Fernando Lafaiete
19/11/2018Guerra Civil: De que lado você está?******************************NÃO CONTÉM SPOILER******************************
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Guerra Civil é certamente uma das HQs mais importantes da Marvel por trazer debates válidos acerca do que é certo e do que é errado na questão heroica. É uma história incrível, muito bem arquitetada e que de certa forma “encerra” um importante ciclo político abordado nas HQs da famosa editora. Ciclo este que se inicia no arco Guerras Secretas e que acompanha magistralmente os acontecimentos políticos e sociais dos Estados Unidos no momento em que as histórias iam sendo publicadas. É a ficção sendo espelho da realidade em momento quase simultâneo.
A história escrita por Mark Millar traz pontos chaves que são pura reflexão para quem as lê. Guerra Civil é dividida em 7 fascículos e traz o resultado de catástrofes causadas involuntariamente pelos heróis. É quando o governo decide que todos os super-humanos devem ser registrados como agentes do governo; recebendo salários, sendo vigiados, tendo suas identidades reveladas para o mundo e tendo direitos comuns a qualquer mortal. A questão é: O quão assertiva esta decisão é?
A narrativa é cheia de momentos empolgantes e várias situações são bem explorados. No meio de tantas exigências governamentais, vemos os heróis se dividirem e se guerreando entre si. A grande jogada é que Capitão América é sabiamente escolhido pelo autor para representar a resistência. O personagem criado como símbolo patriótico se vê indo contra o seu próprio país. É uma jogada que causa impacto significativo em quem acompanha o personagem há anos. Mas o que muitos demoram para sacar, é que esta decisão é exatamente o lado que ele deveria ficar. Capitão América representa com força e entrega para o leitor o seu verdadeiro significado; a força da liberdade e do discernimento. No caso da HQ, a força da liberdade de ser o herói que ele foi criado para ser, sem se sentir algemado pelo governo. Do lado oposto, temos o industrialista Tony Stark, que reforça a importância de aceitar tais registros como forma de transmitir para o povo em geral a confiança que eles devem sentir. A confiança de que agora nada dará errado. O embate entre os lados levanta a grande questão da HQ: O que nos torna heróis?
Outro grande momento de Guerra Civil é algo envolvendo o Homem-Aranha. Se você ainda não leu este marco da nona arte, não se preocupe, não darei spoiler. Mas é algo considerado por muitos como um tiro no pé. Sinceramente? Não gosto do ocorrido, apesar de entender a decisão de Millar e a aceitação por parte do editor chefe. Não gosto também da relação do aracnídeo com o Homem de Ferro. Acredito que isso se dá pela implicância que criei com Tony Stark, graças a dependência cinematográfica com este personagem. Gosto da versão independente do amigo da vizinhança. A versão madura e poderosa, algo mais parecido com o que encontramos na trilogia cinematográfica de Sam Raimi. A dependência Aranha/Homem de Ferro me irrita.
Sou muito fã desta HQ e esta foi a terceira vez que a li. Sinto sentimentos mistos com o final, mas esta história de fato me impressiona, e apesar de eu nunca ter chegado a uma conclusão sobre o desfecho, decepção passa longe.
Sobre a adaptação para os cinemas, eu definitivamente posso dizer com segurança que “Capitão América: Guerra Civil” é um dos poucos filmes da Marvel que acho qualquer coisa. Assisti uma única vez e não tenho vontade alguma de rever. Achei uma boa adaptação para o que eles tinham em mãos, mas não me empolguei em momento algum. Comparações nem devem ser feitas. Pois para mim, comparar a HQ com o filme, seria o mesmo que comparar uma Ferrari com um Fusca.
Guerra Civil é o tipo de história que todos devem ler... uma obra-prima do começo ao fim! Durante toda a leitura muitos poderão se perguntar: De que lado estou? Eu não passei e acredito que nunca passarei por isto. Sempre estive e continuo estando do lado daquele o qual me causa mais identificação. Capitão América é pra mim a representação do que deve sempre prevalecer. “A liberdade de ser quem queremos ser. Sempre com sabedoria de saber analisar, se desculpar, lutar e se render (se for o caso), visando sempre o melhor para todos! ”