spoiler visualizarTaissa 26/04/2024
Nenhum dos dois agia como um monstro...
Volume II da duologia, Monstros da violência, O dueto sombrio é a continuação da história de duas pessoas contada dentro de um contexto frio e cruel, que se conectaram e seguiram os próprios valores até o fim. Kate e August ainda são os protagonistas nessa continuação, a diferença são os acontecimentos num intervalo de seis meses e a forma como cada um lidou com isso através de seus valores fixados desde o primeiro livro. A forma como escolheram viver a vida e lutar por ela.
?Uma humana que quer ser um monstro e um monstro que quer ser humano.?
Victoria conseguiu escrever uma duologia que me prendeu do início ao fim. A profundidade de seus personagens me encantou de forma dolorosa e todo o ar melancólico em seus parágrafos, conseguiu transformar a leitura para mim em algo espetacular. Seu universo define as consequências de nossos atos e como isso afeta o mundo ao nosso redor. A realidade é dura como uma queda e a vida é como uma tempestade: você nunca sabe o que vai acontecer, apenas aprende a lidar com ela.
Como resultado dos conflitos do livro anterior, Ilsa, August e Kate são o foco principal da trama, enquanto lutam contra um inimigo novo e as sombras do passado. É fácil dizer que a comunicação é a chave de tudo, mas quando você perde sua voz ? não apenas no sentido físico ?, como dá continuidade ao que lhe foi tirado? Victoria conseguiu responder a isso de uma forma melancólica, porém eficiente. Depois de chorar por algumas horas com o final, reli alguns trechos e percebi que a incapacidade de Ilsa de expressar em palavras era semelhante as barreiras que Kate criou para se defender do mundo. August lidou com ambas e mesmo assim, a comunicação não falhou. Entretanto, Ilsa não podia falar pois lhe tiraram a voz, Kate por medo de ferir-la e August podia fazer ambos além de possuir uma capacidade audição incrível. Apesar de todas essas circunstâncias, não era necessário palavras ditas para expressar nenhum dos sentimentos descritos na trama.
Para explicar de uma forma melhor, isso se estende até o leitor: (spoiler) quando Kate e August se beijaram, a risada de Kate em seguida era uma aceitação de tudo, pois ela sabia que não poderia ser feliz. E ao admitir que estava com medo ao seu lado, era o mesmo que afirmar que o amava. Eu amei essa cena com todas as minhas forças. Tudo na relação de Kate e August é melancólico e poético, trágico e ao mesmo tempo reconfortante. De alguma forma, mesmo sem colocarem isso em palavras, eles sabiam disso e isso se confirma quando ela diz não lamentar sua incapacidade de mentir em seus momentos finais (fim do spoiler).
Ilsa é um ser extraordinário, quase incompreensível, porém necessária. Não consigo expressar minha interpretação sobre a personagem, mas ela sempre será espetacular. Representa mais do que é e achei uma injustiça da autora não dar tanto foco quanto ela merecia, mesmo sendo uma das maiores bases para August.
Fica claro aqui, no segundo livro, que os sunais são monstros destinados a controlar o caos. Não necessariamente cortando o mal pela raiz. Sua música acalma as almas além de julgá-las. Achei interessante definirem os sunais de acordo com a forma como julgam os pecadores: Ilsa, os arrependidos, Soro, os maus e August, todos eles. Me fez refletir em como cada sunai representa coisas distintas. Ilsa, a compaixão, Soro, a racionalidade, August, o sentimentalismo e Leo, a violência. Apesar disso, ambos eram responsáveis por acalmar o caos.
São tantas coisas para comentar sobre a trama, que não conseguiria colocar tudo em palavras, mas vou tentar mais uma: Kate e seu pecado. Alice e Kate, Kate e Alice. Quase como um espelho refletindo uma na outra. De alguma forma, seu desejo de ser um monstro se realizou, mesmo sendo de uma forma terrível e se isso era para conseguir poder, ela também conseguiu (spoiler) quando teve forças para decidir como sua vida terminaria: através de seu pecado ou sendo julgada por August. Ali ele não estava julgando uma pecadora, mas acalmando o caos de sua vida (fim do spoiler).
Por mais doloroso, não consigo odiar totalmente esse final. Ele foi realista, Kate estava condenada desde o começo, pois queria ser um monstro e August nunca poderia ser um humano, pois sempre foi um monstro. A diferença era que nenhum dos dois agia como um, afinal, o que nos define são nossas atitudes e não como nascemos.
Pecadores são pecadores, não importa o grau. Apenas a moralidade em defender a mancha vermelha no um véu branco.