Peterson.Silva 31/08/2011
Magnífico.
Quando escrevo a resenha para O Retorno do Rei, na verdade o faço tendo em mente toda a série do Senhor dos Aneis.
É uma história brilhante, fascinante, e ao mesmo tempo calma e paciente que contrasta duramente com a maioria das histórias do nosso tempo --- sempre rápidas, frenéticas, seguindo aos pulos e à força de sobressaltos. O Senhor dos Aneis não é assim.
É fácil entender, na verdade, como existem pessoas que não se dão bem com ela, por uma miríade de razões --- que também atingem os filmes de Peter Jackson, aliás. Ainda assim, é uma narrativa muito bem construída, arquitetada em cima de um universo ficcional cuidadosamente criado. A narrativa se revela para alguns por demais arrastada; o universo, por demais complexo e abstrato para gerar interesse, especialmente no início.
Mas, para aqueles que não desistem fácil de leitura, dando sempre uma chance a mais para livros (um certo voto de confiança que deve durar mais de umas 100 páginas), ou já são acostumados a este tipo de ficção, ou gostam do gênero ou do estilo... Estes vão entrar em contato com algo único. Muito mais sério, maduro, direto, instigante (até por deixar sempre pra trás um mundo de histórias que não se ousa narrar, pois caso contrário cada livro teria mais de 700 páginas) e, por que não, ousado, livre e original que As Crônicas de Nárnia, Tolkien narra de um jeito espetacularmente sutil e artístico. É claro que um livro não pode ter, ao mesmo tempo, todas as características que alguém pode levar em conta ao julgar um livro. E O Senhor dos Aneis certamente não tem. Entretanto, tem algumas das mais interessantes, e quanto a isso mais um parágrafo pode ser dispensado.
Relutei quanto a marcar os outros dois livros como favoritos em minha estante porque, de alguma forma, eu sempre esperava mais. Li o primeiro, e ele foi suficientemente bom na sua tarefa de introduzir a história, sem desmerecê-lo como história independente das outras. No segundo vi acontecimentos mais poderosos e importantes, mas como estava às portas de acontecimentos ainda maiores, não pude deixar de esperar por algo ainda maior. Mas quanto li a maior parte do terceiro, já percebi, enfim, de que a obra deve ser considerada de forma completa. A forma como é contada provoca uma constante imersão na Terra Média; uma imersão que sentimos e que nos prende por seu ambiente, por sensações de tensão e alívio sempre suaves como os movimentos da respiração --- nunca cortantes como sustos em filmes de terror. E talvez eu esperasse justamente por isso: momentos importantes. Momentos emblemáticos. E há uma porção deles, não há dúvida; mas O Senhor dos Aneis é um conto em bloco, e a beleza está em sua integridade, em lê-lo inteiro, e compartilhar não dos ápices, nem das quedas, mas sim da construção de todo um clima de conceitos-chave desse universo paralelo: transformação, depreciação, deterioração e destino, tristeza, esperança e força para lutar por dias melhores.