@ARaphaDoEqualize 22/05/2011
[Resenha] Apátrida
RESENHA ESCRITA PARA O BLOG http://equalizedaleitura.blogspot.com
Recebi o livro pelo Book Tour do Selo Brasileiro. E está sendo muito difícil ter a responsabilidade de escrever a resenha de Apátrida. Há vários meses que eu venho vendo a divulgação em vários blogs falando sobre o livro e não li resenhas para não pegar spoillers. Então, vou tentar contar pra vocês como foi a minha experiência com Apátrida e peço desculpa desde já se ela não ficar boa. O livro está muito mais a frente do que a minha capacidade para colocar em palavras tudo que eu senti. Espero também que vocês tenham a paciência para ler até o fim tudo o que eu escrevi.
Em primeiro lugar eu tenho que falar: um livro que te faz chorar às 3hs da manhã, com certeza tem alguma coisa muito especial. Apátrida fez isso comigo. E acreditem em mim: ele é especial. Apátrida vem contar a história de uma família polonesa, que vivia tranqüila em uma wioska em Lublin. A família é composta pelos pais e os filhos Maria, Antony, Andrzej, Jan e Irena, que vem nos narrar essa história.
“- Papai, tire a Anininka da caixa de madeira, por favor! É Natal. Conceda – me este pedido. Faz tempo que ela está lá. Nada pode ser tão grave para esta repreensão... Eu quero minha irmãzinha de volta!”
Página: 13
Irena conta sobre sua infância com seus queridos irmãos, de suas brincadeiras, da sua mama que mesmo não sabendo demonstrar, amava – os a sua maneira, da sua irmã Maria que era a mãe de todos por ali e da sua amizade por Jacob. Mesmo com a vida simples, ela vivia feliz na presença de pessoas que amava e na sua cabecinha de criança, aproveitou cada momento de sua infância, até se ver apaixonada por seu melhor amigo.
“Aprendi que amar não acontece pela razão e sim pela emoção”
Página: 138
Jacob era de uma família judia rica, que seguia todos os costumes ditados na época. Era um bom garoto, estudado, treinava musica e era inteligente. Ao decorrer dos anos e chegar à adolescência, Irena se ver irremediavelmente apaixonada por Jacob. Este por sua vez, anuncia um casamento inesperado com uma jovem quatro anos mais velha. Neste momento, Irena vê seu mundo desmoronar. E quando mesmo assim seu melhor amigo de infância e seu para sempre seu único amor casa – se, ela entra em depressão. Depois de meses assim, Irena resolve seguir com a vida e acaba conhecendo Rurik, com quem se casa. Aos poucos, ela consegue amar Rurik a sua maneira, e formam uma linda família. Porém, o destino não foi justo com ela.
A partir desse momento, começa uma história fascinante e triste ao mesmo tempo. Irena vai narrar em detalhes como foi viver durante o período da Segunda Guerra Mundial, todos os seus esforços para proteger a própria família e como ela viu sua mãe, pai e irmãos sucumbirem a morte de maneiras e em épocas diferentes, todos separados em busca de ajudar outras pessoas, lutarem contra essa injusta e imunda guerra e da auto proteção.
Vamos então ir e voltar ao passado e ao presente, para as historias se encaixarem e sabermos exatamente como está Irena e seus familiares, como é a sua vida e se a sua busca pelo seu amor Jacob valeu a pena, se ele está vivo e se sim, onde mora. Confesso que esses momentos foram os mais tristes. A angústia de saber quem está vivo, a separação dos filhos, as surras e a quantidade de pessoas que ela viu sendo torturadas, surradas, com fome, loucas por causa da pressão de saber ou não se estariam vivas quando acordassem... e a morte, que era tão comum e tão perto de si mesma, que se tornou natural.
Quando eu recebi o livro, fiquei um pouco receosa por ser contado em primeira pessoa, uma vez que só mostra esse ponto de vista e nada mais. Mas a autora teve autonomia e segurança o suficiente para mostrar todos os detalhes desconhecidos dessa luta continua.
Foi um livro que mexeu intimamente com os meus sentimentos. Eu ficava confusa, com raiva, remorso, indignação, tristeza, confiante... eu me apaixonei por Rurik! E pelo Jacob! E Irena fazia reflexões inteligentes a respeito da vida, de como outras pessoas matavam as outras, da maldade que existe no ser humano... e ao mesmo tempo, o contraste. Como em situações diversas ninguém olha pra cor, etnia, idade, credo. Vão se unir apenas para se manterem vivos.
“[...] No entanto, quando Ewa partiu naquele esgoto escuro, ele me fez prometer que se você estivesse viva, eu lhe daria este recado: que as rosas que ele tirou da chuva, ele recolheu uma a uma e as replantou em seu próprio peito e não importava o tempo que passasse, ainda que nunca ficassem juntos novamente e mesmo que ele continuasse casado por toda a sua vida com Ewa, elas seriam regadas todos os dias, ano após ano.”
A pior parte do livro, que me fez ficar com repulsa, nojo (isso é sério. Eu me sentia no lugar da Irena) é quando ela começa a ser abusada pelo Coronel Alfons, com quem inclusive ela tem um filho. O sentimento de impotência que me assolou quase me levou ao choro (novamente). Ser tocada sem consentimento, para tentar manter um pouco das regalias que recebia junto com seus filhos e apenas por prazer do outro me fez estremecer. O pior, é chegar no final e ver que os filhos de Irena a estimulavam a se casar com esse homem, fato que aconteceu.
É um livro triste por que a historia é triste. Mas a autora escreveu tão bem, que fazem os sentimentos virem a flor da pele. Ela conseguiu criar personagens cativantes com sua própria personalidade e mesmo com tantas idas e vindas do passado ao presente, em nenhum momento ela se perde em sua narrativa. Tem um vocabulário rico e raro, que faz jus a historia. A minha indicação de Apátrida é para você que quer se emocionar com uma historia de amor que nem a guerra foi capaz de destruir.
É querer lutar pela liberdade, pela esperança, ser humilhado e superar todos os obstáculos e no final, conseguir perdoar e ser feliz. É tentar de alguma forma mostrar para as outras pessoas o que a guerra foi capaz de fazer. São raros os livros que me fizeram chorar durante a sua leitura, mas Apátrida não é um livro qualquer.
Eu queria agradecer a oportunidade de ler um livro com uma historia tão comovente, linda e tão contrastante, mas que me acrescentou conhecimento e sentimentos.