Ca Melo 27/08/2020Mais uma indicação da Reese Whiterspoon que eu adoroA rede de Alice foi uma leitura que me surpreendeu e de forma muito positiva. Eu não tenho o hábito de ler livros de ficção histórica, porque apesar de gostar muito de conhecer sobre contextos passados, tenho a errônea impressão que o livro adotará o estilo de um livro didático de História. Muito pelo contrário, Kate Quinn desenvolve uma narrativa tão envolvente que é difícil interromper a leitura.
A partir de duas diferentes perspectivas e tempos cronológicos, a Primeira e a Segunda Guerras, somos envolvidos na trama de duas protagonistas mulheres e os desafios que elas vivem por pensarem diferente do que uma sociedade patriarcal espera. Mais do que isso, estamos diante de mulheres que além de não seguirem determinados padrões, também acreditam que têm condições de lutar na guerra, o que nos leva ao serviço de espionagem em que a força feminina conseguiu atuar de maneira muito perspicaz.
Quando se pensa em guerra, a maioria dos livros ficcionais se dedica em retratar algum episódio do Nazismo e as atrocidades cometidas contra os judeus, o que não é um problema. A rede de Alice se diferencia não por colocar em foco a Primeira em detrimento da Segunda, mas de apresentar ao leitor as suas consequências em diferentes países, tratando principalmente dos traumas daqueles que sobreviveram (tema este recorrente nas obras do autor italiano Primo Levi). Com uma narrativa que não gira em torno apenas das protagonistas Charlie St. Clair e Eve Gardiner, somos imersos nos mistérios acerca de outras mulheres que fizeram parte de suas vidas. No decorrer das páginas o leitor é conduzido a montar o difícil quebra-cabeça que as une, mesmo com uma lacuna de mais de 30 anos.
Alternando o foco narrativo ora sob a perspectiva em primeira pessoa de Charlie no presente (1947), ora com a perspectiva em terceira pessoa de Eve no passado (1915), os capítulos são construídos de maneira a deixar cliffhangers, finais abertos que dão ganchos a novos desdobramentos na história. E fica aqui o alerta de gatilho para aqueles que são sensíveis às cenas de violência, tortura e abusos sexual e psicológico. É importante deixar claro, mesmo que o contexto seja o de guerra e cenas como essas são comuns, infelizmente.
A rede de Alice foi um dos melhores livros que li nesse ano e o considero de extrema relevância ao retratar o papel de mulheres reais que não tiveram o devido reconhecimento. A nota da autora ao final do livro chama atenção para esse aspecto. Kate Quinn compartilha o resultado de sua pesquisa sobre o assunto e detalha quais fatos reais lhe inspiraram a construir suas personagens e acontecimentos ao longo do livro. Essa leitura também me despertou a vontade de conhecer outras histórias que abordam as mulheres em contextos de guerra, como A guerra não tem rosto de mulher, da autora Svetlana Aleksiévitch.
site:
https://abookaholicgirl.wordpress.com/2020/08/27/resenha-a-rede-de-alice-de-kate-quinn/