Resenhas - Uma Paixão Simples

Mari 30/04/2024

Annie Ernaux e sua potência em forma de escrita, sabe descrever perfeitamente como é sentir uma paixão e como essa experiência modifica a vida.
Durante a leitura, experimentei emoções diversas, primeiro achei os sentimentos e pensamentos totalmente exagerados, mas depois fui procurando em mim mesma as vezes em que me apaixonei e vi que os sentimentos narrados são de fato exacerbados, mas não menos verdadeiros e não menos transformadores.
Annie captura perfeitamente no final do livro o sentimento, que eu jamais poderia por em palavras, que sinto em relação às minhas próprias paixões passadas: se tornaram lembranças vagas e que não dizem absolutamente nada sobre os homens e sim, tudo sobre como me mudou.
Essa leitura fala sobre o poder transformador da paixão e vai ressoar profundamente em quem já um "idiota apaixonado" rs.

mariana113 27/02/2024

Paixão simples(mente avassaladora)
Annie Ernaux apareceu pra mim no momento certo com o livro certo. Senti, pela primeira vez, que era uma adulta, com problemas de adulta, lendo livros de adulta.
A autora apresenta em ?paixão simples' a paixão como algo tão físico que se torna sua própria personagem, alheia à autora .
?Ele me disse "você não vai escrever um livro sobre mim". Ora, mas não escrevi um livro sobre ele, nem sobre mim mesma. Apenas expressei com palavras - que talvez ele nem leia, e que não são destinadas a ele - o que a existência dele, por si só, me trouxe.?
Descrevendo relacionamentos de uma mulher já madura, a francesa narra com assustadora precisão os lados mais íntimos e profundos da paixão. Ao relatar que conta a passagem do tempo com base na presença ou ausência de seu amado (A.), um homem casado, Annie relata a ansiedade e angústia da espera, a falta do presente, o luto pelo futuro e a necessidade do passado de maneira brilhantemente intensa. A ganhadora do Nobel de literatura fascina ao usar a linguagem e estilística do texto ao seu favor, demonstrando neles o estado de espírito, esperanças e desejos da protagonista (ela mesma).
Annie Ernaux é o tipo de autora que prende sua atenção e permeia seus sonhos e pensamentos até que você encontre o desfecho de sua obra. A escritora definitivamente entrou para minha lista de favoritas e me explicou muito sobre mim mesma. Estou definitivamente apaixonada por suas escritas.

?O certo é que não sinto nenhuma vergonha ao escrever essas coisas graças ao intervalo que separa o momento em que elas são escritas, em que estou sozinha observando-as, do momento em que elas serão lidas por outras pessoas, o qual, tenho a impressão, nunca vai chegar. (?) É esse intervalo de tempo que me permite escrever hoje - um pouco como aos dezesseis anos eu ficava deitada tomando sol um dia inteiro ou como aos vinte fazia amor sem contraceptivos:
sem pensar nas consequências.
(É, portanto, um erro equiparar quem escreve sobre a própria vida com um exibicionista, pois este último tem apenas um desejo, mostrar-se e ser visto no mesmo instante.)?

isabel 07/11/2023

Eu esqueci que o skoob existia e estou com preguiça de logar os livros q li desde minha ultima atividade (na real eu nem lembro de todos), mas ENFIM, achei esse livro muito patético. o final foi realmente muito bom, muito bem escrito, mas na maior parte do livro eu só conseguia pensar "que homem nojento" e "que mulher patética".

alenikollas 04/04/2023

Romance fugaz
Em "Passion simple" (Paixão Simples), Annie Ernaux nos apresenta exatamente o que traz o título, uma paixão simples, o ato involuntário de se apaixonar, sem saber como ou porque, por uma pessoa.

O livro é um relato de sua experiência, de sua paixão obsessiva por um homem. Dentro desse relato, Annie expõe como tudo girou em torno de sua paixão durante o tempo em que ela durou, sem que qualquer outra atividade pudesse desvia-la do seu pensamento por esse homem: "A partir do mês de setembro do ano passado, eu não fiz nada além de esperar um homem: que ele me telefonasse e que ele viesse à minha casa."

Sua experiência tão intensa quanto obsessiva, pode ser surpreendente ou causar certo desconforto - como viver apenas por uma paixão? - mas, ao mesmo tempo, é intima e real. Quantas pessoas não vivem um período de ansiedade em que tudo gira em torno da mesma coisa?

A escrita de Annie é maravilhosa e ela te puxa para dentro da sua experiência de uma forma tão intimista que facilmente podemos tomar como uma conhecida. Assim como para os leitores, para Annie a escrita também deve ser surpreendente: "Me parece que a escrita deve se aproximar a isso, essa impressão que causa o ato sexual, de angustia e estupor, uma suspensão do julgamento moral."

Ivandro Menezes 15/04/2023

É possível prever quando e por quem se apaixonar? É possível ter algum controle sobre o que acontece quando nos vemos envolvidos com alguém? Annie Ernaux, com a elegância quase etnográfica de sua prosa descortina os meandros de uma paixão avassaladora e seu deslocamento na fulgacidade inerente à vida.

Com sua prosa cercada de elementos e aspectos biográficos, Ernaux constrói um romance permeado pela tensão íntima e pessoal de um mulher envolvida num caso extraconjugal com um estrangeiro. Como de costume, não é o tema que enriquece a obra, mas a habilidade da autora em se distanciar de si e, a partir de um olhar quase alienígena, olhar para si como quem encontra outra.

Olhar para si é também olhar para os seus, pro seu tempo e seu contexto. Ernaux compreendeu que pouco provém de dentro. Somos atravessados pelos costumes, pela tradição, pelo lugar em que fomos postos e nos papéis nos dado a desempenhar. Ela recusa esse papel de amante, de traidora, para abraçar a fidelidade ao desejo e ao bem-estar, permitindo-se viver e elaborar com a passagem do tempo os augúrios da paixão e do desejo.

Dentro do conjunto de sua obra, Paixão Simples parece ocupar um lugar inicial, apontando para o estilo que viria a desenvolver. Guarda muito da autoficção e atina para a quebra que definiria o estilo bem afiado em romances como O lugar e O acontecimento.

Um bom livro.

Letícia 24/04/2023

O maior luxo é a chance de viver uma paixão
Annie Ernaux é uma das minhas autoras preferidas, mas não pensei que Paixão Simples pudesse me impactar tanto quanto Os Anos, O Lugar ou O Acontecimento. Que grata surpresa foi chegar ao fim deste pequeno tesouro e perceber que, sim, Ernaux sempre me mobiliza e me afeta profundamente.

?Descobri do que podemos ser capazes, ou seja, de tudo: desejos sublimes ou mortais, falta de dignidade, crendices e condutas que eu julgava insensatas nos outros umas vez que eu própria não as havia experimentado. Sem saber, ele estreitou minha conexão com o mundo.?

Gosto especialmente de como a autora aborda a questão da memória. Aqui, além de retomar a ideia de tempo palimpsesto apresentada em Os Anos, ela reflete sobre a repetição como forma de elaboração do luto e de como é tênue a linha que separa a rememoração da loucura.

Também gostei bastante de como ela retoma O Acontecimento em determinado trecho, algo que eu não esperava. E, claro, ela amarra isso tudo com perfeição.

?Ora, mas não escrevi um livro sobre ele, nem sobre mim mesma. Apenas expressei com palavras - que talvez ele nem leia, e que não são destinadas a ele - o que a existência dele, por si só, me trouxe. Um tipo de dom reverso.?

Paulo 22/10/2023

Perspectiva da paixão pela apaixonada
Trata-se um aparente relato pessoal de uma paixão vivida por uma mulher madura em todas suas fases, incluindo a entrega e a negação.
A autora, vencedora de Nobel de literatura, consegue transformar sentimentos e sensações em palavras como poucos.

Julia 19/04/2024

Então, conheci Annie Ernaux
Primeiro contato com Annie Ernaux, autora tão aclamada na França e ao saber que ela escrevia sobre o amor em sua própria vida, chamou meu interesse imediatamente. Eu estava precisando me conectar mais com as energias femininas, o sentimentalismo e tudo o que envolve, e tocar nisso através de uma não-ficção foi uma baita experiência.

Eu não tenho o hábito de ler não-ficção, então deixei um pouco minha crítica de lado e me entreguei na leitura. Nem eu estou levando essas 4 estrelas tão a sério, pois eu gostei muito do livro em si, ele é muito único.

Aqui Annie se abre e discorre sobre o período em que foi obcecada por um homem, e ela viveu a paixão e a experiência mais surreal da vida dela. A gente se identifica com os sentimentos, mesmo que nunca tenhamos passado por isso, de tão humano e "gente como a gente" a escrita dela é.

Vale demais conhecer a autora...

Krol.Veras 03/03/2024

Gatilhos
Eu me vi nessa narrativa, pois assim como a narradora eu também já fiquei nesse estado de obsessão por uma pessoa; sei como é viver essa aflição, esse aperto no peito e dependência emocional por alguém que não sente nem um por cento do que é oferecido. Confesso que os relatos mexeram comigo, porque toca em uma fase que não está muito distante e que só de lembrar já me sinto mal.

Pedro.Gondim 17/07/2023

Uma paixão verdadeiramente avassaladora
?O tempo da escrita não tem nada a ver com o tempo da paixão.? (p. 47) .

Carol 27/07/2023

LOCAYPREMIADA
Livro curto, bem objetivo. Fiquei super interessada para ler os outros livros dela. Ela escreve muito bem e é honestamente convincente ao relatar o apogeu de uma paixão.

gio 26/01/2024

Anne Ernaux representa todas as mulheres apaixonadas
?Paixão Simples", de Anne Ernaux, envolve o leitor em uma jornada íntima e comovente, através da paixão, da perda e do processo de superação da autora. A capacidade de Anne de capturar e descrever as emoções humanas torna a leitura rápida e fluída.

Mari 10/09/2023

Paixão Simples é autobiográfico, sobre uma mulher que viveu um relacionamento com um homem casado, e sobre isso conta como foi viver sua vida no automático, ver a vida girar em torno dessa relação. É sobre o sentimento da paixão avassaladora, mas também sobre a experiência da tristeza profunda, e a linha tênue entre a paixão, a obsessão, e tantos outros sentimentos que o campo do proibido despertou e fez ela capaz de sentir.
Annie mostra como passou pra um estado de simples existência, no qual descobriu sua pior inimiga: a própria imaginação. É difícil ler sobre uma vida que se transforma no tempo passando, e uma contagem dos dias com base no dia em que ele iria embora. E, ainda, para ela, a pior das sensações: quando ele realmente foi. Depois de ler a resenha do Pedro, enxerguei o livro que, diferente do título, de simples não tem nada; é o relato da paixão ?como um buraco negro que suga todos os nossos pensamentos e energia?.
O livro não tem nem 60 páginas, mas passei cada parágrafo esperando que ele acabasse logo. Mesmo assim, achei um melhor cenário do que o de Annie Ernaux, que passou 43 anos esperando o dia que aquilo não significaria mais nada. A quinta estrela da avaliação foi por mera compaixão.
Procurando, aleatoriamente, algo que marquei, encontrei: ?Eu tivera o privilégio de viver desde o começo, de modo constante e em plena consciência, aquilo que depois sempre acabamos descobrindo, imersos em estupor e angústia: que o homem que amamos é um completo estranho.?

Lauracnh 01/10/2023

Paixão Simples, de Annie Ernaux
Começo a resenha dizendo o que mais me impressionou sobre o livro foi a escrita precisa, direta e muito corajosa da autora. Os sentimentos são colocados de maneira honesta, você quase sente o que ela sentiu. Uma paixão avassaladora por um homem casado e fora de alcance por vários motivos. Meu primeiro livro lido da autora e não poderia ter começado por outro. Recomendo muito!

Rafael.Montoito 31/12/2023

Paixão avassaladora
Em apenas 60 páginas, Annie Ernaux, vencedora do Nobel de Literatura de 2022, destrincha as diversas camadas de uma paixão proibida.
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Neste pequeno relato autobiográfico, a autora conta o romance que teve com A., homem casado, estrangeiro, que viveu na França por algum tempo; ela conta sobre como ele consumia seus pensamentos, que pareciam só existir para ele, e seu tempo, já que ele era a medida de tudo: "há uma semana o vi"; "há quinze horas estávamos juntos"; "mês passado vim neste lugar na companhia de A." etc.
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Apaixonada, Ernaux percebe que até os objetos triviais de seu apartamento ganham outro significado depois que A. os toca, ela lhe escreve cartas que não pode enviar, ouve sua voz mesmo quando está sozinha, e outros devaneios que toda pessoa que já esteve fortemente apaixonada já experienciou.
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A potência da obra de Ernaux está, deste modo, na universalidade: senti-me atravessado por vários de seus relatos, pois já senti amores e desesperos parecidos, e também já fiquei à mercê do tempo que parece não passar entre um encontro e outro, ou quando a paixão acaba.
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Com escrita direta e cirúrgica, a autora nos faz pensar que, quando nos apaixonamos, abrimos portas - e exceções - desconhecidas de nós mesmos, e nisso pode-se dizer que todas as pessoas que se apaixonam se igualam, pois o "eu" individual de cada um desaparece, para dar lugar ao simples instinto comum a todos.