Laura Brand 06/06/2019
Nostalgia Cinza
A sutil arte de ligar o f*da-se conquistou leitores do mundo todo ao propor reflexões cruas, desaforadas e intensas sobre a maneira como vivemos e como vemos a vida. F*deu Geral é o mais novo livro de Mark Manson e promete ser tão impactante quanto o livro que o consagrou. Falando sobre o sentimento que move todos os seres humanos, F*deu Geral traz reflexões filosóficas, políticas e sociais, sem deixar de lado a linguagem irônica e objetiva de Mark Manson.
F*deu Geral é um estudo sobre a natureza humana, sobre o que está por trás de nossos impulsos, pensamentos e hábitos. É uma análise mais fria e metafórica sobre a forma como lidamos com o mundo e principalmente com os nossos sentimentos e ações. Mark Manson, ao longo de todo o livro, trabalha a questão da esperança como causa e consequência de todas as nossas ações, sentimentos e pensamentos. Segundo o autor, a esperança é o que nos move e precisamos entende-la para entender a nós mesmos.
A sutil arte de ligar o f*da-se é mais um manifesto pessoal, com reflexões que podem ser aplicadas de alguma forma na vida de todas as pessoas. O primeiro livro do autor é um desabafo extremamente pessoal, um relato íntimo de alguns dos momentos mais sombrios de Mark Manson. Em A sutil arte de ligar o f*da-se, é como se Mark não tivesse tido a intensão de escrever um livro de autoajuda. Já em F*deu Geral, o autor traz um livro mais explicitamente embasado para o público. Ele aborda alguns conceitos fundamentais para o desenvolvimento social, tudo de forma fundamentada com exemplos históricos e dados estatísticos. Desde o começo o leitor tem a sensação de que realmente está lendo um livro voltado para o desenvolvimento pessoal, e não um diário reflexivo como em A sutil arte de ligar o f*da-se.
A principal característica que garantiu o sucesso do primeiro livro de Mark Manson foi a linguagem coloquial e sua forma despretensiosa de falar, com a leveza de um tapa na cara, diversos argumentos que o leitor precisa ler/ouvir. Essa característica se mantém em F*deu Geral e é uma das coisas que prende o leitor mais do que acontece com alguns livros do mesmo gênero. Outro elemento que difere os livros de Mark Manson é a abordagem escolhida para cativar o leitor e transmitir a mensagem desejada. Em determinado momento de F*deu Geral, por exemplo, o autor escreve uma carta aberta para o Cérebro Pensante, como se conversasse com uma pessoa que precisa aprender a lidar com a dualidade.
Uma parte considerável do livro aborda a questão da religião e faz um contraponto com a fé. Mark Manson traz três tipos diferentes de religião: a religião espiritual, a religião ideológica e a religião interpessoal e trabalha as três por várias páginas. Além de explicar cada uma, ele busca despedaçar cada uma para explicar como todas se baseiam na fé que temos, seja em algo espiritual, seja em alguma ideologia, seja em alguém ou em algum relacionamento, e como isso nos cega para a realidade em que vivemos e as escolhas que fazemos com base nessas percepções. Ele mostra como é fácil manipular as pessoas com um pequeno passo a passo de “como criar uma religião”, fazendo críticas à sociedade ao mesmo tempo em que tenta abrir os olhos do leitor a pequenos detalhes que constroem um enredo maior, no qual estamos inseridos.
Manson fala sobre religião, ciência, filosofia para chegar a um mesmo ponto: a esperança. Segundo o autor, é a esperança que move toda e qualquer ação, todo pensamento e escolha. É a esperança em algo, alguém, alguma coisa que nove a humanidade e que dá sentido à própria noção de humanidade. Todo o raciocínio da primeira parte do livro é construído com esse propósito, conduzir o leitor por um caminho que o faça entender a importância e o significado da esperança para o ser humano.
Diversos livros de autoajuda pregam que é preciso buscar a felicidade, que o caminho para a alegria e plenitude estão nas coisas belas, naqueles detalhes que ajudam a anestesiar a dor da existência e dão um propósito para a vida. Mark Manson foge um pouco dessa perspectiva ao enfatizar a dor e o sofrimento. Segundo o autor, o ser humano é naturalmente infeliz no sentido de nunca sentir que está tudo bem, por melhor que seja a sua vida. Mark discorre um pouco sobre os motivos para isso, mas deixa claro que é na dor que devemos focar, pois é ela que realmente aponta o que de fato é importante para nós e é o que move cada ser humano em busca de algo melhor. Ele enfatiza que é preciso sentir a dor, é preciso ter consciência de que não estamos bem.
F*deu Geral é um livro de autoajuda moderna. Esse novo “gênero” se distancia dos outros porque traz a linguagem mais crua das relações pessoais para os livros de autoajuda. Além disso, ele não mede palavras e faz uso de palavrões e expressões bem coloquiais para que o leitor sinta que está falando com um semelhante e não com um superior. Acredito que tenha sido justamente isso que fez com que A sutil arte de ligar o f*da-se tenha feito tanto sucesso e Mark Manson repete essa fórmula em F*deu Geral.
Sou uma leitora que gosta de explorar as notas de rodapé, dependendo do assunto tratado. F*deu Geral traz mais de 20 páginas de referências e algumas delas são bem interessantes, o que também é um prato cheio para quem quer saber mais e se aprofundar em alguns dos assuntos tratados ao longo do livro, seja nas estatísticas mencionadas por ele, nas curiosidades, nas histórias ou nas teorias trabalhadas ao longo dos capítulos.
É um livro bem tranquilo de ler e pode ser lido por todos os públicos. Li o livro em pouco mais de dois dias e só demorei esse tempo porque, para mim, a leitura não foi tão envolvente. A sutil arte de ligar o f*da-se me prendeu mais e me fez sentir diversas coisas enquanto lia o livro, enquanto F*deu geral foi uma leitura mais arrastada. Acredito que Manson poderia ter sido mais objetivo em determinados momentos, mas isso não tira o crédito do livro.
F*deu Geral é um livro divertido, cheio de informações válidas e com provocações interessantes. Entretanto, não é uma leitura revolucionária, nem mudou muito a forma como vejo alguns dos pontos abordados pelo autor. É um bom livro, extremamente válido para o contexto em que vivemos, mas nada muito fora do padrão. O que muda continua sendo mais a linguagem e a abordagem, e não tanto as reflexões.
Tenho achado cada vez mais interessante buscar livros de autoajuda moderna e acredito que cada leitura acrescenta algo à nossa vida. É impossível sair ileso de qualquer livro. Mesmo que F*deu Geral não entre para a minha lista de livros favoritos, acredito que é uma leitura válida e que pode, sim, ajudar a transformar a forma de pensar dos leitores. Seja sobre a vida, sobre si mesmos ou sobre o próprio gênero de autoajuda.
site: https://www.nostalgiacinza.com.br/2019/06/resenha-fdeu-geral.html