Luciano Otaciano 14/05/2024
Livro excelente!
Aqui temos a história que acompanha três irmãos da família Malaquias: Nico, Julia e Antônio. Eles tiveram seus caminhos separados após a inusitada morte dos pais em decorrência de um raio que caiu na casa em que todos eles viviam, aos pés de Serra Morena, em algum canto no interior do Brasil. Nico foi trabalhar em uma fazenda. Julia e Antônio foram para o orfanato. A menina foi adotada. O rapaz, que se descobriu anão, ficou morando com as freiras. O pano de fundo da trama dos irmãos é muito bem construido pela autora, mostrando as rotinas, costumes, crenças, cenários e linguagens de um Brasil interiorano que não existe mais.
A ambientação é tão bem feita que, a história em si, de um improvável reencontro dos três irmãos, acaba ficando em segundo plano, mas sem deixar de ser emocionante. Essa descrição do dia a dia rural ainda ganha novos contornos com toques de realismo fantástico, como pessoas desaparecendo em um bule de café, manifestações de ancestrais mortos através de diferentes matérias físicas e até o surgimento de um povoado formado dentro de um navio atolado em uma caverna, consequência da construção de uma hidrelétrica que redirecionou os caminhos da água na região e mudou o destino dos moradores.
O município fantástico de Serra Morena é o Brasil e mostra o que já foi o interior dos nossos estados. A família Malaquias representa nossos antepassados, quando histórias de desencontros familiares eram comuns, deixando marcas eternas na construção da identidade de nossos sobrenomes. Não esperava que fosse tão memorável pra mim. É isso leitores, este livro aqui agradou-me e surpreendeu-me positivamente.