Temas pouco usuais numa obra de fantasia medieval, como pugilismo, investigações, drama psicológico e reflexões. Poucos autores desse gênero se aventuram em ir além de jornadas e batalhas com monstros incríveis. Ponto muito positivo
- O humor, Muralha o troll que trabalha de guarda costas do príncipe, o Mestre Anão que nutre uma rivalidade com os trolls, Ariane Narin e as amigas de Maria Hanson me deram bons momentos de humor. Gostei muito disso.
- A estrutura me lembrou, e muito, A Guerra dos Tronos, em que cada capitulo é focado numa personagem, em Dragões de Éter cada pequeno capitulo foca-se numa personagem e no seu ponto de vista, e isso foi legal.
Pontos negativos foram:
- O narrador, eu simplesmente O-D-I-E-I. Beleza que isso é basicamente o autor se comunicando diretamente com o leitor, e isso é bastante legal, mas é também algo muito complicado de se fazer, afinal narrar uma história se intrometendo nela, quebrando ritmo a todo momento, tentando ser carismático e esquecendo-se do mais importante, A HISTÓRIA. Só a partir da pág. 100 mais ou menos é que o narrador começa a desaparecer para dar lugar ao enredo. Esse foi um pecado mortal que quase me fez desistir do livro.
- Erros de ortografia e digitação, em alguns momentos foram bem chatos. Lembro-mede uma passagem em que, se não me engano, ele descrevia o martelo de um personagem e foi descrito mais ou menos assim:
‘... um martelo rústico, ricamente trabalhado e cheio de detalhes .’
Não viram nada de errado ai ? Eu vi.
Significado de Rústico: adj. Relativo ao campo; campestre: terreno rústico. Incivil, grosseiro: indivíduo rústico. Sem acabamento, rude: estilo rústico.
Me expliquem como um objeto pode ser rústico e trabalhado ao mesmo tempo ?
Esses e outros erros acompanham a leitura, mas eu não se eles foram corrigidos pela Leya – pois a minha versão é a antiga, a da editora Planeta. Se foram, bem. Se não foram não fazem muita diferença pois não são erros de continuidade, então podemos deixar passar.
- Repetição de palavras, isso me irritou bastante, principalmente a
palavra ‘esdrúxulo’, por ser uma palavra bastante esdrúxula (perdoe o trocadilho) e não deixei de perceber como ela foi repetida. Claro, muitas e muitas palavras são repetidas em uma única página, mas são palavras comum do cotidiano, agora palavras feito essa ? E isso só foi uma forma de tentar deixar o texto mais rebuscado, mas não colou porque o texto é demasiado simples.
- Forçação de barra, aaah isso foi muuuito muuito chato. Tentar inserir gírias e comportamentos contemporâneos num mundo fantástico como nova Éter ? Não me agradou nem um pouco e eu fiquei bastante incomodado com as loucuras de Ariane, não por não serem legais, eram de fato engraçadas às vezes, mas por não caberem naquele ambiente. Não me convenceu.
Apesar das falhas, o livro mantém um bom ritmo, história criativa –apesar de final previsível, que se deve, provavelmente, ao fato de ser o livro de estréia do autor, e alguns personagens cativantes. Já comprei o segundo livro e vou começar a leitura, espero que este seja ainda melhor.
Leiam e ajudem a fortalecer a literatura fantástica brasileira dando uma chance a esse jovem e talentoso autor.
PS. Eu comentei sobre os erros ortográficos do autor, porém eu também cometi vários, mas eu tô com preguiça de arrumar . ;D