Fabio 02/05/2016Guerra de ideiasUma das sagas de maior sucesso do Universo Marvel, lançada em 2006 / 2007 o evento vem repercutindo 10 anos depois, agora com o lançamento do filme do Capitão America 3. Acompanhei HQs até a época que a Abril parou de publicar, daí em diante, me afastei comprando esporadicamente. A ultima saga que me lembro de ter lido, foi a Saga do Clone, do Homem Aranha. Quando saiu Civil War, fiquei na expectativa de um dia ler, e esperei até a oportunidade para ver o filme.
Cai meio de paraquedas, sendo reapresentado a uma miríade de super herói, a começar pelo grupo dos Novos Guerreiros. Grupo formado por jovens com super poderes, que tem representado no integrante Speedball a marca da adolescência. Mas essa turma já era assim em 1997, quando lia as historias do esqueitista Radical, a jovem prima do príncipe da Atlântida Namorita, e o já citado Speedball. E ler sobre eles quase 20 anos depois na mesma pegada, deu aquele primeiro baque: Essa turma não envelhece não? Não! Nos quadrinhos ninguém envelhece. Provavelmente estou em um universo diferente daquele dos adolescentes super poderosos de 1997. O que mudou aqui foi a atualização para o nosso tempo, ou melhor, para o tempo de 2006. Os Reality Shows e a audiência.
Um assunto também abordado no atual Batman Vs Superman, as consequências dos super seres em meio a população. Diferente dos seriados japonês da década de 80, onde os combates aconteciam sempre numa mesma pedreira, ou dos quadrinhos da mesma época que uma cidade era destruída inúmeras vezes e continuava intacta na edição seguinte, agora a população começou a reclamar, e trouxe os heróis para mais próximo dos humanos. Sim, eles causam problemas nas cidades. Destoem prédios, causam engarrafamentos, matam pessoas e espalham doenças. Este é o estopim para a Guerra Civil. Em meio a inúmeros questionamentos que a HQ apresenta, um deles e talvez o principal é: De quem é o planeta, e quem deve se subjugar ao outro. Isso fica bem claro que a Terra é dos humanos, mas é porque os heróis querem, pois eles poderiam exterminar os humanos e viver em sociedade eles mesmos como uma nova raça, uma população bem menor, porem bem superior. Mas isso é enredo para outra historia. Voltando novamente para o titulo em questão, os heróis estão aqui para servir, e como bom servidor, devem se identificar e parar de causar tanto problema. Aí que começa a briga. A diferença de opiniões.
Um dos méritos desta revista é colocar em combate não os músculos e poderes dos heróis, mas seus ideais, suas opiniões e seus pensamentos. Levar o leitor médio de HQ a outro nível de leitura, não apenas observar belos desenhos e cenas épicas de batalha, mas refletir questões insolúveis, questões nas quais os dois lados estão certos, ou errados. Questões que extrapola a HQ e viram discussão. Talvez este tenha sido o grande sucesso de Guerra Civil.
Muito mais que o Grupo do Capitão America contra o grupo do Homem de Ferro, muito mais que o combate entre dois amigos, a revista propõe um combate de ideias, e essas ideias sim, pode interagir com o leitor, o fazendo tomar parte de um dos lados, sem deixar de refletir o outro. É uma HQ que trata de política.
Assim que a terminei, questionei o roteiro de acordo com que conhecia dos heróis, ( lembrando que meus conhecimentos vão até o ano de 2000) mas para mim, o Capitão sempre foi o Soldado, o Super Soldado. Ele representa a America ao vestir sua própria bandeira, enfim, ele é a personificação do Estado. Já o Homem de Ferro representa a iniciativa privada, o empresário bem sucedido, que tem sua grande corporação. Ele vende equipamentos para o Estado, e não se limita a vender apenas para os EUA. O mais lógico seria o Capitão recrutando os heróis, e o Homem de Ferro brigando pelo contrario. Mas é aí que entra a esperteza do roteirista Mark Millar. Ao colocar o Capitão America contra a ideia de alistamento ( coisa que ele já é) ele trás a disputa para o campo das ideias, pois o Capitão refuta não a favor de seu país, mas sim a favor de um ideal, o ideal de liberdade. Mesmo sendo um soldado, suas convicções vão alem da instituição que jurou defender, e acaba por amotinar contra o que jurou lutar.
Por outro lado, para levar o Homem de ferro para o ao lado contrario o roteirista utiliza da ferramenta do sofrimento civil, da perda, da morte de inocentes. Não foi tão genial como a justificativa do bandeiroso, mas é plausível, apesar de clichê, alem de ficar um pouco chato, meio que politicamente correto.
Aí a revista sobe mais um patamar. A liberdade VS o politicamente correto. Será que um garoto poderia vestir uma roupa verde e sair na rua dando porrada nos mau feitores? E se ele tivesse que se alistar, como justificar que seu poder é a indignação aliados a vontade de ajudar o outro? Mas isso não é politicamente correto, provavelmente seria preso. O que acredito que aconteça na nossa realidade.
Talvez por isso, Guerra Civil seja muito mais uma HQ do Capitão America, até porque, quem recruta super vilões é o Estado. Quem quer punir é o Estado. Já o Capitão é o que toma porrada, é o que esconde e é reprimido. Imaginava um embate mais justo, mas o roteirista escolheu seu lado, mas nem por isso a HQ deixou de ser ótima. Apesar de que, eu tinha mais expectativas, talvez por ler tudo de uma vez, não vivenciei os impactos de cada edição para quem leu em seu lançamento. Assim como não li nada de suas repercussões posteriores.
Quanto à arte, acho que as cores que trouxe o grande mérito neste quesito, conseguiu passar bem os climas de tensão. Já os desenhos, alguns enquadramentos são lindos, outros desenhos eu achei um pouco chapados, mas no geral acima da média.
Enfim, agora posso assistir ao filme já sabendo que pouca coisa vai ser aproveitada da HQ alem do nome e da disputa entre dois heróis. Acho difícil colocar toda essa discussão de ideias em pouco mais de duas horas de filme, ainda mais tendo que priorizar as cenas de ação, já que é o que todo mundo quer ver.