Spensa 29/03/2021
Um cyberpunk nacional viciante.
O livro nos apresenta a uma Curitiba futurística onde conhecemos a mercenária Nina Santtles, que após alguns erros do passado tenta se reaproximar do filho adolescente e levá-lo para Colônia em busca de uma vida melhor.
Essa chance surge quando após a sua captura e de seus amigos, a polícia propõe um acordo no qual eles ajudariam a prender o hacker mais procurado pela Corporação-igreja do país. Em troca, eles ganhariam passagens para a tão desejada Colônia.
Em meio a muita perseguição e planos suicidas, eis que a equipe recebe uma proposta semelhante, mas com garantias melhores e um objetivo maior: ajudar a derrubar a igreja que é contra a existência de pessoas como eles.
Que o cyberpunk brasileiro tá muito bem representado isso não é novidade. E Olhos de pixel chega pra somar a esse time de peso. Com sua escrita clara, fluída e envolvente, Mota nos surpreende ao demostrar muita habilidade em ambientar sua história sem tornar esse universo extremamente complexo.
Outro ponto a considerar é que mesmo os personagens do livro fazendo uso de tecnologia avançada como uma espécie de melhoramento genético isso não os distancia de sua condição humana. É na construção social e política muito semelhante ao nosso atual contexto, que encontramos o ponto alto desse livro.
Lucas não teve medo de explorar temas polêmicos e insere o fanatismo religioso como principal elemento de poder e controle de uma sociedade. Provocando a reflexão de que é preciso se rebelar e resistir quando um sistema em essência exclui, invalida e marginaliza uma parcela específica da população.
Além de todas essas questões, o livro trás uma trama bem desenvolvida, com muita ação, cenas de lutas, perseguições e grandes reviravoltas. Tudo isso propiciado por equipamentos tecnológicos altamente avançados que dão aos usuários habilidades de combate sobre-humanas. São esses elementos que causam ao leitor a sensação de estar imerso em um filme facilmente produzido pelos grandes estúdios cinematográficos.
E a conclusão da história provoca essa sensação dual de satisfação com a coerência dos acontecimentos e anseio por mais da história.