ricardo_22 22/04/2013
Resenha para o blog Over Shock
A Caçada, Clive Cussler, tradução de Camila Fernandes, 1ª edição, Ribeirão Preto-SP: Novo Conceito, 2013, 384 páginas.
As histórias investigativas surgiram em meados do século XIX e os melhores livros do gênero são justamente aqueles que se passam entre o século XIX e meados do século seguinte. Essas histórias nunca deixaram de atrair o público, nem mesmo as contemporâneas, porém existe algo ainda mais encantador em livros que retratam uma época não tão distante, onde a inteligência era a única maneira de encontrar os culpados.
Sem toda a tecnologia encontrada em histórias mais atuais, o romance A Caçada se passa em 1906 e mostra o oeste dos Estados Unidos enfrentando uma série de assaltos a bancos que já dura dois anos. Esses assaltos foram cometidos por um único homem: o Assaltante Açougueiro, que não pensa duas vezes antes de assassinar qualquer possível testemunha presente na cena do crime. Por já não aguentar ver tantas vítimas e sem saber por onde começar a investigação, o governo norte-americano contrata a Agência de Detetives Van Dorn e entra em cena o detetive Isaac Bell.
Com sua personalidade única e colocando em prática toda a sua capacidade, Bell percorre os Estados Unidos tentando prever os movimentos de seu inimigo e chegar à cena do crime antes do que o Assaltante Açougueiro. Porém esse consegue sempre estar um passo à frente. E quando Bell parece finalmente estar próximo de alcançar o seu objetivo, precisa lutar por sua sobrevivência para não deixar que o criminoso faça mais vítimas.
“Bell sentou-se no chão e massageou a própria garganta, ofegando pelo esforço. Virou a cabeça e olhou para o corredor, vendo que homens vinham correndo para a suíte. Eles se detiveram, pasmos e chocados, à vista do mar de sangue e da montanha de homem cuja face era irreconhecível por causa da máscara de sangue coagulado. A face parecia particularmente grotesca devido aos dentes de ouro que se exibiam entre os lábios abertos, lentamente cobrindo-se de vermelho” (pág. 155).
Quando se trata de sua personalidade, o Assaltante Açougueiro talvez não seja o melhor criminoso já criado na ficção, porém o seu modus operandi é digno de um verdadeiro psicopata, principalmente se pensar que seu objetivo não é simplesmente assaltar um banco. Tudo o que motivou esse personagem a iniciar os assaltos e a prosseguir com eles nos faz questionar até que ponto esse risco era realmente necessário. E o desejo por aventura é a única resposta que encontramos.
Essa aventura era muito produtiva e bem elaborada, mas a partir do momento em que Isaac Bell passa a investigar o caso, esse cenário muda radicalmente. Bell, que tem grande influência dentro de sua agência de detetives, não demora a entender como seu inimigo escolhe em qual cidade deve colocar seu plano em prática, e quando isso acontece tem início uma caçada. Como já diz o ditado: um dia da caça e outro do caçador.
Explorando de forma completa a sociedade norte-americana no início do século passado, sobretudo a sociedade californiana, Clive Cussler consegue dar um charme a mais para a primeira aventura de Isaac Bell, que também protagonizou O Espião. Mas ao contrário do livro citado, terceiro da série que possui histórias independentes, A Caçada possui poucos termos técnicos, o que pode agradar alguns leitores que se decepcionaram com o uso disso em excesso no livro O Espião. Não que em A Caçada isso deixe de assistir, já que faz parte da característica do autor que sempre usa os meios de transporte a seu favor, mas o uso é mais moderado, enquanto a história é mais próxima da nossa realidade.
Além disso, o autor ainda mescla ficção com realidade ao colocar em cena Jack London, autor de O Chamado Selvagem, e ainda usar o cenário criado pelo terremoto que atingiu São Francisco em abril de 1906, resultando em pelo menos 3000 mortes. De extrema importância para o enredo, o terremoto peca apenas por ser usado tardiamente, quando o desfecho já precisava ser revelado. Ao mesmo tempo em que isso pode ser considerado um erro, proporciona uma caçada pelas ferrovias que cortavam os Estados Unidos e foram construídas durante a Corrida do Ouro (1848-1855), e aqui entra a importância dos trens para a história.
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