Brandes 14/12/2022
Uma utilização desnecessária
? O XANGÔ DA BAKER STREET ?
|AUTOR| Jô Soares
|AVALIAÇÃO| 2,5?
O livro começa com a apresentação de um misterioso crime, ocorrido logo depois da chegada de uma renomada bailarina no Brasil, envolvendo jovens mortas, orelhas cortadas e um violino desaparecido.
O violino, é claro, não pode pertencer a qualquer um, ele foi dado a Maria Luísa Catarina de Albuquerque por Dom Pedro, e a revelação de um presente tão valioso à mídia apenas acalentaria as fofocas sobre a relação entre os dois.
Pensando nisso, o imperador fala com seu amigo inglês em visita ao país, Sherlock Holmes (e seu inseparável dr. Watson).
No decorrer da história, várias figuras caricatas da história brasileira, especialmente da arte, nos são apresentadas como peças da investigação: Chiquinha Ginzaga, Guimarães Passos, Coelho Neto, Paula Nei, Agostini, Aluísio Azevedo, Salomão Calif, o marquês de Salles, José do Patrocínio e Albertinho Fazélli.
Mas o que Jô Soares quis com tudo isso? Bem, na ficção histórica ele consegue retratar várias facetas da sociedade da época, trazendo a tona assuntos desde a supervalorização do estrangeiro ao cannabis, por meio de sátiras e ironias.
O livro pode ser descrito, acima de tudo, como cômico.
Porém, a participação, e quase protagonismo, de Holmes no livro foi feita de maneira errônea. Houve uma descaracterização completa do personagem, comentários e cenas ironicas sobre os vícios e o comportamento característico do personagem. O mesmo com o dr. Watson. De forma geral, pode-se tratar a escrita de "o xangô da baker street" como uma forma equivocada de uso de um personagem tão importante e querido na literatura mundial, desnecessário para a crítica que o autor pretendia fazer.
De resto, Jô fala muito bem da história do Brasil e torna envolvente e engraçada a trama que cerca aata sociedade do século XIX.
Não é um livro que eu indicaria para representar a literatura brasileira, muito menos as críticas satírica, mas fica a dica, para quem gosta do estilo.