Cris Lasaitis 28/12/2010
http://cristinalasaitis.wordpress.com/2009/04/29/leituras-abril2009/
Richard Dawkins é uma espécie de Carl Sagan destemperado, com uma língua afiada, radicalismo e muito ranço. Desde que publicou O Relojoeiro Cego ele tem dado continuidade a um debate racional interessante, contanto que recrudeceu o discurso com o passar dos anos, provavelmente por ter percebido que: 1- os ateístas como ele não se congregam, e 2- que debate em cima de religião vende muito livro (e dá dinheiro, fama, popularidade, et coetera).
A premissa de Deus – Um Delírio é basicamente “Imagine a world without religion”. E durante o livro todo ele argumenta como a religião é má e o ateísmo é bom, como os religiosos são desequilibrados, como os agnósticos são indecisos, como os argumentos em favor da religião são pobres enquanto os argumentos científicos são fortes, e como o mundo seria muito melhor sem a religião.
Como fã e amigo de Douglas Adams (autor do Guia do Mochileiro das Galáxias), Dawkins tem tiradas óóótimas! Dei boas risadas com o sarro que ele tira da mitologia católica. A sua discussão é muito pertinente e ele sabe expor pensamentos interessantes.
O que enche o saco é a insistência de que só o ateísmo é coerente e todas as pessoas que não acreditam em um Deus pessoal (ou uma entidade deífica) devem sair do armário e se afirmar como ateístas. É interessante que sobra bronca até para os agnósticos (aquelas pessoas que não acreditam nem desacreditam de nada, não afirmam nem negam, se esquivam de discussões metafísicas), que segundo ele são indecisos, ficam em cima do muro.
Olha, seu Dawkins, eu vou lhe dar meus argumentos (e sei que você não vai ouvir, tudo bem). Digo pra você que “em cima do muro” é um lugar fantástico para se estar, pois é calmo, tem uma vista fabulosa, um campo de visão amplo, de onde pode-se assistir de camarote ao fogo cruzado, e isso me diverte, perturba, fascina, sem que eu precise ganhar um arranhão. Sou racionalista e tenho na ciência a régua mais confiável para medir esse pé direito imenso que guarda mais mistérios do que sonha a nossa vã filosofia. Não quero todas as certezas, sou feliz na dúvida. Se há algo belo em termos sido colocados aqui sem resposta para nossos grandes dilemas existenciais – de onde vim? por que estou aqui? para onde vou? – é que a dúvida nos deixa pouco espaço para o comodismo, ela nos obriga a viver!