Manoela 09/09/2010Um relato da vida na corteAcho que foi o primeiro livro que li que se passa diretamente dentro de uma corte. Confesso que deve ser encantador, todos aqueles vestidos brilhantes e pomposos, mas não viveria em uma somente para usá-los. Já explico por quê.
Philippa Gregory fez um trabalho muito bom, não só escrevendo, mas com toda a pesquisa que fez sobre Henrique VIII, Ana, Maria e Gorge Bolena e todos as outras personagens da história. A descrição de Henrique não poderia ser melhor: um garoto mimado que, quando se cansava do brinquedo novo, procurava logo outro. Assim foi antes de Maria, assim foi com ela e com sua irmã e com todas as 4 esposas que teve depois das irmãs Bolena, sem contar outras amantes.
O rei da Inglaterra é conquistado pela doçura da Bolena mais nova, mas arrebatado pela personalidade forte e beleza de Ana. Ambas vivem na corte dos Tudor, entre os anos de 1520 e 1540, mais ou menos, e são subestimadas às ordens da família Bolena e Howard assim que seus parentes percebem o interesse do rei.
O alpinismo social é a força motriz. Tudo é tramado, cada fala, cada gesto. Um família querendo derrubar sua rival e conquistar o favor do rei, sempre em busca de melhores títulos e maiores riquezas. Além de toda essa richa familiar, há ainda essa inveja pouco velada entre as irmãs Bolena, afinal, Maria foi trocado por sua irmã. Por isso não gostaria de viver em uma corte como aquela. Qualquer sentimento é mascarado como em seus grandes bailes, tristeza e frustração devem ser transformados em sorrisos radiantes para a alegria de suas majestades. Ana se torna má em sua conquista do trono, está disposta à qualquer coisa que a mantenha na cama do rei e lhe dar um filho legítimo, até mesmo à expulsar uma rainha de sua própria corte.
A autora faz isso muito bem, com os sentimentos bem dividos: a irmã que se apaixonou e foi suplantada e a rainha que ensinou um rei que pode conseguir tudo que quer. Pra mim faltou livro pra tudo. Quis mais do romance de Maria; quis mais de Ana em sua clausura final. Não penso que o final tenha sido corrido. A desconfiança de uma traição não passa diante dos olhos de um rei sem deixar rastro. Ele não conviveria anos com ela, afinal, tinha aprendido com sua nova esposa como consegui as coisas que desejava. E quem conhece a história dessa corte, sabe o fim da familia Bolena.
Como disse no histórico, vale lembrar que é um romance histórico, e não um relato. Fatos que alguns de nós conhecemos como verdadeiros podem estar diferentes aqui, como a paternidade real dos filhos de Maria, aqui tidos como do rei, mas algumas vezes considerados de seu marido depois do romance com Henrique VIII. E o filme baseado na obra, "A Outra", tem ainda mais divergências.
Apesar de suas mais de 600 páginas, parecem muito menos, pois é uma leitura leve e envolvente. Recomendado, com certeza.