Geórgea 04/12/2018O BarqueiroDylan é uma jovem de 16 anos que mora com a mãe. Ela possui poucos amigos, não tem um relacionamento muito bom com a escola e nem pode ser considerada uma aluna brilhante, apesar das notas não serem ruins. Mais introspectiva e tímida que a maioria dos jovens da sua idade, ela mal acredita quando consegue entrar em contato com o pai, que nunca conheceu, e que foi embora quando ela era jovem. Ele manteve distância a pedido de Joan, mãe da garota.
“Ela estava exausta dos garotos imaturos fazendo piada dela, cansada das garotas metidas com seus olhares maldosos e cansada dos professores idiotas que fingiam ser surdos e cegos.”
Agora ela possui uma nova razão sorrir: está com as passagens compradas para ir até as Terras Altas da Escócia, onde, finalmente, irá conhecer o pai. A empolgação é tanta que ela mal consegue se conter. No entanto, o que era pra ser uma viagem feliz, acaba se tornando algo trágico. O trem em que ela estava sofre um acidente e Dylan acorda completamente perdida em meio aos escombros. Parece que todos os outros passageiros sumiram e ela quase acredita ser a única sobrevivente, isso até encontrar um jovem que se apresenta como Tristan.
Encontrá-lo é como tirar um peso do peito e ela rapidamente busca a sua ajuda. É então que ele passa a guiá-la por terrenos inóspitos e sem sinal de uma alma viva. Isso torna-se cada vez mais estranho para a jovem que passa a se questionar sobre o que realmente aconteceu. Mal sabe ela, que na verdade ela não sobreviveu ao desastre e Tristan a está guiando para o outro lado da terra dos mortos.
Minha Opinião
Este livro me intrigou desde o começo pelo tema original que seria explorado. Inspirado no mito grego de Caronte, o barqueiro de Hades, que carrega as almas recém chegadas na travessia pelas águas do rio Estige. Só que aqui, nosso Caronte assume a forma de um jovem com os cabelos cor de areia e olhos azuis tão frios quanto a noite. Confesso que durante a minha leitura, senti muitas semelhanças com o a saga Crepúsculo: uma jovem atrapalhada e solitária, que conhece e se apaixonada por um ser sobrenatural, em um mundo cheio de perigos onde o seu amor é proibido. Pronto, aí está a fórmula geral dessa trama. Mas, então, é apenas isso? Não, deixa eu explicar.
Dylan é uma personagem muito interessante. Não consegui formar uma opinião concreta sobre ela. Ela é a típica adolescente com problemas familiares, sem amigos na escola, totalmente envergonhada e muito atrapalhada. Entretanto, ela desabrocha quando não está mais no nosso mundo. Sentimos como se finalmente estivéssemos conhecendo a verdadeira garota que existe dentro dela. Parecia que todo esse tempo ela já guardava essa força e brilhantismo dentro de si, mas faltava um pequeno empurrão para que tudo isso fosse visualizado.
“Eles estavam deitados com os braços ao redor um do outro, as cabeças juntas em ângulo que parecia simplesmente errado. Outro salto do trem os fez despencar para a frente como bonecos, com as cabeças presas ao pescoço por linhas finas de tendões. Dylan abriu a boca para gritar enquanto o mundo era dilacerado.”
Relutamos em aceitar que ela realmente morreu. E isso não é nenhum spoiler, desde o começo temos ciência da sua condição. Por isso, é possível pensar que o livro não terá tanta graça, mas é justamente esse fator que nos interessados e curiosos. A narrativa, confesso, é um pouco lenta. Algumas passagens são tão arrastadas e repetitivas que ficamos com sono, mas o final é o ápice da narrativa e é bem quando a história termina. Ao virarmos a página encontramos aquela palavra que irrita muitos leitores: CONTINUA… Eu já quero essa continuação para ontem! Infelizmente não encontrei nenhuma notícia falando sobre a sua continuação, mas existem comentários sobre uma possível adaptação cinematográfica.
Tristan é uma figura intrigante. Diferente do Caronte esquelético e com um soturno capuz, temos um jovem belo e forte que ajuda as almas nessa difícil travessia e as protege dos piores demônios. Ele pode parecer complicado no começo, mas depois revela-se tão humano quanto nós. As descrições da “terra desolada”, que para mim seriam como um purgatório, são bem detalhas e nítidas de imaginar. Prepare-se para encontrar algo bem diferente do que você já imaginou.
“Como era possível que ali, no meio de todo aquele caos e medo, depois de perder absolutamente tudo, ela se sentisse subitamente… inteira?”
Durante toda a leitura eu me questionava: como essa história vai acabar? Eu não vejo solução para esse impasse. E, também: o que existe do “outro lado” onde as almas atravessam e que é o ponto onde o trabalho de Tristan termina? Como já vimos muitas histórias sobre o céu e o inferno, esperamos sempre algo muito original, que faça sentido e não decepcione. Se eu gostei do que encontrei? Sim. Queria saber um pouco mais? Sim, também. Espero que a autora explore isso no próximo livro, afinal, preciso de respostas.
Dois seres solitários que tiveram as vidas mudadas após se conhecerem. Uma jovem tímida e deslocada que parece ter encontrado seu verdadeiro lugar depois de morte e um ser recluso e sem esperanças que servia de guia para as almas sem nunca firmar laços com eles, mas que mudou seus conceitos e sentimentos por causa de uma humana. Um livro doce e fantástico. Uma trama que nos faz questionar o que existe do outro lado, mas que também nos leva a pensar do quanto nossas vidas são vãs. Observar uma jovem tão cheia de vida partir dessa forma, é difícil. Mas você pode descobrir que o fim pode ser um novo começo.
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