Tiago 21/12/2021Triste, Louca ou Má?Quis escrever esta resenha por dois motivos. O primeiro é que o livro foi uma leitura que me causou sentimentos conflituosos. E segundo para tentar contemporizar a personagem Cecília, que na maioria das resenhas aqui está sendo tratada como asquerosa e monstruosa. Será?
Em se tratando de forma "A Pediatra" é uma leitura fluída, mas existe uma característica constrita na escrita. Nitidamente há uma preocupação com vocabulário que soa levemente artificial por ser milimetricamente pensado. E a opção por não utilizar travessão nos diálogos é desses estilismos narrativos que não tem razão de existir. Se você tem uma história com ótimos diálogos como é o caso aqui, por que não destacá-los? Por muitas vezes tive que voltar um pouco a leitura para perceber os diálogos que estavam diluídos nas frases.
Voltando o foco para Cecília em si, o caminho mais fácil para o leitor talvez seja detestá-la e chamá-la de vilã. Mas seria o caso? A começar pela questão chave que é sua profissão. Ela é uma pediatra não muito afeita a crianças. É um paradoxo interessante que o livro vai desenvolvendo com bastante desenvoltura ao longo da trama, especialmente quando questiona partos humanizados e demais questões tão complexas que envolvem uma gestação na atualidade.
Enfim, Cecília é um pouco cínica, um pouco burguesa, um pouco desequilibrada e muito mordaz e prática (seus pensamentos a respeito das pessoas ao redor com riqueza de detalhes são um dos pontos altos da leitura). Mas ao contrário das vilãs de novela é uma personagem humana. Talvez muitos não tenham coragem de chegar a extremos que Cecília chega em determinadas situações moralmente questionáveis, porém dificilmente alguém pode dizer que não tenha pensado ou idealizado transgredir regras morais da sociedade em determinados pontos de sua vida.
Entre triste, louca ou má, considero Cecília apenas humana.