Otávio - @vendavaldelivros 27/10/2023
“Carl não queria só acreditar. Queria saber.”
Quando li essa frase atrelada à Carl Sagan pela primeira vez a identificação foi imediata. Acima da minha própria fé, sempre percebi um desejo constante e pulsante em saber e entender o porquê de tudo, inclusive dos episódios religiosos da minha vida. É óbvio, a maior parte dos meus questionamentos nunca foi respondida, mas talvez seja a busca o grande motor de descoberta que me mantém questionando.
Sempre serei absolutamente parcial quando falo de Carl Sagan e é até difícil não soar repetitivo quando escrevo sobre ele. Na lista de personalidades que gostaria de ter conhecido, Sagan é provavelmente a primeira pessoa. Me identifico profundamente com sua forma de enxergar o universo, a complexidade e a raridade da vida, menos talvez com seu olhar um pouco otimista sobre nossas possibilidades de futuro.
Publicado em 2006, “Variedades da experiência científica” é uma coletânea reunida por Ann Druyan, viúva de Sagan, das palestras de Sagan sobre teologia natural apresentadas na Universidade de Glasgow em 1985. Nessas palestras, com sua costumeira capacidade de encantamento ao falar, Sagan faz diversos apontamentos sobre a complexidade do Universo e sobre como uma figura divina poderia se encaixar nessa realidade.
De maneira completamente respeitosa, como tudo que sempre fez, Sagan toca em pontos importantes para a nossa própria compreensão de divindade, de eventos religiosos e da total ausência de provas sobre a existência de um deus, qualquer que seja ele. Mais do que isso, como a humanidade acabou reduzindo as possibilidades dos deuses quando os limita à nossa própria ignorância e falta de compreensão sobre o Universo.
As palestras falam também sobre as possibilidades de vida em outros planetas e galáxias e como uma possível descoberta dessas vidas impactaria a humanidade e suas crenças, mas fala também das dificuldades de encontrarmos e nos comunicarmos com essas mesmas vidas espalhadas pelo cosmo. Como tudo vindo de Sagan, mais uma obra incrível e necessária, principalmente para quem anseia saber, não só acreditar.