Os Malaquias

Os Malaquias Andréa del Fuego




Resenhas - Os Malaquias


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Zé Guilherme 18/01/2023

Água turvas para pouca substância.
Se eu pudesse definir esse livro em uma palavra seria pretensioso. A leitura pode ser ágil, mas falta escopo e profundidade na trama narrada. Acaba que todos os Malaquias são estereótipos rasos numa tentativa meio vexaminosa de emular o realismo fantástico do Llosa. Sei lá, decepcionante.
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DêlaMartins 28/12/2022

Desencontros
Nico, Júlia e Antônio ficam órfãos quando crianças, depois que um raio atinge a casa deles, matando os pais. Nico não vai para o orfanato, fica trabalhando com Geraldo Passos, poderoso fazendeiro da região. Júlia é "adotada / explorada" por uma mulher rica e Antônio fica no orfanato porque não consegue ser adotado por sofrer de nanismo.

A história acompanha os irmãos, seus infortúnios e suas poucas alegrias. Pela narrativa passam traficantes de crianças, criação de hidroelétrica, freiras francesas, transatlântico, além do realismo fantástico que surge a todo momento de forma natural, sem explicação, mas sempre dentro do contexto. O ponto central é Serra Morena, zona rural, em MG.

O que mais me prendeu foram os encontros e desencontros. Nico, ao se casar, reencontra Antônio e passam a viver juntos. Júlia não vai ao casamento por conta de alguns contratempos no caminho. Nico sempre tenta encontrar a irmã, sem sucesso.

Livro curto, história interessante com um final angustiante, alinhado à narrativa. Gostei.
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Icaro 15/12/2022

Lindo
Livro lindo, muito bem escrito! Uma história fantástica e envolvente sobre uma família do interior e seus desencontros. Vale a leitura!
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Anderson 13/12/2022

Para quem, como eu, conheceu a autora pelo seu livro mais recente, "A pediatra", pode começar a leitura de "Os Malaquias" com a impressão de que irá encontrar ali um romance brutal sobre perda e dramas familiares, escrito num tom áspero. Tudo isso temos, mas, a certa altura, o livro traz elementos fantásticos que, de certa forma, surpreende quem esperava um realismo cru. O Prêmio José Saramago é uma honraria merecida por esta obra magnífica.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 22/10/2022

O Mistério De Serra Morena
Os Malaquias, de Andréa Del Fuego, foi o vencedor do Prêmio José Saramago em 2011. Primeiro romance da escritora, seu lançamento ficou a cargo da Editora Língua Geral e esgotado há alguns anos, ele acaba de ser reeditado com o selo da Companhia das Letras.

Com 176 páginas, o livro é dedicado às suas personagens, uma escolha pouco usual mas há um motivo para esta escolha. Reunindo fatos e ficção, ele reconta a história dos antepassados da escritora, tendo como epicentro da ação a região de Serra Morena, em Minas Gerais, onde ela costumava passar as férias com os avós maternos.

A narrativa gira em torno do destino de três irmãos após um raio cair sobre a casa da família e provocar a morte dos pais. Relatada nas primeiras páginas, a cena é um dos trechos mais impactantes do livro:

?O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo. Nas crianças, nos três, o coração fazia a diástole, a via expressa estava aberta. O vaso dilatado não perturbou o curso da eletricidade e o raio seguiu pelo funil da aorta. Sem afetar o órgão, os três tiveram queimaduras ínfimas, imperceptíveis.?

Resumidamente, Nico, o primogênito, é acolhido como trabalhador nas terras de Geraldo Passos, o maior fazendeiro da região. Os outros dois, Antônio e Júlia, seguem para para um orfanato de freiras e, enquanto a menina é encaminhado para uma família abastada, o outro, portador de nanismo, que aparenta não ter qualquer serventia, volta a morar com Nico, quando atinge a maioridade.

O desdobramento dos acontecimentos surpreende, a autora é implacável com as personagens e também sabe como capturar a atenção do leitor: uma vez iniciada a leitura, é difícil largar antes do final. Para tanto, ela urde uma trama em que os acontecimentos ma?gicos sa?o relatados de forma cotidiana, ou seja, o sobrenatural na?o e? simples ou o?bvio mas algo ordina?rio, um acontecimento do dia a dia.

Apoiado por capítulos curtos, uma linguagem enxuta mas poética e um estilo fluido, peculiar aos bons contadores de histórias da tradição oral, Os Malaquias prima pelas alegorias e a partir da complexa conciliação entre progresso e preservação ambiental, uma aparente dicotomia, exibe a questão da dualidade. Por sinal, na numerologia, o número dois representa a mediação entre as forças da natureza e outros planos e talvez aí esteja o mistério de Serra Morena.
Patresio.Camilo 23/10/2022minha estante
Como sempre nos presenteando com lindas resenhas!!!




Ana Sá 17/10/2022

Palmas pra Andréa del Fuego
[Mais adiante eu farei um comentário que pode ser um spoiler, então eu coloco um aviso de "PARE!" pra quem quiser garantir uma leitura mais surpreendente!]

Simples assim: eu adorei este livro, e, ao que tudo indica, ele assumirá o posto de melhor leitura do ano. Um livraço, na minha humilde opinião!

Cheguei a este romance através da lista dos vencedores do Prêmio José Saramago e tamanha foi a minha boa surpresa ao descobrir há pouco ele ganhou uma edição à altura pela Companhia das Letras (a partir de uma conversa que tive aqui no Skoob, não tenho dúvidas de que a foto de capa da Língua Geral é a que mais deixa a desejar, pois ela em nada reflete a riqueza do enredo! A da nova edição da Companhia, além de bela, faz muito mais sentido!). Pois bem: antes tarde do que nunca! Premiado em 2011 em Portugal, espero que o livro seja devidamente aclamado de 2022 em diante no Brasil.

A família Malaquias é composta por três irmãos (Nico, Antônio e Júlia) que são separados já no início da narrativa, em decorrência da morte dos pais (inclusive, estes capítulos iniciais já são muito instigantes!). A partir daí, acompanhamos a trajetória dessas crianças até a vida adulta: um deles se torna imediatamente funcionário de uma fazenda próxima; o outro vai morar com freiras em um orfanato; já a menina passa por uma daqueles processos de "adoção-exploração doméstica" por parte de uma mulher rica que reside em outra cidade. Embora Del Fuego nos apresente uma linguagem concisa e seca, marcada por frases curtas, a obra consegue nos dar uma visão ampliada da personalidade de cada personagem. Suas idas e vindas, seus encontros e desencontros, nos colocam diante de uma obra que, de frase em frase, de ponto em ponto, constrói uma leitura interessantíssima de uma parte (histórica, geográfica, simbólica) do Brasil. Isso porque a narrativa se desenvolve em uma zona rural denominada Serra Morena, um cenário que nos remete a paisagens do interior de Minas Gerais, por exemplo, tendo como acontecimento-chave a chegada de uma hidrelétrica. Eis a eletricidade como símbolo daquele "progresso" que, ao expulsar as pessoas de casa, pode nos levar a questionar: "progresso pra quem?". Eu digo que "pode" porque o romance não parece ter em seu projeto textual um compromisso com a denúncia social, ao menos não de forma evidente. Suas muitas camadas passam por diferentes questões sociais, mas são também diversos os caminhos de leitura que podemos percorrer, sobretudo devido à cereja que é colocada no topo deste bolo literário: seu diálogo com formas do realismo fantástico/mágico (e perdoem a minha anarquia conceitual).

Na minha leitura, Andréa del Fuego é genial no modo como manuseia o insólito! Aqui, merecem destaque as personagens Geraldo e Geraldina que eu consideraria secundárias se não fossem as passagens, mesmo que pontuais, em que a autora os faz brilhar. Eles ficarão em mim como personagens secundárias das mais inesquecíveis. Eles me fizeram lembrar de quando me explicaram que, na literatura, a junção do termo "realismo" a adjetivos que remetem ao extraordinário se justifica em casos nos quais algo nos causa estranheza ao mesmo tempo em que não deixa de nos soar familiar. E é isso que vi em Os Malaquias... Serra Morena é e não é uma Minas Gerais. E esse entrelugar que Del Fuego nos propõe certamente vale a visita! Nele, eu entrei seduzida e parti com saudades (que cena final, aliás!).

Imagino que seu aclamado romance A Pediatra (que eu ainda não li) seja muito diferente de Os Malaquias, ao menos é essa a impressão que a sinopse do primeiro me dá. Se eu estiver certa, se Andréa del Fuego tiver mesmo uma escrita versátil, capaz de transitar do rural ao urbano, do social ao íntimo, maior ainda será a minha vontade de acompanhar o seu trabalho.

[PARE! O comentário a seguir pode ferir pessoas sensíveis a spoilers!]

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Por fim, como sempre acontece quando surge um elemento extraordinário na literatura latino-americana, não falta quem diga: "isso me lembra García Márquez". Sim, este livro vai mexer nesta memória literária sim, mas... A meu ver, há aqui um diálogo literário que salta ainda mais aos olhos, sendo ele, por si só, um spoiler: Serra Morena também me levou de volta a Comala, ao passeio que fiz ao lado de Pedro Páramo... Para uma leitora de Juan Rulfo, meia palavra basta.
DIRCE 20/10/2022minha estante
Menina. sua resenha me amedrontou. Eu me senti incapaz de resenhar esse livro. MA-RA-VI-LHO-SA.


Ana Sá 21/10/2022minha estante
Dirce, que alegria ler um elogio assim, sobretudo de quem se encantou com o livro como eu! :) Fico feliz em representar o fã do clube dos Malaquias! rs Obrigada! ??


Dhewyd 11/12/2022minha estante
Que bela resenha... nunca ouvira falar desse livro, mas já estou buscando ir atrás rsrs...


DêlaMartins 11/12/2022minha estante
Entrou na minha lista "Quero ler "! Gostei da Andrea del Fuego qdo li "A pediatra", agora fiquei curiosa com "Os Malaquias ".


Ana Sá 12/12/2022minha estante
Angela e Dhewyd, se lerem, voltem aqui pra gente trocar ideia! :) Eu adoraria saber o que vcs acharam!


João Pedro 19/06/2023minha estante
Descobri esse livro há pouco ouvindo um podcast - apesar de já ter ouvido falar em Andrea Del Fuego. Aí vim aqui adicionar o livro na minha lista do Skoob e me deparo com essa sua resenha, Ana. A vontade de ler esse livro agora está nas alturas, preciso nem dizer rs


NatAlia.Beani 18/02/2024minha estante
Adorei sua resenha! Estou apaixonada pelos personagens!


Ana Sá 18/02/2024minha estante
João, o Skoob nem sempre nos entrega as notificações, só agora vi seu comentário! Fiquei tão feliz! Será que vc já leu? Fiquei curiosa pra saber sua opinião!!


Ana Sá 18/02/2024minha estante
Obrigada, Natalia!! Guardo algumas personagens na memória tb, é especial, né? ??


João Pedro 19/02/2024minha estante
Ana, confesso que o livro se perdeu na minha infindável lista de desejos de leitura rs Ainda não o li, mas agradeço pelo lembrete agora com essa notificação hehe


Ana Clô 29/04/2024minha estante
Nossa disse tudo! Livro arrebatador!




Neilson.Medeiros 12/10/2022

Os vínculos familiares. Esses fios invisíveis que nos atam aos que hoje aqui estão e aos que antes aqui estiveram. Com a leitura de Os Malaquias, pude ter uma vista panorâmica do vale onde ancestralidade e descendência vibram. Também dá para avistar o desencontro, esse fio do qual comungamos. Por meio de um raio fulminante que acerta uma família, pais e filhos se desencontram. Os irmãos se desencontram. E assim a cadeia se amplia. Com Os Malaquias e sua escrita afiada, bem pesada, mágica e duramente real, pude ver que, mais do desencontro, a vida se inunda com os reencontros: o homem nasce, cresce, constitui família e morre. E depois disso fica a essência: um sopro, uma gota, um grão ou uma faísca. E tudo retorna.
Em outro nível de sentido, fica a reflexão sobre o progresso, essa máquina que acende luzes e transplanta cidades inteiras. O mesmo progresso que delira em nós com promessas é aquele que apaga as luzes na primeira oportunidade. Serra Morena abriga um vale dentro de um vale, um espelho que inverte o mundo aparentemente único de possibilidade. Não à toa a família tem forte relação com esse mundo escondido. Uma família partida ao meio por um raio reencontra-se a vida toda com ela mesma, nunca a mesma de antes, mas sempre vendo de cima, do alto do vale, o progresso presente no dono da fazenda, na hidrelétrica que inunda tudo ou na catraca da rodoviária.
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Andreia 11/10/2022

Esse foi meu primeiro contato com a escrita da autora e eu gostei, não se tornou um livro favoritado, mas tive uma boa experiência de leitura! Em Os Malaquias vamos conhecer a história dos irmãos Nico, Júlia e Antônio que perdem os pais muito cedo e acabam sendo separados. Vamos conhecer a história dos três desde a infância até a fase adulta.

Nico, o mais velho, é levado por um grande fazendeiro da região para trabalhar para ele. Júlia é adotada por uma família, mas ao invés de ser tratada como filha, acaba se tornando empregada doméstica da casa. Antônio, que é anão, fica aos cuidados das freiras do orfanato, já que nenhuma família se interessa em adotá-lo.

O livro traz situações realistas e que com certeza são a realidade de muitas crianças pobres no Brasil, que acabam ficando órfãs. A autora mescla essas situações duras e reais, com elementos de realismo mágico. Aliado a isso, ela cria uma ambientação incrível da paisagem rural brasileira, fazendo o leitor se sentir transportado para Serra Morena, local no qual a história se passa.

Apesar disso, senti falta de mais aprofundamento. Acredito que, caso tivesse menos personagens ou mais páginas, a autora poderia ter explorado mais a personalidade e as motivações dos irmãos. Em algumas situações, eu fiquei sem entender o porquê da decisão de alguns personagens. Apesar disso, achei uma boa história e recomendo a leitura!
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Marconi Moura 08/01/2022

8,5
Uma pequena novela, de leitura rápida, capítulos curtos, mas em edição bonita e de leitura agradável. A escrita da autora é primorosa, frases curtas, fortes. Um estilo cheio de simbolismos, num cenário de realismo fantástico, numa interseção nebulosa entre vida e morte, ao estilo de Juan Rulfo (em Pedro Páramo).
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Toni 10/07/2021

Leitura 45 de 2021

Os malaquias [2010]
Andrea del Fuego (SP, 1975-)
Língua Geral, 276 p.

Os malaquias tem início com um raio atingindo a casa de uma família no interior de Minas no início do sec. XX. A partir desse rasgo natural muitos rasgos humanos se sucedem: cortes que irão determinar a vida dos irmãos Malaquias sobreviventes e a própria estrutura do romance, composto por capítulos breves que formam um delicado quadro familiar e rural. A linguagem, de uma prosa poética burilada e econômica, privilegia a apresentação de cenas, como se a voz narrativa se mantivesse o mais transparente possível e nos colocasse frente a frente com suas personagens, criações cativantes desencontradas em um mundo em constante transformação.

Vencedor do prêmio José Saramago em 2011, Os malaquias acompanha as vidas de Júlia, Antônio e Nico que seguem diferentes caminhos após a morte dos pais, mas também apresenta um pedaço da história do Brasil, da dizimação de índios cataguazes por bandeirantes à criação da hidrelétrica de Furnas que trouxe energia elétrica à região. Serra Morena, onde se passa boa parte do romance, é um lugar “úmido, íngreme e fértil”, três adjetivos que formam a atmosfera mágica de dificuldade, agruras e contingência que a história carregará. A ausência de um filtro narrativo explícito contribui, muito acertadamente, à sensação de que o maravilhoso ou insólito de algumas cenas nunca seja efetivamente explicado, incorporando-se com naturalidade à narrativa e às nossas leituras metafóricas.

Infelizmente o livro encontra-se esgotado, mas logo mais ganhará reedição pela Cia. das Letras. Eu não poderia recomendá-lo mais. Como tive oportunidade de dizer à autora em nosso encontro Herdeiras de Saramago do último domingo, o livro me apresentou um dos capítulos mais bonitos que já li na VI-DA, quando a matéria de uma personagem (já morta e líquida e parte da terra que a absorveu) se une ao substrato de seu filho, também morto, ao encontraram-se numa gota de suor arremessada ao ar. É bem difícil não se emocionar com esta história e não sair dela desejando, assim como o fez a autora, inscrever nossos antepassados na infinitude da literatura.
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Goimar 04/06/2020

Na águas del Fuego
Há livros que nos tiram da rota. São como naves que abduzem, absorvem, puxam para si. Ímãs em forma de texto, título, capa, contracapa, lombada, textura, cheiro. Então a gente se deixa levar por essas máquinas de sonhos que nos conduzem a outros mundos, fronteiras, tempos, dimensões. Passamos a viver a vida de outro. E mais outro. E quantos mais existirem nas histórias. Transitamos na curva das páginas, no horizonte das linhas, no vão das entrelinhas. Caminhos que nos apresentam diferentes cenários, ambientes, atmosferas. E uma vez lá, nossa própria vida vira quimera. Buraco de Alice. Tornado de Dorothy. Estamos no “para além”. Não há mais aqui nem agora (tampouco o mundo lá fora).
Foi assim que me senti ao entrar de corpo e alma no tempo e no vento de Os malaquias, primeiro romance de Andréa del Fuego (em edição caprichada da Editora Língua Geral, 2010). Um texto maduro. Fruta carnuda colhida na hora certa. Narrativa de versos lindamente disfarçados de prosa.
E no exercício de um paradoxo delicioso, a moça do fogo contradiz seu pseudônimo e nos presenteia com águas de rio. De mar. De uma hidrelétrica que se instalará em local de desvario. Lugar de falas pausadas. Longos silêncios varrendo uma terra fértil de dramas e de planícies poéticas. Espaço sob medida para adventos misteriosos capazes de inundar a vida dos habitantes de Serra Morena, onde se passa boa parte da trama.
Nesse solo encharcado de enigmas, um raio lançado pela flecha da tempestade é o divisor das águas que separam as crianças Nico, Júlia e Antônio Malaquias, irmãos que, do tal raio em diante, viverão experiências inundadas de real e de surreal. Trindade de solidões entranhadas. Tríade de memórias dispersas que, um dia, talvez, poderão se unir como peças de um quebra-cabeças.
Andrea burilou o texto. Teceu. Tramou. E deu à luz dizeres prenhes de símbolos, códigos e nuances. E munida de seu fuego, a moça aqueceu, cozinhou e nos serviu um relato polvilhado de episódios fantásticos dispostos em capítulos que lembram notas em sobressalto: stacatto. Suspensão de tempos e espaços.
Na noite em que comecei a ler, fiquei tão impressionada que, por vezes, pensei ter tido febre. Calafrios. Espécie de desmaio em beira de rio. Sensação de frio na barriga – como quando a gente desliza pelo arco-íris. Mas o que foi aquilo, afinal? Ouso dizer que foi misto de delírio e de vício. Dependência de virar a página. Vontade de saber tudo sobre os personagens. Muitos deles duplos irmanados e recorrentes, como o casal de crianças gêmeas e as velhas também gêmeas que, assim como vêm, se vão na poeira do chão; as freiras que, por assim dizer, eram gêmeas de hábito e de coração; o empregado e o patrão; a apatia e a tentação e, vertigem suprema(!), os ectoplamas se enlaçando em danças fluidas, geracionais.
Um livro escrito sob o signo das águas que insistem em fazer de Serra Morena e de seus moradores um campo fecundo para a literatura da maior qualidade. Obra-prima. Puro deleite e, verdade seja dita, também lamento: posto que nunca mais poderei lê-la com o coração banhado pelo líquido pleno de expectativas que abarca todas as primeiras vezes em que fazemos ou sentimos algo importante ou definitivo. Verdadeiramente definitivo: como navegar em meio ao Fuego.
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Lí­lian 31/05/2020

Leitura dinâmica. História de mtos personagens e uma agonia interminável.
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RaissaBDA 20/04/2019

Realismo fantástico memorável
Ganhador do Premio José Saramago em 2011, da autora paulista Andrea del Fuego.

Conta a história dos três irmãos Malaquias, que ficam órfãos após a morte dos pais por um raio.
São separados e tem adoções um tanto "duvidosas" - para trabalhar em uma fazenda, em uma casa de família árabe e o mais novo, que é "adotado" pelas freiras por ser anão e rejeitado.
O livro, apesar de focar na família, agrega e narra o percurso de outros personagens que enriquecem bastante a história.

Com toques de realismo fantástico - para mim lembram Juan Rulfo e o próprio Garcia Marques - a autora encanta e magnetiza.
Transforma elementos palpáveis em fantasia. Ainda assim, vemos a denuncia da realidade em que pessoas são tratadas como propriedade.
Somado aos capítulos curtos, o livro torna-se delicioso.
O tipo de historia que fica marcada na memória e merece uma releitura.
Mais resenhas no Instagram @literaturavip. Passa lá!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 15/11/2018

Andréa del Fuego - Os Malaquias
Editora Língua Geral - 272 páginas - Lançamento 2010.

Seguindo um caminho diferente de outros autores da nossa literatura contemporânea, Andrea del Fuego, vencedora do prêmio José Saramago 2011, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2011 e Jabuti 2011, se afasta dos grandes centros urbanos para focar a sua narrativa em regiões mágicas e indefinidas do interior brasileiro, mas o seu romance bem poderia ser ambientado em qualquer outro país porque o que Andrea consegue, com sua linguagem única e cuidadosa, é chegar mais perto do universal através das pequenas tragédias humanas.

Esta é a história de Nico, Júlia e Antônio, os três irmãos Malaquias que, muito novos, se tornam órfãos quando um raio cai sobre a casa da família e provoca a morte dos pais, nesta passagem que exemplifica muito bem o estilo de Andrea, uma estranha e criativa mistura de poesia e matéria: "O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."

Segundo a própria Andrea del Fuego explicou em entrevista, o romance é uma oferenda aos seus antepassados já que mistura fatos reais com ficção, as personagens Júlia e Antônio, por exemplo, representam seus tios-avós e Nico, seu avô. Andrea del Fuego vem resgatar com muita propriedade o realismo fantástico, um estilo já um pouco esquecido e desgastado na literatura latino-americana, mas que ganha novo fôlego nesta obra que é pura poesia.
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Biblioteca Álvaro Guerra 13/06/2018

"[...] A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra.[...]"

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788560160501
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