Isadora 09/10/2020MaravilhosoA rede de Alice foi o livro que me fez assinar a TAG. Não sei se já contei, mas tudo o que envolve as grandes guerras me fascina, e com essa história não foi diferente.
Grande parte do livro é baseado em personagens reais. Se a figura, propriamente dita não existiu, com certeza a situação em que ela foi submetida aconteceu de alguma forma e por isso a história se torna tão palpável. A gente consegue ver através da ficção todo o contexto histórico cruel que o mundo viveu.
Além disso, o livro nos faz lembrar das figuras femininas importantes durante a guerra. Figuras essas que se tornaram uma das maiores e mais eficientes redes de informações de espionagem durante a primeira guerra mundial. Composta principalmente por mulheres e dirigida por Louise de Bettignies. O livro vem em forma de memorial, pra não nos deixar esquecer dos esforços e sacrifícios que todas elas sofreram como soldadas fantasmas.
Evelyn Gardiner, uma secretária gaga queria servir ao exercito, mas devido ao seu gênero não era possível, adicionado ao fato da sua condição fonoaudiológica era quase considerada uma incapaz. Ao contrário do que o mundo acreditava, Cameron discordava. Perspicaz, observadora e quase invisível, essa mulher poderia passar despercebida em qualquer ambiente. Por isso ela foi mandada para Lille, uma cidade francesa que era dirigida por Alice Dubois, chefe de uma rede de espionagem feminina que captava informações que seriam de extrema utilidade para o futuro da primeira guerra mundial.
Mulheres fortes que precisavam passar por vários personagens a cada dia que passava, se arriscando com identidades falsas e criando situações para que fossem aceitas na passagem dos checkpoints alemães. Situações essas que incomodariam qualquer homem, desde mulheres esquecidas, desastradas com seus pacotes, ingênuas ou histéricas, quem poderia duvidar?!
O mais incrível do livro é pensar que elas foram capazes de se doarem de corpo e alma para mostrarem seus respectivos valores como mulheres. Capazes de esconderem relatórios perigosos em anáguas, grampos de cabelos e em saltos altos. Capazes de abrirem mão das suas virtudes pelo patriotismo. E ainda terem que suportar toda pressão de ser uma mulher.
Passamos por uma segunda personagem, Charlie, que apesar de não ter sido espiã, sentiu os efeitos da guerra em sua própria família. Grávida, sem saber quem é o pai, ela sai em uma jornada em busca de sua querida prima. E durante sua viagem a dúvida sobre manter uma criança sozinha ou abortar lhe assombra a cada nova página. Vemos uma menina de classe alta que poderia recuperar sua vida de forma mais tranquila após a perda de uma criança, à outras que precisaram tomar a decisão de abrir mão de uma gravidez indesejada e mesmo assim correr o risco de perder sua própria vida. A contradição do mundo social.
O livro nos trás tantas perspectivas do mundo feminino, que chega dói. Meu pressentimento não estava errado quanto ao livro!
@uma_almaliterária