Ana Luiza 18/02/2014
Bem-vindos a Midkemia
Pug é órfão e cresceu pelos cantos do castelo de Crydee, uma pequena vila do Reino das Ilhas, no mundo de Midkemia. Um prestativo e humilde, mas franzino jovem, Pug tem o afeto de muitos, inclusive do Duque de Crydee e dos pais de seu melhor amigo Tomas, por quem sempre foi tratado como filho. Aos dezesseis anos todos os rapazes de Crydee passam pela Escolha, dia em que são selecionados para o aprendizado de algum ofício. Chegado o temido dia, Tomas e Pug esperam ser selecionados para Guarda do Castelo, mas apenas o nome de Tomas é chamado e Pug é o único a não ser escolhido para nada.
Entretanto, para a surpresa de todos, o mago Kulgan escolhe Pug como seu aprendiz, em parte por pena do garoto, mas também em parte por perceber certo talento que ele poderia ter na área. Nem o Mestre nem o Aprendiz sabem muito bem como se deve o ensino da magia, mas aos poucos Kulgan e Pug vão se acostumando um ao outro e começam a compartilhar conhecimento. Pug se revela um aluno muito dedicado e talentoso, apesar de que mesmo com afinco nos estudos, ele não consegue realizar nenhum feitiço.
A sorte de Pug muda quando ele é escolhido para passear a cavalo com a Princesa Carline, a jovem tempestuosa e mimada filha do Duque. O jovem Aprendiz, como muitos outros de Crydee, nutre um amor platônico pela bela Princesa, que pouca atenção dá ele. Entretanto, tudo muda quando durante o passeio a garota é atacada por trolls. Pug a salva, mas acaba colocando sua própria vida em risco. No momento de desespero ele acaba realizando um feitiço, sem ao mesmo usar um pergaminho, e matando os trolls, feito extraordinário até para o velho mago Kulgan.
Salvar a Carline traz a Pug um lugar entre a corte, além de um título de nobreza e propriedades. Mas o que mais importa para o garoto é o recente afeto que nasceu entre ele e a Princesa, o que atrai para o Aprendiz o ódio de Roland, um jovem nobre perdidamente apaixonado por Carline. O tempo passa e a maré de boa sorte de Pug, assim como a de todo o Reino, parece se extinguir. Os tempos de paz são ameaçados quando um estranho navio aparece destruído nas praias de Crydee. Pug e Tomas conseguem encontrar um tripulante vivo, que fala uma língua completamente estranha e que morre em pouco tempo.
Os garotos também encontram um pergaminho misterioso, que ao ser examinado por Kulgan, quase leva o mago para outro mundo. Tanto o navio destruído, assim como o falecido guerreiro e pergaminho parecem pertencer a uma nação chamada Tsurani, que não corresponde a nenhuma de Midkemia. As suspeitas de estarem lidando com inimigos de outro mundo leva o Duque de Crydee a buscar conselhos e apoio entre outros reinos, como os dos anões e dos elfos. Logo fica claro de que os Tsurani tem visitado Midkemia com frequência, apesar de pouco ainda se saber sobre eles. Sobre a ameaça de uma guerra, Tomas e Pug acompanham a tropa que parte de Crydee para buscar reforços. Com a promessa de batalha e muitas aventuras, os garotos adentram em um universo completamente novo, onde não há espaço para fraqueza ou covardia. Na guerra pela salvação de seu mundo, os aprendizes terão de se superar e lutar não só pelo seu lar, mas pelas próprias vidas.
“– Meu pai costumava dizer que, entre as atividades mais estranhas que o homem realiza , a guerra é sem dúvida a que vem em primeiro lugar.” Pág. 379
“Mago Aprendiz” é o primeiro volume da conhecida “Saga do Mago”, um clássico da fantasia. Tenho uma relação de amor e ódio com livros do gênero, que sempre estão mergulhados em clichês, mas também em muitas aventuras. “Mago Aprendiz” realmente possui tais características, e se me conquistou em alguns aspectos, me decepcionou em muitos outros. Tinha altas expectativas para o livro que, infelizmente, não foram nem um pouco supridas. A trama começa de maneira interessante e intrigante, mas logo se torna monótona e lenta, conquistando o leitor novamente apenas nas últimas páginas. Extremamente detalhista, a narrativa em terceira pessoa do autor chega ao ponto de cansativa com detalhes desnecessários. Feist foi bem preciso no universo que criou. Midkemia torna-se real diante os olhos do leitor, mas ao criar um mundo tão completo e complexo, o autor deixou a trama lenta e o livro cansativo. A leitura não é difícil, mas é extenuante, requer muita força de vontade para não abandonar a história no meio. Gosto de tramas bem amarradas, mas aqui tal ponto foi exagerado, onde era preciso voltar o tempo todo para reler um detalhe do início que muito influenciava no fim. E por falar nele, o final do livro foi satisfatório, mas muito corrido. Enquanto nos primeiros capítulos mal se passavam semanas, os capítulos finais abrangem anos que passam de um parágrafo para outro. O autor deixa grandes pontas soltas que supostamente deveria deixar o leitor curioso para o próximo livro, mas que não funcionaram muito bem comigo.
A extensa lista de personagens também é um ponto negativo. Todos possuem personalidade própria e papel na trama, mas são realmente tantos, que eles se misturam e não é difícil confundi-los. Tanto a sinopse quando grande parte do início do livro dá a entender que Pug é o protagonista, mas conforme encaminhamos para o final o personagem é um pouco ofuscado e Tomas é quem ganha destaque. Mesmo sendo os principais, Pug e Tomas estão sempre a parte de tudo, são apenas expectadores de uma grande história, algo que só muda do meio para o final do livro, quando Tomas começa a ser mais destacado que o Pug. Os dois heróis não negam nenhum clichê da classe, assim como os outros personagens. As incríveis surpresas boladas na trama, um ponto positivo do livro, perdem o brilho diante personagens tão óbvios. Entretanto, gostei do modo como o autor amadureceu a maioria dos personagens ao longo da obra.
É impossível não citar Tolkien quando se fala de qualquer obra de fantasia. Nunca li, mas já vi pedaços dos filmes de "O Senhor dos Anéis" e os dois filmes de "O Hobbit", obras que, confesso, não curto muito e que em muito “Mago Aprendiz” lembra. Os personagens e as histórias de gênero de fantasia não são os meus favoritos, mas o que me encanta mesmo são os universos e seres que os autores criam. Adoro histórias envolvendo magias e seres mágicos (meu sonho de consumo é ser uma elfa). Entretanto, essa minha parte favorita pouco foi explorada nesse livro. Realmente exploramos o terreno o extenso de Midkemia nas viagens dos personagens, mas a história dessa terra não é tão explorada quando seus cenários. As poucas menções a história de Midkemia são confusas e tratam mais da política e formação dos Reinos do qualquer outra coisa. Os seres e povos mágicos aqui também ficaram de lado. Temos aparições dos anões, elfos (e seus “irmãos negros”), assim como os Tsurani, e só. Senti falta de uma mitologia maior para Midkemia, assim como para os povos que ali habitam. Alguns deuses, rituais e tradições são citados pelos personagens, mas em nenhum momento vemos verdadeira dedicação para eles, o que é um pouco incoerente, afinal todas, absolutamente todas, as sociedades apresentam religiões, rituais e tradições bem definidas, até mesmo as sociedades fictícias.
“Mago Aprendiz” foi, infelizmente, uma leitura pouco proveitosa. Não cheguei a gostar do livro, mas também não cheguei a não gostar. Não gosto de dizer nunca, mas não fiquei com vontade e nem pretendo ler os próximos volumes da série. Essa é uma obra que recomendo apenas para os grandes amantes da fantasia, que não se importam com clichês e leituras maçantes.
A edição é um ponto muito positivo nesse livro. A tradução estava perfeita, não encontrei nenhum erro, e a diagramação também estava boa. O tamanho da fonte poderia ser um pouquinho maior, mas não é algo que chega a incomodar. As páginas amareladas são sempre um toque que amo. Eu amei a capa, que é divina, apesar de não achar que ela represente nenhum momento ou cenário do livro. Um detalhe digno de nota é que o livro veio com um mapa de Midkemia (imagem no início da resenha), que além de extremamente útil, é muito lindo.
“Nos corredores do poder, não existem segredos, e até os surdos ouvem.” Pág. 278
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