Fernanda 11/05/2012Outra visão da história"A princesa leal" conta a história da rainha Catarina de Aragão, 1ª esposa de Henrique VIII, que entrou para a história ao ser preterida por Ana Bolena. O divórcio real está no cerne do rompimento inglês com a Igreja Católica e do nascimento da Igreja Anglicana. Gregory nos conta a triste história de Catarina, de sua infância em Granada à sua vida como rainha da Inglaterra.
A autora foi muito feliz em apresentar Catarina não como uma vítima de um triste destino, mas como uma mulher forte, determinada, que não se deixou abater pelos dissabores trazidos pela vida, mas que lutou com todas as suas forças por aquilo que julgava ser seu de direito.
O ponto central da história é que a consumação do casamento de Catarina e Arthur é tida como certa. Neste ponto, Gregory se afasta totalmente de Jean Plaidy, autora mais conhecida por sua saga dos reis Plantagenetas, que também escreveu um livro sobre a vida de Catarina, "Catarina, a viúva virgem".
Ao assumir a premissa de que Catarina mentiu quanto à não consumação de seu casamento (e os fatos históricos indicam que ela realmente mentiu) Gregory a retira da posição de virgem injustiçada e a coloca na posição de protagonista de seu próprio destino. E é isso, em minha opinião, que torna esse um livro delicioso.
Acredito que a Catarina de Gregory está muito mais próxima da Catarina real do que a virgem frágil de Plaidy ou da mulher submissa apresentada pelos livros escolares. Afinal de contas, ela era filha de Isabel de Castela e Fernando de Aragão! Uma mulher culta, criada em meio às guerras de Reconquista, que teve contato com a riquíssima cultura moura dizimada por seus pais. Uma mulher que soube sobreviver à traiçoeira Corte Tudor, ao astuto rei Henrique VII e sua ainda mais astuta mãe. Sem contar que, das 6 esposas de Henrique VIII, foi a que mais tempo esteve casada com ele e uma das poucas que conseguiu se divorciar do rei e manter a vida.
Ora, mas se o livro é tão bom, por que não lhe dei 5 estrelas? Por 2 razões: (CUIDADO! SPOILER!!!)
1) Não acho que a determinação de Catarina em ser rainha da Inglaterra possa ser justificada pela promessa feita a um moribundo. Ok, trata-se de um romance e não de uma biografia. Entendo que a autora tenha querido inserir uma história de amor (que aliás achei muito interessante). Mas daí a usar esse amor e a promessa feita como principal argumento para a determinação de Catarina, não sei, não me 'desceu' bem. Acho perfeitamente possível ela ter amado muito o marido e ter sido amada por ele e ainda assim continuar com o desejo de ser rainha da Inglaterra após sua viuvez. Não podemos esquecer que ela foi criada para isso. Mais ainda ela sabia, ao ver a experiência das irmãs, que caso fosse para casa seria lhe dado um outro casamento, possivelmente inferior. Teria que começar tudo de novo, outra adaptação em um país estranho. Ser rainha da Inglaterra era sua melhor opção.
2) Achei o fim do livro muito brusco. Gostaria de seguir acompanhando a saga de Catarina. Seus outros abortos, o nascimento de sua filha, o enfrentamento com o rei. Particularmente, acho esse último um dos momentos mais fascinantes da vida de Catarina. Ela não volta atrás na mentira contada, enfrenta o Tribunal real com dignidade e até o fim de sua vida refere-se a si mesma como rainha da Inglaterra. Acho que o livro poderia ter acompanhado esses acontecimentos.
"A princesa leal" é um bom romance histórico, vale muito a pena ser lido.