JPHoppe 29/08/2015
"Variedades da Experiência Científica" é o segundo livro póstumo de Sagan. A emoção já começa lendo a Introdução, escrita por sua viúva Ann Druyan, falando sobre sua vida e legado, descrevendo a sensação de novamente estar escrevendo com um dos maiores cientistas, pensadores e pessoas que a humanidade já produziu, ecoando as palavras finais de "Bilhões e Bilhões".
Trata-se de uma coletânea das palestras Gifford feitas por Sagan em 1985, com a temática da teologia natural. É muito prazeroso ver como ele vai tecendo seus ideias, ligando os fatos com uma narrativa suave e fluente, para construir aos poucos seu argumento. Muito diferente de visões recheadas de falácias como o design inteligente, princípio antrópico e as Quinque Viae de Tomás de Aquino. Aliás, parte do princípio de que a busca por "Deus" depende muito de como "Deus" é definido. Não adianta simplesmente falar "Ele existe. Deus é amor", como acontece na seção de perguntas e respostas. Afinal, "o amor é cego -> Stevie Wonder é cego -> Deus é Stevie Wonder".
Aliás, a seção de perguntas e respostas é um deleite. Por mais que um bom palestrante consiga antecipar perguntas para ter algum preparo para as respostas, não é possível antecipar de tudo, e não há notas na sua frente com tópicos e roteiro. Mas a mesma narrativa simples e direta presente nas palestras é visivelmente presente nas suas respostas.
Vale a pena ressaltar que as palestras são de 1985, mesmo ano de lançamento de "Contato". Muitas das ideias presentes no livro estão nas palestras, incluindo sobre o que veriam extraterrestres ao sintonizar nossas primeiras emissões de rádio: "Howdy Doody, Milton Berle, palestras McCarthy".
O capítulo 8, "Crimes contra a Criação", talvez seja aquele que fale com o maior público possível. Qualquer que seja seu background pra encarar o mundo, o mundo que temos é um só. É uma mensagem forte, e se for do interesse de alguém, há livros voltados somente para isso, como o "A Criação" de Edward O. Wilson.