@literatoando 02/08/2020Premissa boa que deu errado e passou looonge do terrorO livro conta a história de Ig, suspeito do estupro e assassinato de sua ex namorada, Merrin. Ele é morador de uma cidadezinha em que é odiado por todos, já que acreditam veementemente que é um assassino. A história, no entanto, inicia quando ele acorda, um ano após a morte da ex, com dor de cabeça e descobre o surgimento de pequenos chifres em sua testa. Com o decorrer do dia, Ig entende que esses chifres conferem o poder de retirar das pessoas, sem fazer esforço algum, confissões escabrosas que, sem estar sob efeito dessa ?magia?, elas jamais colocariam para fora. Deste modo, é compreensível que o autor crie personagens que vão tocar em assuntos que podem ser profundamente desprezíveis como desejos relacionados a pedofilia, homofobia, adultério, dentre outros tabus sociais, sem o menor comprometimento em serem ?politicamente correto?, o que significa dizer que seus personagens desrespeitam vários grupos sociais.
Até aí, estaria tudo bem, se isso não ultrapassasse os personagens e algumas escolhas do autor não explicitassem suas próprias crenças. A exemplo disso, percebemos durante todo o enredo uma descartabilidade gritante das personagens femininas e os personagens masculinos sempre as tratando como se fossem uma propriedade. A própria amada do Ig tem um mistério que a envolve, mas ela é extremamente sem personalidade. Nenhum personagem é cativante e eu não consegui torcer por ninguém, até as mortes que houveram foram completamente insignificantes pra mim. Tem trechos gordofóbicos ao se referir ao caso romântico do Ig, em que o autor insinua que a personagem gorda quando vai fazer sexo com o ele corre o risco de asfixiá-lo pelo seu peso e coisas desse tipo.
O início até o meio, mais ou menos, é bem interessante. Mas parece que daí em diante, a coisa toda desanda. Inclusive, para pessoas muito fiéis, principalmente às religiões cristãs, podem se sentir ofendidas com alguns trechos, já que o autor é bem ?herege?, desafiando a igreja desde as primeiras páginas. Apesar das partes mais interessantes do livro, pela ousadia de algumas ideias, serem recheadas de ataques religiosos, peca em algumas das milhares de divagações eclesiásticas que faz, sendo uma delas a coisa mais bizarra que já li e olha que já li MUITA coisa bizarra. Além disso, em muitos pontos, Joe Hill não consegue utilizar o dom da sutileza, fazendo com que algumas cenas fiquem jogadas e chatas, enquanto outras obviamente são para explicar algo que vai acontecer mais a frente. Fora a tentativa de ser subversivo que é bem óbvia durante todo o livro. Na parte ?O Sermão de Fogo?, tem uns capítulos tão chatos que chega me deu sono e fui dormir.
O ponto alto desse livro são as cenas da infância, que são bem construídas e divertidas, de resto, tem muitas explicações ilógicas ou desinteressantes, apesar da premissa ser bem instigante. Um terror bizarro, que não dá medo e politicamente incorreto, combinação catastrófica, mas que tinha uma premissa com tudo para dar certo. Dou 2 estrelas, porque tenho pena de dar uma.