spoiler visualizarIasmin105 23/05/2023
O xangô de Baker Street
“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa.” – Jô Soares
O livro se inicia com a busca da corte brasileira pelo responsável em furtar o notável violino Strandivarus pertencente à íntima amiga de Dom Pedro, a baronesa de Avaré. Dada às circunstâncias e de que: o furto se estende a um homicídio particular e articulado, sobre influência de Sarah Bernhardt, atriz francesa que passava pelo Brasil para uma série de shows, o Imperador decide, então, chamar ao detetive mais famoso e implacável do mundo, Sherlock Holmes, para que o mesmo solucione o caso.
De mala e cuia, Sherlock e o doutor Watson desembarcam no cais carioca. Intrigados e fascinados, de maneira simultânea, os dois britânicos são envolvidos pela onda brasileira. Sherlock se delicia com a culinária local, esbaldando-se em feijoadas, acarajés, degustando e patenteando a nossa famosa caipirinha. Sentindo, após todo esse experimento, o que só o organismo brasileiro é capaz de aguentar. Embarcamos, junto a Holmes, em uma jornada fisiológica.
À medida que Sherlock e Watson conhecem a cultura das terras Tupiniquins, o assassino do violino opera. E de maneira sangrenta. Com uma adaga ataca as vítimas, mulheres na calada da noite, e amarra, em cada uma, as cordas destacadas do Stradivarus da baronesa.
Entre indagações e ineficiências, acompanhamos a busca pelo assassino, que após o terceiro crime, faz Sherlock exclamar: “se trata de um serial killer!”. “Sim, um assassino cereal”. E o criminoso keellogg’s não descansa. Tratando sempre de um modus operandi.
Todas as tentativas de descobertas por Holmes e Watson são imprecisas. A obra se encerra com Sherlock dizendo que de todas histórias que vivera, essa seria a única oculta, pois foi a única falha. Junto a esse fim, o leitor é surpreendido por um plot twist sobre a identidade do malfeitor, descobrindo a presença de outro ícone da cultura, agora não brasileira, dentro do livro.
“O xangô de Baker Street” é uma ode a ícones antológicos da cultura brasileira. Dom Pedro II, Chiquinha Gonzaga, o Acarajé, a Caipirinha e por último, e não menos esquecível, a impunidade. Apenas no Brasil o maior detetive do mundo poderia sair derrotado e sem respostas, e apenas no Brasil, um homem apático e cheio de inibições, poderia sair feliz e reconhecendo os prazeres da vida. Se Jô Soares pretendia criticar socialmente à pátria amada conseguiu, e se pretendia exaltar o que temos de mais belo, também.