Queria Estar Lendo 10/02/2018
Resenha: Um Tom Mais Escuro de Magia
Um tom mais escuro de magia é um livro impressionante. Com uma narrativa bem pontuada, eletrizante e com um universo mágico altamente criativo, V. E. Schwab entregou uma história que se tornou uma das minhas favoritas da vida.
Em cada mundo existe uma Londres; a Vermelha, a Branca e a Cinza - e a Preta, devastada pela própria sede de poder, que causou a separação entre os mundos e o fechamento das portas conectando esses universos. Apenas os Viajantes ainda têm permissão de atravessá-las, e o fazem para manter os reinos em comunicação. Kell é um deles, e vivencia as realidades com receio, fascínio e, principalmente, cautela. A lei dita que os universos não podem colidir; que o que pertence a uma Londres deve permanecer nela. Só que, quando um artefato mágico cai em suas mãos, depende de Kell e de uma ladra não muito bem intencionada impedir que essa colisão de universos se torne o fim de todos eles.
"Cinza para a cidade sem magia. Vermelho para o império vigoroso. Branco para o mundo faminto."
Eu estava na corda bamba a respeito desse livro por causa das opiniões diversas, mas minha santa Eva Green, que história absurdamente boa! O conceito da magia criado pela autora é brilhante, com explicações bem dosadas para a construção do universo. Os personagens são ótimos, cada um carregando um tipo de personalidade essencial para esse tipo de trama. É o tipo de livro que eu gostaria de ter escrito, de tanto que amei.
"E um Antari podia falar com o sangue. Com a vida. Com a própria magia. O primeiro e o último elemento, aquele que vivia em tudo e não estava em lugar nenhum."
Kell é um ótimo protagonista - e é muito, muito difícil de eu gostar dos protagonistas em histórias do tipo. Ele tem um senso de honra e justiça muito forte, é leal ao seu dever e à expectativa que carrega por ser um Viajante. Criado pela família real da Londres Vermelha, Kell viveu em meio à nobreza e às regalias, mas entende das diferenças entre mundos - e não só as dimensões, mas entre as camadas da sociedade também -, muito melhor do que o rei e a rainha. Seu irmão de criação e melhor amigo, o príncipe Rhy, é seu confidente e aquele em quem o Kell deposita fé e esperança. A relação entre os dois é poderosa, cheia de amor e de devoção - e deixou brecha para um arco bem grandioso no próximo livro.
"- A hesitação é a morte da vantagem."
Em relação à trama, Kell é muito de um herói. Disposto a sacrifícios e ansioso para fazer a coisa certa, independente do que isso custe à sua imagem e à sua própria vida. Ele é ordem e resiliência. É um soldado, mas também é um líder. Eu fiquei completamente apaixonada pelo desenvolvimento que a autora já deu para o Kell; mesmo sendo o primeiro livro de uma trilogia, ter momentos de crescimento e de hesitação constroem muito do que é o personagem e o que ele ainda vai ser nos próximos volumes. Kell é um garoto contido, um aventureiro cauteloso e um mago astuto.
Ah, e a magia! O universo da V.E. Schwab é tão rico, tão bem pautado, com todas as explicações sendo entregues na hora certa, da maneira perfeita, que enche os olhos a cada novo capítulo. A divisão dos mundos e as diferenças entre as cidades de Londres é importante para estabelecer também a separação entre posturas dos personagens pertencentes a cada uma delas. Kell veio da Vermelha, então sempre conviveu com a magia, respeitando-a e deixando-se ser guiado por ela em equilíbrio. A Londres Branca é a violência, a opressão, é governada por um rei e uma rainha perigosos e claramente sedentos por poder - é também a divisa entre a Londres Preta e o resto dos universos, o que significa que precisou se fortificar sozinha contra um universo destruído por uma guerra interna. E a Londres Cinza, finalmente, é o mundo sem magia. Mas isso não significa que ela não exista ali.
"Desenharam-na ainda mais alta e mais magra do que realmente era; esticaram-na em um espectro, vestido de preto e assustador. Algo saído de conos de fadas. E de lendas."
Lila nasceu nessa Londres. Órfã e sozinha no mundo, ela aprendeu a sobreviver por conta própria. É uma ladra e uma assassina e uma garota extremamente perspicaz, ciente da própria força e da própria fraqueza. Lila é uma personagem carismática, quase um modelo de Han Solo - oportunista na medida certa, mas que acaba se inclinando a causas nobres quando confrontada por elas. Se esconde atrás de máscaras, sorrisos enviesados e olhares afiados, mas tem um grande coração. E é o completo oposto da ordem e justiça que o Kell carrega, caótica até o último fio de cabelo, o que torna suas interações a melhor coisa do livro.
"Kell dissera a Lila que a magia era como um sexto sentido, sobreposto à visão, ao olfato e ao paladar, e agora ela compreendia. Estava em todo lugar. Em tudo. E era maravilhoso."
A trama gira em torno principalmente desses dois personagens, mas é um universo em expansão. Um conflito resolvido neste volume abre portas para outras grandes questões a serem abordadas nos próximos; para um primeiro livro, ele termina bem fechadinho (minha ansiedade agradece), mas promete outras aventuras com o que ficou a ser resolvido.
"A magia transformava o mundo. Mudava a sua forma. Havia pontos fixos. Na maior parte do tempo, esses pontos eram lugares. Mas, às vezes, raramente, eram pessoas."
Por falar em conflitos, a questão do artefato mágico é o ponto central de toda a história. A magia corrupta ainda é magia, e é tão tentadora quanto aquela pura com a qual as pessoas convivem. É um elemento tão poderoso quanto terra, água, fogo e ar. Quanto custa a um mago ter tamanho poder, até onde esse poder pode chegar. São questões que as dimensões mágicas vivenciam, mas agora estão vendo se tornar realidade.
Um tom mais escuro de magia é o tipo de história mágica e imersiva que vai encantar todos os leitores do gênero. A narrativa é rápida, cheia de adrenalina, e as páginas passam sem que você perceba. Um livro sobre muitos universos, sobre a sede de poder e o preço da magia.
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