Gildo 11/06/2020
Um bom filme, uma fotografia ruim
Factfulness é uma arte e uma terapia. A prática de ter um distanciamento da realidade nos aproxima dela, tornando-a mais palpável, sem cores artificiais. É uma pintura com tons mais difíceis, pastéis, menos dramáticos. Por isso, arte. E, como a inscrição de capa diz, factfulness é um hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos. Por isso, terapia.
O prestigiado pesquisador sueco Hans Rosling, falecido em 2017, nos liberta das versões dramáticas que nos cercam, sem florear ou demonizar a realidade. Aquecimento global é real, mas é preciso lidar com números estatísticos e não apenas com os cenários catastróficos, usados para tornar a questão urgente. Mulheres ganham menos e têm menos acesso à educação, mas a realidade é que a diferença para os homens é quase mínima, um ano a menos de estudo, em média. Um cidadão do Burundi em extrema pobreza tem as mesmas dificuldades que um brasileiro, mesmo com as chamadas diferenças culturais, porque em qualquer parte do mundo, as restrições são parecidas. Então, Hans nos convida a ver as semelhanças com base no rendimento, dividindo nações em níveis econômicos. E aí, o mundo fica menor e mais parecido.
As relações e cruzamento de dados mostrados em Factfulness concluem que o mundo tem um filme muito bom, em que a evolução de indicadores sociais, de saúde, de educação andaram muito bem. Mas a fotografia em muitos países ainda é ruim. Avançou-se muito em todos os sentidos, mas 800 milhões de pessoas no planeta ainda vivem no nível um, de extrema pobreza.
Com críticas sensatas à narrativa dramática promovida por muitos órgãos de comunicação, ativistas e políticos, o livro é otimista ao mostrar que a tendência para os países é, quase sempre, a de melhorar. Bom para ler em tempos de pandemia. (Apesar de um dos 'medos' do autor ser, exatamente, uma gripe global como a covid-19, que assola o mundo em 2020. Foi estranhamente premonitório.)