Carla 06/05/2012
(...) ao concluir a leitura, só posso dizer que a história de Irena emocionou-me profundamente desde o princípio, com uma narrativa extremamente sutil transcorrendo entre o passado e o presente fluindo de forma clara e cristalina, pungente e, ao mesmo tempo, extravasando sentimentos e emoções à flor da pele.
Já li diversos livros com temas densos como "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini e outros com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto como pano de fundo, entre eles: "A Escolha de Sofia", de William Styron; "O Diário de Anne Frank"; "O Menino do Pijama Listrado", de John Boyne; "A Menina que Roubava Livros", de Markus Zusak; mas nenhum deles me preparou para o que eu veria através de uma leitura que foi tão tocante e envolvente, apesar de relatar os horrores desse episódio que foi um estigma na História Mundial, mas que também mostrou um lado humano, de extrema sensibilidade, através da história dos amigos e familiares da sobrevivente Irena, e de diversas pessoas que cruzaram o seu caminho no decorrer da narrativa. Além disso, é um grito de alerta, para que um período como esse jamais se repita na História, como segue abaixo nas palavras do próprio editor:
(...), se nos descuidarmos, repetimos o ciclo de ódio, sem nos apercebermos do erro dos nossos atos.
- No mais, temos que conservar acesas as luzes sobre o passado, para que ele não se repita, por mais dura que seja esta recordação. (...) Mantermos em memória eterna aqueles que foram ceifados, como um holocausto vivo. Esta é a história da minha autobiografia: seres humanos maravilhosos, em suas múltiplas facetas, arrancados do palco da vida, em pleno espetáculo...
Essa é a história de duas famílias distintas, cujos caminhos se entrelaçam, onde surge uma paixão em meio à guerra, que ceifou muitas vidas, mudando vários destinos.
Nascida na Polônia, Irena viveu uma infância relativamente feliz e humilde ao lado dos pais e dos oito irmãos em um vilarejo, nas redondezas de um bosque, onde adorava brincar correndo e empoleirando-se nas árvores, porque era uma menina cheia de vida, turbulenta, voluntariosa e, às vezes, arrogante, cercada de sonhos e esperanças. Seus pais eram agricultores e realizavam pequenos consertos e trabalhos manuais, mas todos ajudavam nas tarefas diárias. Apesar de sofrerem privações, eram muito unidos.
Irena encontrou na primavera de sua vida um grande amor e amigo, que permearia a sua existência: Jacob, o menino judeu, que era filho do Dr. Yossef, o médico da região, que no passado fora um grande amigo do pai dela. Mas, por circunstâncias do destino, essa amizade foi rompida, por motivos que desconhecemos e que só no final é revelado. Garanto a vocês que é surpreendente, mas que, no decorrer da leitura, sempre suspeitei de algo, só que não irei dizer o que é, senão perde a graça. (risos). No final, minhas suspeitas estavam certas... só errei a pessoa! (risos).
Um dia, por ironias do destino, os caminhos das duas famílias acabam se cruzando novamente e com isso a amizade entre Irena e Jacob acaba estreitando os laços familiares por toda a vida. Os dois crescem sob a turbulência política e com inúmeras responsabilidades familiares, mas acabam apaixonando-se.
(...)
Essa paixão acaba desmoronando a vida de Irena, porque Jacob é terminantemente proibido de casar-se com ela devido ao choque cultural e a tradição familiar no qual foi criado. Ao descobrir, Irena fica arrasada e cai doente, quando Jacob consuma seu casamento com Ewa, uma linda jovem judia de Varsóvia, abastada e elegante, que sua família aprovava. Com o apoio e o carinho da família, Irena tenta recuperar-se e conhece Rurik, um rapaz admirável, de boa índole, altruísta e generoso, com quem acaba casando-se e indo viver na Bielorússia.
(...)
Mal sabia ela a enorme tragédia que iria assolar a sua vida, de seus familiares e amigos, além de milhares de pessoas, onde a guerra, a religião e as conturbações sociais mudariam seu destino e a empurrariam em uma avalanche de acontecimentos que a transformariam de menina simples e ingênua em uma mulher de fibra, coragem, perspicácia, lutadora e, acima de tudo, uma sobrevivente, que sofreu todos as perdas e dores, vivenciou os piores sofrimentos que um ser humano pode suportar e abdicou de seus desejos sacrificando todas as suas vontades em prol daqueles que amava!
(...) Ainda que me levassem tudo, eu continuaria um ser humano a ser respeitado e amado. (...) Todavia, não extraíram de mim as minhas origens. Eu sempre seria Irena, nascida em Lublin, numa família polonesa e feliz, (...), cheia de sonhos. E não eram leis de homens que me furtariam isto!
Pág. 332
O período em que se passa essa saga das famílias européias e o caos que gerou a Segunda Guerra Mundial, é na década de 20, 30 até o século XX.
(...)
(...): o quanto vale a minha vida? E a das demais pessoas? Poderia ser dimensionada por quais parâmetros? Um valor em dinheiro? Uma quantidade de bens? A sua origem étnica ou religiosa? A sua preferência sexual? Os seus costumes?
(...) Sim, a guerra é uma injustiça, pois arranca de muitos tudo o que eles têm, sem dar-lhes nada em troca.
Pág. 99.
(...)
Abaixo deixo um trechinho de uma carta linda que Irena escreveu durante a guerra para Jacob:
(...) Não pense que o meu coração é um barco à vela, que navega de amor em amor de acordo com o vento. Ele é mais fixo que as pirâmides do Egito. Ainda que as areias da vida tentem escondê-lo, ele permanece inabalável. Sei que está passando por muitas dificuldades. Onde está é horrível. Mas é seu dever continuar vivo. Levante-se por mim! (...) Escreva-me pacificando a minha alma e as minhas aflições. (...) Pois é melhor a certeza do não do que a agonia sufocante do talvez. (...)
Pág. 146
(...)
Adorei diversos personagens, entre eles Rurik, Jan, Andrzej. Fiquei apreensiva e chocada com o que houve com vários, a quem aprendi a admirar, especialmente com o Rurik. Aí, não me segurei mesmo! Foi demais! Haja coração!
(...)
Quero agradecer muitíssimo à autora, porque através do seu livro me trouxe momentos reflexivos com muitos ensinamentos e questionamentos! Obrigada por ter me concedido a honra de conhecer essa obra inolvidável, preferencialmente nacional, que me proporcionou uma leitura profundamente envolvente e emocionante!
A leitura foi extremamente marcante e profunda! Não há como não se emocionar do princípio ao fim. As descrições da guerra eram detalhistas demais e, em diversos momentos, cheguei às lágrimas, pois tive a sensação de estar visualizando aquela situação de tão realista que era, porque o relato é surpreendente, apesar desse ser um período atroz que assolou toda a Humanidade! Uma leitura que toca no âmago do seu ser, porque desperta-nos para as agruras do século XX e a necessidade de um diálogo mais harmonioso entre nós.
Só para concluir, esse foi o melhor livro nacional que li esse ano de 2010, que ficará marcado em minha memória para sempre e, como não podia deixar de ser, estou indicando a todos os meus amigos!
Por isso, está mais do que recomendado!
Confira esta e outras resenhas na íntegra no Sonho de Reflexão:
http://sonhodereflexao.blogspot.com/