Manu 13/08/2021
Ler Ailton Krenak é se encher de muita sabedoria ancestral. Krenak tem origem em dois termos: kre - significa cabeça e nak, significa terra. Deste modo, "Krenak é a herança que recebemos dos nossos antepassados, das nossas memórias de origem, que nos identifica como 'cabeça da terra', como uma humanidade que não consegue se conceber sem essa conexão, sem essa profunda comunhão com a terra".
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Deste significado já dá para compreender que todo o livro girará em torno da preservação, relação, comunhão da humanidade com a Terra. Ainda que, infelizmente, exista a ideia de que tem uma humanidade e uma sub-humanidades; a primeira, seria atribuída aos ditos civilizados, enquanto a segunda, seriam todos aqueles que não pertencessem ao primeiro grupo.
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O livro é composto por três palestras proferidas por Ailton em circunstâncias diferentes, mas todas, em Lisboa, que por sinal, ele inicia o texto justificando a sua decisão de atravessar o oceano atlântico para "dialogar" com aqueles que outrora invadiram as terras brasileiras impondo a chamada "civilização".
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O título do livro, a bem verdade, se trata mais de uma provocação, um chamado à reflexão do que uma definição propriamente dita. Entretanto, apesar de ter nomeado esse título, Krenak nos diz o porque devemos adiar o fim do mundo: "o tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim do mundo."
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Bom, ao contrário do que possa parecer neste trecho, Krenak não fala de uma forma romantizada. Muito pelo contrário, ele faz críticas contundentes sobre a sociedade de consumo, sobre a falta de respeito com as individualidades/subjetividades de cada pessoa, principalmente dos povos originários, os quais, são constantemente tratados como "iguais", mas são "aproximadamente 250 etnias que querem ser diferentes umas das outras no Brasil, que falam mais de 150 línguas e dialetos".
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A leitura deste livro pode ser feita em menos de duas horas, contudo, apesar de ser uma linguagem acessível, certamente você precisará de releituras para extrair todas as riquezas do texto.